Para investigadores postura do general afasta risco de acusá-lo de prevaricação
Jair Bolsonaro e o general Freire Gomes, ex-comandante do Exército — Foto: Cristiano Mariz/ Agência O Globo.
O ex-comandante do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, disse em depoimento à Polícia Federal que se opôs aos planos golpistas de Jair Bolsonaro.
O depoimento de quase oito horas ocorreu na sexta-feira (1) e está em sigilo, mas fontes a par da investigação relataram o conteúdo à equipe da coluna. O general afirmou ainda à PF que se manifestou contra qualquer ação que impedisse a posse de Lula tanto diante de Bolsonaro como no Ministério da Defesa, em discussões reservadas com generais sobre o assunto. No depoimento, o ex-comandante do Exército também forneceu detalhes da reunião em que se discutiu a minuta do golpe mencionada na delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, que firmou acordo de colaboração com a PF. O depoimento do ex-comandante ainda está mantido sob sigilo, mas a expectativa é de que o ministro Alexandre de Moraes divulgue o seu inteiro teor em breve.
Freire Gomes depôs na condição de testemunha e como ajudou no aprofundamento da apuração, integrantes da Polícia Federal avaliam que a postura colaborativa afasta o risco de o ex-comandante ser acusado de prevaricação, como querem militares bolsonaristas em retaliação ao general.
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Ele foi o último dos ex-comandantes a prestar depoimento à PF depois da operação Tempus Veritatis, que revelou uma série de evidências da participação de Jair Bolsonaro, ex-ministros e oficiais das Forças Armadas em uma tentativa de golpe de Estado.
O ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, também prestou depoimento semanas atrás, em que confirmou participação na reunião na qual foi discutida uma minuta golpista, conforme informou a colunista Bela Megale.
Diálogos captados pela PF e expostos no relatório que baseou a operação Tempus Veritatis mostram alvos como Mauro Cid e candidato a vice de Bolsonaro, general Braga Netto, atacando Freire Gomes e Baptista Júnior por não concordarem com iniciativas golpistas em discussão no entorno do então presidente da República.
Num desses diálogos, Braga Netto criticou Freire Gomes por rejeitar plano golpista e o chama de “cagão”. “Oferece a cabeça dele”, escreveu Braga Netto sobre o general, em mensagem endereçada a Ailton Barros, ex-militar que foi candidato a deputado estadual pelo PL.
Por Malu Gaspar e Rafael Moraes Moura — Rio e Brasília