COMENTÁRIO: ODONTOLOGIA ONCOLÓGICA

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Por Profº. Dr. Virgílio Galvão

O tratamento oncológico causa um impacto com repercussões físicas e psíquicas dolorosas aos pacientes e familiares, principalmente quando não diagnosticadas e tratadas precocemente.

Devido à alta demanda da rede pública, dificuldade de acesso ao diagnóstico definitivo da doença e principalmente pela dificuldade de obter atenção e assistência odontológica durante a terapia antineoplásica, a real demanda da atuação de cirurgiões-dentistas voltados para essa área de atuação se fez necessária, principalmente pela grande capacidade que a Odontologia tem de promover melhor qualidade de vida a essa população e contribuição na redução dos altos índices de internações hospitalares decorrentes de infecções bucais em paralelo ao tratamento do câncer.

Além disso, sabe-se atualmente que a atuação odontológica é fundamental para a contribuição do diagnóstico precoce de algumas doenças sistêmicas, assim como proporcionar benefícios que irão contribuir para a saúde do paciente como um todo, necessitando de um centro direcionado a pacientes com doenças graves, que permitirão toda a equipe trabalhar com o enfoque no paciente baseado nas suas condições sistêmicas.

Desta forma, a responsabilidade da “ODONTOLOGIA ONCOLÓGICA” determinará uma importante visão odontológica que promoverá o atendimento ao paciente com doenças complexas e também a possibilidade da promoção de criação de programas sociais para o atendimento desses pacientes carentes.

A proposta da Odontologia Oncológica visa dar atenção e assistência odontológica para controle de infecção aos pacientes com neoplasias malignas e/ou com outras doenças sistêmicas, como pacientes com doenças autoimunes, diabéticos, com síndromes, entre outros. Sabe-se que focos de infecção bucal podem repercutir negativamente na saúde do paciente e a atuação preventiva e curativa é extremamente relevante com obtenção de resultados muito positivos para pacientes nessas condições.

A IMPORTÂNCIA DA ODONTOLOGIA ONCOLÓGICA:

Pacientes diagnosticados por neoplasias malignas são geralmente submetidos a tratamento cirúrgico e/ou radioterápico e/ou quimioterápico. Devido à doença e outras complicações que o paciente possa apresentar, a atenção e a assistência por uma equipe multiprofissional se fazem necessárias, sendo formada por um grupo de profissionais preparados que direcionam a atuação especificamente de acordo com a necessidade do paciente, promovendo todo o suporte necessário para o tratamento e melhor qualidade de vida (VIEIRA; LOPES, 2006).

A Odontologia desempenha um papel importante como parte das equipes multiprofissionais em diferentes etapas:

  1. – Fase do diagnóstico do câncer bucal:

Na fase do diagnóstico, a realização de biópsias intrabucais pelos Cirurgiões-Dentistas é extremamente relevante, tendo em vista que realizam o exame clínico bucal com maior frequência e podem identificar lesões malignas em estágios iniciais e orientar os pacientes a iniciarem o tratamento antineoplásico rapidamente.

  1. b) Fase antes de iniciar os tratamentos antineoplásicos:

Quando o paciente já possui o diagnóstico de câncer bucal ou outra neoplasia malígna, é necessária a avaliação de todas as estruturas bucais, a fim de eliminar os focos de infecção previamente ao tratamento radioterápico e/ou quimioterápico.

  1. c) Fase durante os tratamentos antineoplásicos:

A atuação odontológica é muito importante também durante o tratamento antineoplásico, pois diversos efeitos colaterais da radioterapia e/ou quimioterapia podem influenciar negativamente na resposta sistêmica do paciente (JARONESKI, 2006). Infecções fúngicas e/ou virais e/ou bacterianas, mucosites e hipossalivação são as principais ocorrências. Quando não controladas, o paciente paralisa a alimentação e a ingestão de líquido (ANGELO; MEDEIROS; DE BIASE, 2010), torna-se debilitado e podem interromper o tratamento antineoplásico, diminuindo as chances de combater o câncer e obter melhor qualidade de vida (VOLPATO et al, 2007).

Mucosite: A mucosite ou estomatite é uma inflamação da mucosa que pode ocorrer como efeito colateral decorrente à radioterapia em região de cabeça e pescoço ou pela quimioterapia, promovendo uma úlcera, ou seja, atrofia do epitélio da mucosa com exposição do tecido conjuntivo subjacente (SONIS, 2004). Ao aparecerem úlceras bucais, torna-se uma porta de entrada para infecções oportunistas, promovendo o aumento dessas mucosites, comprometendo o quadro clínico do paciente (VOLPATO et al, 2007). Procedimentos com laserterapia de baixa intensidade contribuem para a biomodulação e processo reparativo, evitando a progressão das mucosites (LINO et al., 2011).

Infecções fúngicas, virais e bacterianas: Essas infecções desenvolvem com maior facilidade nos pacientes durante tratamento oncológico, pois além do quadro de imunossupressão, apresentam em geral redução do fluxo salivar e de sua característica de proteção (SIMÕES; CASTRO; CAZAL, 2011).

Hipossalivação: As glândulas salivares ao serem afetadas principalmente durante radioterapia comprometem a produção de saliva, ocorrendo o quadro de hipossalivação (JENSEM; PEDERSEN; REIBEL, 2003). Com isso, a mucosa perde a lubrificação e facilita traumas e instalação de infecções. Além disso, a ausência de saliva dificulta a alimentação do paciente, contribuindo para maior morbidade (PORTAS et al., 2011). Esse mecanismo de hipossalivação contribui para a predisposição ao desenvolvimento de lesões de cárie, devido à deficiência da remineralização da estrutura dental, assim como a dificuldade do controle de placa dentobacteriana (JENSEM; PEDERSEN; REIBEL, 2003; PORTAS et al., 2011).

  1. d) Fase após os tratamentos anti-neoplásicos:

Ao término da radioterapia e/ou quimioterapia, o paciente pode ter sequelas bucais que requerem atenção (HESPANHOL et al. 2010). Nos casos em que os pacientes foram monitorados na fase inicial e durante o tratamento antineoplásico, torna-se mais fácil o controle posterior das sequelas.

Aos pacientes que não tiveram assistência, muitas complicações podem se manifestar e em alguns casos há um número reduzido de procedimentos para solução, principalmente quando decorrentes de alterações irreversíveis da radioterapia.

Osteoradionecrose: Devido ao comprometimento da estrutura óssea pela radioterapia em maxila ou mandíbula, ocorre uma diminuição da vascularização do tecido ósseo. Esse fato dificulta a reparação após realização de procedimentos cirúrgicos envolvendo maxila e/ou mandíbula (MONIER et al., 2011). A deficiência de suprimento sanguíneo impede a realização do coágulo e neoformação óssea, comumente visualizado em pacientes que se submeteram a exodontias e/ou implantes dentários. Com isso, ocorre a exposição óssea na cavidade bucal, favorecendo a infecção e progressão da área de necrose (MONIER et al., 2011).

Osteonecrose por bisfosfonatos: É importante mencionar que a osteonecrose pode ainda estar associada a pacientes com história de uso de Zometa, um bisfosfonato potente que auxilia no combate a metástases ósseas (MARX, 2003). O quadro clínico é semelhante ao da osteorradionecrose, porém a necrose óssea ocorre pela dificuldade na remodelação óssea decorrente da medicação que inibe a ação dos osteoclastos, ou seja, células que contribuem na reabsorção e no remodelamento ósseo.

 

 

Redação
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