Estados Unidos sob pressão: Crise fiscal, polarização política, mudanças climáticas e corrida tecnológica aceleram o redesenho da ordem mundial, enquanto os EUA enfrentam os limites do poder global
Por José Santana – Especial para a Folha do Estado
O mundo passa por uma transformação histórica silenciosa, mas profunda. Após horas de pesquisa e de ouvir especialistas das áreas econômicas, de geopolíticas e de estratégias militares pude fazer um desenho do quadro que a economia estadunidenses caminha a passas largos, a ponto de restarem ao estado americano em uma fala desastrada nesta semana passada, recorrer e assegurar por pressão econômica de militar os países das Américas central e sul de seu “quintal”, ou seja, coução de uma suposta proteção que iria pela força.
Um conjunto de cinco forças interdependentes está moldando um novo cenário internacional: o crescimento descontrolado da dívida, o acirramento da polarização política, o declínio da hegemonia americana, o agravamento das mudanças climáticas e o avanço da inovação tecnológica com efeitos ambíguos.
“Estas cinco forças que impulsionam para essa mudança geopolítica do unilateralismo estadunidenses para reconhecer e se submeter ao multilateralismo global. isso ao longo desse período pós-Segunda Guerra Mundial. Essas forças são: há uma força de dívida-dinheiro, uma força econômica. A segunda é que há uma ordem política interna e nesse ciclo há a esquerda e a direita e quando chega ao ponto de diferenças irreconciliáveis, então há um conflito, eles está presente em todos os lugares onde existe estado organizado. A terceira é a ordem geopolítica. Em outras palavras, como funciona? Quais são as regras do mundo? Como os países interagem? E quem determina isso? Há uma mudança na ordem mundial quando potências emergentes desafiam as potências em declínio”
Esta constatação está a vista, documentada e por declaração, a saída em agosto de 2017, dos EUA do acordo de Páris, saída em janeiro de 2017 da Parceria Transpacifica (TPP) Saída em outro de 2018, do Tratado de Forças Nucleares de Alcance intermediário (INF) e a saída recente em novembro de 2020, do Tratado de Céus Abertos, da Organização Mundial da Saúde em 2020 e por fim e absurdamente, retirou-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU e da Unesco.
Os sinais estão a vista, ameaças de saídas dos seguintes acordos: de Livre-Comércio da América do Norte (NAFTA); Organização Mundial do Comércio (OMC) e Tribunal Penal Internacional (TPI) só não vê e reconhece o colapso gestores e autoridades que não possuem conhecimento, por ignorância ou por má-fé deliberada.
No centro desse furacão, estão os Estados Unidos. Principal potência do século XX, o país vive hoje um momento de inflexão — e muitos especialistas já falam em crise sistêmica. O que está em jogo é o próprio papel central dos EUA na ordem global nas próximas décadas.
Dívida em ritmo explosivo
A dívida pública americana alcançou US$ 36,2 trilhões em janeiro de 2025, o que representa 124% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Para se ter ideia da dimensão, o gasto apenas com os juros está estimado em US$ 952 bilhões este ano — mais do que o orçamento de várias agências federais somadas, segundo dados do U.S. Treasury e do Congressional Budget Office.
Este gráfico desenha evolução da dívida pública dos Estados Unidos entre 2020 e 2025, tanto em valores absolutos (trilhões de dólares) quanto como percentual do PIB.
O megainvestidor Ray Dalio, autor do livro Princípios para Lidar com a Mudança na Ordem Mundial, alerta que grandes ciclos de endividamento costumam terminar mal: “em colapsos, inflação descontrolada ou redefinição da moeda”.
Esta advertência de Senhor Ray, me chamou atenção, a uma referência, a forma pela qual o Brasil vem cuidando da sua dívida com os bancos, exemplo, os bancos brasileiros depositam suas reservas no banco central, reservas estas que são dos seus poupadores/clientes, e passam cobrar juros líquidos do Banco Central – em tese, o banco Central do Brasil teria que mudar esta política desastrosa e passar cobrar uma taxa para guardar as reservas dos bancos brasileiros no Banco Central e deixar de pagar juros de uma suposta dívida, de um dinheiro que não lhe pertencem e pertencem aos cidadãos que confiam suas carteiras nestes bancos agiotas do tesouro nacional.
