Após trabalho de sucesso no rubro-negro, o futebol brasileiro criou outro olhar em relação a comandantes estrangeiros e abriu caminho para chegada de portugueses
Anúncio de Jorge Jesus no Flamengo completa cinco anos neste sábado — Foto: Alexandre Vidal/Flamengo.
Há exatos cinco anos, o Flamengo anunciava a contratação de um personagem que mudou a sua história recente: Jorge Jesus era oficialmente o novo treinador e tinha o objetivo de elevar o nível do clube de maior poderio financeiro do Brasil. Além do sucesso no rubro-negro, o trabalho do português mudou a forma em que o futebol nacional olhava para técnicos estrangeiros e abriu caminho para a chegada de seus compatriotas.
A passagem de Jesus pelo futebol brasileiro foi marcante em números e desempenho. Nos 13 meses de Flamengo, o português esteve à beira de campo em 58 partidas. O aproveitamento foi de 81,6%, o melhor do futebol brasileiro desde 2003, considerando os trabalhos com pelo menos um ano de duração.
Os títulos do Campeonato Brasileiro, com recorde de pontuação, e da Libertadores, encerrando o jejum rubro-negro de 38 anos, coroaram uma equipe que encantou pelo futebol vistoso e ofensivo. Com um ótimo elenco a disposição, o português teve mais conquistas que derrotas no país: cinco contra quatro.
O legado deixado por Jorge Jesus não interferiu somente no Flamengo, mas em todo o futebol brasileiro. Sua maneira de trabalhar era normal no velho continente e algo ainda pouco conhecido no cenário nacional. Com ele, chegou uma comissão completa e já adaptada ao seu dia a dia de treinamentos. A busca incessante pela perfeição na parte tática, prioridade na Europa, também chamou atenção.
As novidades de Jesus e sua comissão, que resultaram em títulos com um futebol dominante, abriram os olhos dos profissionais do meio — no Brasil. Após sua chegada no rubro-negro, outras equipes brasileiras passaram a expandir o leque de seus treinadores, também procurando opções de fora da bolha do país.
A busca de técnicos com mentalidade europeia e que pudessem se adaptar ao futebol brasileiro cresceu muito. Com a mesma língua, os portugueses passaram a ser os mais procurados pelas equipes. Desde a chegada de Jorge Jesus no Flamengo, outros 18 compatriotas do treinador chegaram ao Brasil para ocupar o cargo.
São eles: Abel Ferreira, Ricardo Sá Pinto, João Martins, Antônio Oliveira, Bruno Lopes, Vitor Castanheira, Vitor Pereira, Luís Castro, Paulo Sousa, Pedro Caixinha, Armando Evangelista, Renato Paiva, Pepa, Bruno Lage, Ivo Vieira, Artur Jorge, Petit e Álvaro Pacheco.
Apesar dos portugueses terem chegado ao Brasil com uma mentalidade de trabalho europeu, muitos deles logo se depararam com a cultura imediatista do futebol nacional. Dos 19, apenas sete não foram demitidos de seus clubes, sendo que três deles se transferiram recentemente e outros dois optaram pela saída.
Após a saída de Jesus, que aceitou a proposta do Benfica-POR, o Flamengo tentou manter a mesma linha de busca por novos treinadores. O substituto escolhido pelo clube foi o espanhol Domènec Torrent, ex-auxiliar de Guardiola. Depois dele, ainda chegaram outros dois europeus: os portugueses Paulo Souza, em 2022, e Vitor Pereira, em 2023.
Apesar da preferência por técnicos europeus, apenas os comandantes brasileiros conseguiram ser campeões pelo rubro-negro — após a passagem de Jesus. Rogério Ceni conquistou o Brasileiro de 2020, além do Carioca e Supercopa de 2021. Já Dorival Jr, levou a Libertadores e Copa do Brasil de 2022. Duas semelhanças entre eles: os dois chegaram em meio a temporada e não duraram nem um ano no cargo.
O período de Jorge Jesus no Flamengo deixou marcas no cenário nacional, que podem ser vistas até os dias atuais. Ainda existe o debate se os treinadores de fora têm trazido ou não novidades para o Brasil. Hoje ainda não há um domínio português, mas é inegável que eles tem poder de influência no atual futebol do país.
Por André Zajdenweber