Estudo mostra que houve aumento no número de mulheres assinando pesquisas científicas no Brasil, saltando de 38% para 49%, em 20 anos. Mas, nas áreas de ciência da computação, matemática e engenharia, elas não chegam a um quarto dos cientistas atuantes no país
Em 11 de fevereiro é comemorado o Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, uma iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação, ciência e a cultura em 2015, para promover, de forma plena e igualitária, o acesso à ciência e a participação de mulheres e meninas nessa área. No Brasil, entre 2002 e 2022, a proporção de pesquisadoras que assinam publicações científicas saltou de 38% para 49%, colocando o país na terceira colocação na lista dos que têm maior participação feminina na ciência, que conta com 18 países mais a União Europeia. Os dados são do relatório da Elsevier-Bori “Em direção à equidade de gênero na pesquisa no Brasil”, que mostrou que Argentina e Portugal ocupam os primeiros lugares no ranking, ambos com 52% de mulheres como autoras dos artigos.
Ainda segundo o levantamento, o aumento da participação de mulheres na produção científica também se verificou, nas áreas chamadas de STEM (sigla para representar Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em inglês), subindo de 35% em 2020 para 45%, em 2022. Mas, de 2018 a 2022, houve três campos de pesquisa na área STEM em que as mulheres representavam apenas um quinto ou pouco mais disso, matemática (19%), ciência da computação (21%) e engenharia (24%).
Entre as áreas de pesquisa da ciência da computação, está a cibersegurança, que demanda cada vez mais pesquisadores e profissionais, devido ao aumento e à sofisticação dos ataques hackers. Foi registrado no terceiro trimestre de 2024 no Brasil, um aumento de 95% nos ciberataques, sendo contabilizadas 2.766 mil ataques semanalmente. Os dados são da Check Point Research, que mostram ainda que os números são os maiores na série histórica desde 2021.
Projeto incentiva inserção de meninas e mulheres na carreira científica
O Projeto Metis, coordenado pela cientista da computação Michele Nogueira, Ph.D. em Ciência da Computação pela Universidade de Sorbonne, professora da UFMG, que atua em pesquisas sobre o uso da Inteligência Artificial em Cibersegurança busca, reverter a ocupação majoritária de homens em carreiras de tecnologia. O objetivo do projeto, que está recebendo apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), é incentivar as mulheres a ingressarem no ramo de segurança cibernética. “Métis é a Deusa grega da proteção.
As mulheres têm preocupação intrínseca com proteção; por isso, trazem perspectivas diferenciadas e necessárias para construção de soluções de cibersegurança”, explica a cientista da computação.
O Projeto METIS tem como principais objetos a conscientização das meninas sobre a possibilidade de atuação em cibersegurança desde ensino fundamental até superior, o desenvolvimento de habilidades dessas meninas, a formação de rede de mentorias e de parcerias estratégicas para elas, a promoção da inclusão social por uma profissão altamente demandada e com remuneração diferenciada, além de influenciar na criação de políticas públicas que promovam incentivos para as meninas atuarem na área.
“O projeto visa mudar promover a inclusão e o protagonismo feminino na cibersegurança. Para isto, atua desde a base educacional até a inserção feminina no mercado de trabalho, oferecendo apoio para meninas e mulheres de diferentes faixas etárias por meio de iniciativas que vão desde oficinas e palestras para despertar o interesse pela cibersegurança em escolas, até programas de mentoria e capacitação técnica. Além disso, promove eventos e encontros para fomentar a criação de redes de apoio e compartilhar conhecimentos. Nosso objetivo é mudar a realidade que nós, cientistas em STEM (sigla do inglês para se referir às áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática), enfrentamos hoje, quando estamos em reuniões com colegas, e somos minoria sempre, às vezes uma mulher, outras duas entre tantos homens”, relata Michele.
Uma das participantes do projeto METIS é a estudante de Ciência da Computação da UFMG, Juliane Ruas, de 20 anos., que disse já ter se sentido subestimada, principalmente por ações de microagressões e comentários que sugeriam que a área não é para mulheres ou que ela não seria capaz de superar os desafios. “Essas experiências são comuns em um curso majoritariamente masculino. No entanto, esses desafios me motivam ainda mais a mostrar a importância da presença feminina na tecnologia. Nesse contexto, o projeto METIS desempenha um papel fundamental ao capacitar e atrair mais mulheres para a área, além de criar uma rede de apoio essencial, em um ambiente acolhedor”, relata ela.
Além de aumentar o número de mulheres na área, o projeto METIS busca também criar uma mudança estrutural no setor, contribuindo para a formação de um ambiente mais inclusivo e diverso. “Assim, o projeto não só fortalece a cibersegurança, mas também promove um impacto positivo na sociedade, mostrando que a inclusão é um caminho essencial para a inovação e o progresso”, concluiu a professora.
Crédito: Divulgação
Por Chris Coelho Comunicação e Assessora de Imprensa
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