Polarização sem trégua
Internamente, os EUA estão mais divididos do que nunca. Segundo pesquisa do Pew Research Center (2024), 6 em cada 10 americanos acreditam que o país vive sua maior divisão social e política. A ascensão do populismo, representado por figuras como Donald Trump, vem fragilizando as instituições democráticas e intensificando o confronto ideológico. Para o cientista político Yascha Mounk, “as democracias liberais se enfraquecem quando não conseguem atender às demandas por representatividade e justiça social”.
Pressões externas crescem
No campo da geopolítica, Washington enfrenta o desgaste do conflito na Ucrânia e o aumento das tensões comerciais com a China. Em abril de 2025, os EUA impuseram tarifas de até 145% sobre produtos chineses. Pequim respondeu à altura, taxando produtos americanos em até 125%, e ainda denunciou na OMC, informações do Escritório do Representante de Comércio dos EUA. A moeda americana também perde espaço. De acordo com o FMI, o dólar, que respondia por cerca de 70% das reservas internacionais em 2000, representa hoje menos de 40%.
Clima, pandemia e instabilidade
Eventos climáticos extremos são cada vez mais frequentes. Relatório do IPCC (2023) aponta para o aumento das secas, enchentes e incêndios em todo o mundo. A pandemia de Covid-19, por sua vez, deixou uma fatura global de US$ 12,5 trilhões entre 2020 e 2024, segundo o Banco Mundial.
A escalada tarifária entre Estados Unidos e China em 2025, além dos volumes de comércio bilateral em bens e serviços
Nos EUA, o impacto da pandemia foi agravado por medidas de estímulo fiscal que aumentaram o déficit, mas não solucionaram os desequilíbrios estruturais. O Nobel de Economia Joseph Stiglitz define com precisão: “a resposta à pandemia expôs as fragilidades de um sistema baseado no consumo, endividamento e desigualdade”.
Tecnologia acelera… e exclui
Enquanto isso, os lucros das big techs se acumulam nas mãos de poucos conglomerados, aprofundando a desigualdade socioeconômica entre países e dentro das próprias sociedades.
A revolução digital trouxe ganhos de produtividade, mas também aumentou a desigualdade. Um relatório do Fórum Econômico Mundial (2024) projeta que 85 milhões de empregos podem ser substituídos por máquinas até 2030.
O Fórum Econômico Mundial (2024) estima que até 2030 cerca de 85 milhões de postos de trabalho possam ser substituídos por tecnologias automatizadas.
Recuo estratégico?
“Recentemente vimos o governo Trump dar adeus à guerra na Ucrânia. Não fazemos mais isso porque não temos como pagar. Não dá para bancar uma guerra que o Ocidente está perdendo, como todos sabem. Esses sinais indicam o quê? Um país em apuros. Está virando as costas para os amigos? Porque pode, para se salvar. Com o colonialismo, países iam para o exterior e tomavam terras por dois motivos. Precisavam. E dois, podiam. Os EUA precisam e podem. Não podem dominar a Europa. É caro demais, difícil demais. São ricos e poderosos demais.
Endividado e sem poder para impor suas políticas hegemônicas
“E não podem controlar a Rússia. Estão aprendendo isso agora. E não podem controlar a China. Já aprenderam isso há 25 anos. Mas o que podem controlar? Podem controlar o México. Podem controlar o Canadá. Ou pelo menos tentar. Um em cada cinco dólares de comida vem de fora. Maioria do México e Canadá” disse especialista na economia e geopolitica estadunidenes
Diante de tantas pressões, os Estados Unidos parecem abandonar a ideia de hegemonia global para focar em uma influência regional mais controlada. A aposta atual é estreitar os laços com Canadá e México — fontes estratégicas de energia, comércio e segurança alimentar.
“Se não podemos dominar o mundo, talvez possamos controlar nossa vizinhança”, resume o analista político Fareed Zakaria, autor do livro Lições de um Mundo Pós-Pandemia.
Um mundo mais fragmentado
As forças que atuam simultaneamente — dívida, polarização, disputa geopolítica, emergência climática e revolução tecnológica — aceleram a transição para uma nova ordem global. A era da hegemonia absoluta dos Estados Unidos parece estar chegando ao fim.
O futuro exigirá adaptação, reformas institucionais e uma nova forma de cooperação entre as nações. A multipolaridade, ao que tudo indica, já não é uma hipótese — é a nova realidade.
Fontes: U.S. Treasury, CBO, Pew Research Center, FMI, IPCC, Banco Mundial, Fórum Econômico Mundial, obras de Ray Dalio, Joseph Stiglitz, Yascha Mounk e Fareed Zakaria.
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