Com papéis invertidos em relação ao último duelo, há quatro anos, candidatos têm como principal desafio conquistar a fatia de eleitores indecisos e que desprezam a ambos.
Joe Biden e Donald Trump se enfrentam na noite desta quinta (27) com papéis invertidos em relação à última vez que debateram como candidatos à Presidência dos EUA: diferentemente do antecessor, o atual presidente precisa defender seu mandato e o baixo índice de aprovação, tal como fez Trump há quatro anos.
Nunca houve um debate tão prematuro em uma campanha presidencial americana. Desta vez, tem a marca de uma revanche para o republicano, que até hoje não aceita a derrota eleitoral. Ambos os candidatos ainda não foram indicados formalmente por seus partidos, porém já receberam o aval da maioria dos delegados.
https://e535710f9e3776becf9b1fcc83570611.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html Os eleitores americanos conhecem bem o histórico de Biden e Trump, que ocuparam a Casa Branca por um mandato. Além de reconectar suas bases eleitorais à campanha polarizada, o desafio neste duelo é conquistar a fatia dos indecisos, que despreza os dois.
Quem espera uma reprise do debate caótico de 2020, pode se surpreender, porque neste cenário as pesquisas nacionais revelam empate e disputa acirrada, com ligeira vantagem para o republicano nos estados decisivos.
O atual presidente se trancou, há uma semana, em Camp David com seus principais assessores para se preparar para o debate. Trump, por sua vez, demonstrou desdém por treinamentos formais. Num comício no fim de semana, na Filadélfia, questionou ironicamente os simpatizantes sobre como deveria se portar com seu adversário.
– Devo ser duro e desagradável ou ser gentil e calmo e deixá-lo falar?” Sem surpresas, a claque preferiu a primeira opção. É o que se espera dele: que Trump seja genuinamente Trump. Neste debate, porém, não haverá público, e o microfone de um candidato será desligado enquanto seu oponente fala.
O mais natural é que um irrite o outro. O democrata deve tentar se vender como um modelo de experiência e estabilidade política, reforçando a imagem do adversário como criminoso, pela condenação unânime em 34 acusações, desequilibrado e inadequado para representar os EUA.
DEBOCHES SOBRE A IDADE DE BIDEN
O republicano, por sua vez, vem potencializando os deboches sobre a idade avançada e o declínio cognitivo de Biden, a quem considera mentalmente incapaz para assumir um novo mandato. Nos últimos dias, contudo, antevendo uma mudança de comportamento em Biden, ele sugeriu a seus partidários de que o presidente subiria ao palco “aceso” e sob o efeito de drogas estimulantes.
Estrategistas, como Karl Rove, que atuou como conselheiro de George W. Bush, entre 2000 e 2007, consideram que os dois candidatos devem fazer um esforço de autoconsciência e controle de impulsos de suas vulnerabilidades, conforme o colunista do “Wall Street Journal descreveu: Biden não pode congelar, olhar fixamente ou parecer confuso; Trump não pode parecer desequilibrado ou enfurecido.
No entender do arquiteto da reeleição de Bush em 2004, Trump surpreenderia positivamente se adotasse o estilo mais comedido: “As palavras ‘eleição fraudada’ não deveriam passar por seus lábios. Ele tem que manter a calma e não pode fazer tudo por si mesmo”, ponderou.
Afinal, como bem resumiu o pesquisador Frank Luntz, ex-estrategista de campanhas republicanas, em artigo publicado no “New York Times”, não são os fatos, as políticas ou mesmo a superioridade de Biden e Trump que importam em um debate: “É como eles fazem os eleitores se sentirem”.
Por Sandra Cohen – g1
Trump e Biden — Foto: Reuters.