DIA DO MARICULTOR: COMO ESSA PROFISSÃO TRANSFORMOU A ECONOMIA E TORNOU SC UMA REFERÊNCIA NACIONAL

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Maricultura em Santa Catarina é a maior do país

SC conta com 356 maricultores, que geram cerca de 1.500 empregos diretos no processo produtivo – Foto: Aires Mariga.

Santa Catarina conta com 356 maricultores, que geram cerca de 1.500 empregos diretos no processo produtivo, sendo do estado 70% da produção nacional de moluscos. Os dados, do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca da Epagri (Epagri/Cedap), mostram a força e a importância do maricultor, que desde 2010, em Florianópolis, ganhou uma data para lembrar a profissão no dia 18 de agosto.

No final da década de 1980 a Epagri e a UFSC foram as responsáveis pela introdução da maricultura  em Santa Catarina. Conforme o pesquisador Epagri/Cedap, biólogo Felipe Matarazzo Suplicy, o objetivo era proporcionar uma fonte de renda complementar para pescadores artesanais.

As duas instituições seguem pesquisando e difundindo tecnologias para o setor até os dias atuais. “Passados quase 45 anos de sua introdução, a atividade está presente em 12 municípios costeiros. Isso tornou Santa Catarina uma referência nacional como maior produtor de moluscos do Brasil”, comemora o pesquisador.

Grande parte dos maricultores já são a segunda geração de fazendeiros do mar, que aprenderam o ofício com seus pais, que foram os pioneiros. Este é o caso de Leonardo Cabral Costa, 45, de Florianópolis.

PROFISSÃO HERDADA DO PAI

Leo cresceu acompanhando o pai Luiz Carlos no cultivo de  mexilhão no Bairro Santo Antônio, Norte de Florianópolis.  Seu Caio, como é conhecido na região, foi um dos pioneiros no setor em Santa Catarina e deixou o legado para o filho. O jovem maricultor ampliou a atuação na área e hoje também produz ostras e macroalgas e entrou no mercado da gastronomia e do turismo, além de contar com o próprio frigorífico.

Leo herdou a profissão de maricultor do pai, um dos pioneiros na atividade em SC – Foto: arquivo pessoal.

Para chegar nesse patamar, a primeira ação de Léo foi mecanizar todo o sistema produtivo, o que possibilitou a ele otimizar a ocupação da área de seis hectares. Atualmente a ostra é o principal produto de sua fazenda marinha. No espaço ele consegue produzir de 2 a 3 milhões de unidades de ostras para consumo no próprio restaurante e de 8 a 11 milhões de unidades para engorda em outras fazendas marinhas, para quem ele comercializa.

De acordo com Leo, o restaurante começou como uma petiscaria em 1998 para promover a ostra, já que a iguaria não fazia parte da gastronomia local . “Tivemos que ensinar as pessoas a comer ostra. Naquela época o forte era o consumo do peixe. A ostra era cortesia para que as pessoas conhececem esse fruto do mar”, conta o maricultor, que se diz realizado com a profissão.

MARICULTOR POR ESCOLHA

Já a história de Raulino de Souza Filho com a maricultura começou em 2002, quando ele tinha 32 anos. Natural de Florianópolis, Nino, como é conhecido, desenvolve a atividade no município de Palhoça, a 23 quilômetros da Capital catarinense. A casa de veraneio da família, no Bairro Praia de Fora, deu lugar à empresa que hoje é a maior produtora de mexilhão do país.

Nino se diferencia pela produção mecanizada de mexilhões – Foto: arquivo pessoal.

Quando Nino vislumbrou a possibilidade de entrar na área, procurou a Epagri para se capacitar. Iniciou com o cultivo de ostra e em 2007 migrou para o marisco, que permanece até hoje e produz de 700 a mil toneladas por ano. Há quatro anos também incluiu o cultivo de macroalga.

– Vi que esse caminho era promissor, que a atividade tinha futuro – diz ele. Ele começou a atividade por um caminho diferenciado, com o sistema produtivo todo mecanizado, o que o faz referência no estado.  “Não conseguiria chegar até aqui sem a Epagri e sem a UFSC. Hoje Santa Catarina é conhecida pela produção de ostras e marisco e eu tenho orgulho de fazer parte dessa história”, revela Nino. O termo marisco é usado no litoral catarinense para se referir ao mexilhão.

RESULTADOS AMBIENTAIS DA ATIVIDADE

Uma das referências turísticas e culturais de Florianópolis são as rotas gastronômicas que foram criadas com o objetivo valorizar o potencial turístico da Ilha de Santa Catarina e agregar valor à produção de moluscos na região, promovendo a gastronomia local. Segundo o pesquisador Suplicy, por conta desta parceria entre a maricultura e a gastronomia local, Florianópolis se tornou a primeira cidade brasileira a integrar um grupo de 69 cidades da Rede Mundial de Cidades Criativas da Unesco.

A ostra faz parte do cardápio das rotas gastronômicas de Florianópolis – Foto: Divulgação/Epagri.

Suplicy relata que a maricultura também traz resultados ambientais positivos para Santa Catarina, como a remoção de nutrientes lançados no oceano por outras atividades humanas, além das fazendas aumentarem a biodiversidade local. “O cultivo de algas e moluscos é considerado, por organizações internacionais de preservação ambiental marinha, como uma forma de aquicultura restaurativa. A aquicultura restaurativa ocorre quando a aquicultura comercial ou de subsistência fornece benefícios ecológicos diretos ao meio ambiente, com potencial para gerar resultados ambientais positivos líquidos.”

MARICULTURA EM SANTA CATARINA

Segundo dados levantados pela Epagri, a produção catarinense de moluscos na safra de 2021 foi de 11.978,2 toneladas. Estima-se que o setor envolve mais 5 mil postos de trabalho ao longo de toda a cadeia produtiva, desde a produção de equipamentos e insumos até a distribuição e venda para milhares de consumidores finais.

O mexilhão, chamado de marisco no litoral catarinense, é outra iguaria que atrai turistas para SC – Foto: Aires Mariga/Epagri

De acordo com o pesquisador Suplicy, para muitos, a maricultura soa como uma profissão glamourosa, na qual o maricultor trabalha em uma fazenda marinha em um dia ensolarado, colhendo iguarias deliciosas. “Na verdade, esses profissionais do mar são pessoas muito perseverantes e resilientes, que encaram um trabalho árduo, muitas vezes em dias de chuva e de mar bravio. Eles enfrentam muitas adversidades como o roubo de moluscos, a poluição marinha, as marés vermelhas. Aliado a tudo isso, também buscam se ajustar às várias normas que regem a ocupação do mar e a produção de alimentos”, comenta Suplicy.

Por ACOM/Epagri

 

Redação
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Portal do notícias Folha do Estado especializado em jornalismo investigativo e de denúncias, há 20 anos, ajudando a escrever a história dos catarinenses.
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