
Hoje vamos mostrar a vocês um histórico sobre os primórdios da erva-mate: é uma história muito legal que vale conhecer.
A erva-mate, cujo nome científico é: Ilex paraguariensis – também chamada mate ou congonha, é uma árvore da família das aquifoliáceas, originária da região subtropical da América do Sul. Ela é consumida como chá-mate (quente ou gelado), chimarrão ou tererê no Brasil, no Paraguai, na Argentina, no Uruguai, na Bolívia e no Chile. É considerada uma árvore símbolo do Rio Grande do Sul conforme lei nº 7.439, de 8 de dezembro de 1980. Também é parte integrante dos símbolos do estado do Paraná, estando representada com um ramo da planta, na bandeira e no brasão estadual – Decreto-Lei Estadual nº 2.457, de 31 de março de 1947.
ETIMOLOGIA DA ERVA-MATE
“Mate” deriva do termo quéchua mati, que designa o recipiente onde é bebido o chimarrão. “Congonha” deriva do tupi kõ’gõi, que significa “o que mantém o ser”. O nome científico Ilex paraguariensis foi dado em 1820 pelo botânico francês, Auguste de Saint-Hilaire após ele entrar em contato com a planta pela primeira vez no Paraguai. Depois de descobrir que era na região do Paraná que a erva crescia em maior quantidade e qualidade, ele se retratou dizendo que deveria tê-la nomeado Ilex brasiliensis.
DESCRIÇÃO DA ÁRVORE
Ela pode atingir doze metros de altura. Tem caule cinza, folhas ovais e fruto pequeno e verde ou vermelho-arroxeado. As plantas só se reproduziam por meio de pássaros da região, que ingeriam o pequeno fruto e defecavam sua semente. A plântula é muito sensível ao sol, tanto que, mesmo no plantio moderno, a técnica exige sombreamento até que a planta atinja alguma maturidade.
QUANTO AO CULTIVO
Atualmente, existem viveiros que produzem mudas de variedades selecionadas, cujo plantio é feito com técnicas especiais em grandes hortos. Para facilitar a colheita anual dos ramos, a árvore é severamente podada para manter-se com não mais de três metros de altura. Dessa forma, evitam-se plantas altas que dificultem a colheita das folhas jovens, consideradas nobres na infusão do chá-mate. Outra prática bastante popular no planalto curitibano, habitat original da erva-mate, é conciliar o plantio da araucária com o da erva-mate. Técnicas como essa são comuns para um controle ambiental mais rígido e para evitar o desgaste do solo.
PROCESSO DE PRODUÇÃO

Flores e frutos de erva-mate no Jardim Botânico de San Diego, em Encinitas, na Califórnia, Estados Unidos.
Até meados do século XX, o processo de produção, no Brasil, era semelhante ao método indígena para a obtenção do produto final, sendo as etapas divididas em corte, sapeco (chamuscamento) e secagem. Quanto à secagem, existem duas formas: o carijo, que é o processo rústico utilizado pelos indígenas (a denominação foi determinada pelos guaranis, referindo-se ao “jirau” – armação de madeira semelhante a estrado ou palanque – onde se colocava a erva) utilizando uma espécie de estrado feito de varas e cipó nos quais se colocavam as folhas, as quais deveriam secar durante horas sobre um braseiro; o barbaquá, uma elaboração adaptada para uma maior produção, exigindo maiores investimentos do empresário, muito utilizado a partir do século XX. Neste processo, as folhas secavam com o calor transportado através de um túnel de alvenaria, sendo a fumaça desviada para que a mesma não deixasse gosto e cheiro na folha. Por fim, ocorre o cancheamento (picotamento) e a separação das folhas.
HISTÓRIA – DESCOBERTA E DISSEMINAÇÃO

Depósito de erva mate em plena floresta no estado do Paraná.
Os guaranis da região nordeste da Argentina parecem ter sido os descobridores do uso da erva-mate. No Século XVI, os guaranis passaram este conhecimento aos colonizadores espanhóis, que o disseminaram por todo o Vice-Reino do Rio da Prata. A erva chegou a ser proibida no sul do Brasil durante o século XVI, sendo considerada “erva do diabo” pelos padres jesuítas das reduções do Guayrá. A partir do século XVII, no entanto, os jesuítas passaram a incentivar o seu uso pelos índios com o objetivo de afastá-los das bebidas alcoólicas.
Por volta de 1690, Anton Sepp, jesuíta austríaco, ao encontrar índios na Banda dos Charruas, conta: “(…) um deles pediu apenas um pouquinho de uma erva paraguaia que não é outra coisa senão as folhas secas de determinada árvore, moídas em pó. Esse pó os índios deitam na água e dele bebem (…) “Sabe-se assim, que para além da utilização da erva-mate em folha, também existe a sua utilização em pó (resultado da moagem da folha).
Em viagem ao sul do Brasil, o viajante e médico alemão Roberto Avé-Lallemant relatou, em meados de 1858: “É o mate a saudação da chegada, o símbolo da hospitalidade, o sinal da reconciliação. Tudo o que em nossa civilização se compreende como amor, amizade, estima e sacrifício, tudo o que é elevado e bom impulso da alma humana, do coração, tudo está entretecido e entrelaçado com o ato de preparar o mate, servi-lo e tomá-lo em comum”.
CICLO DA ERVA-MATE NO BRASIL

Pés de erva-mate no Jardim Botânico de Buenos Aires, na Argentina.
No século XIX, o Paraguai se isolou dos outros países, proibindo a exportação de erva-mate para fora do país. Isto fez a Argentina e o Uruguai substituírem a erva-mate importada paraguaia pela brasileira, desenvolvendo, desta forma, o cultivo e o beneficiamento da planta em Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em meados do século XIX a erva-mate chegou a representar 85% da economia paranaense, fato importante para a emancipação do Paraná do estado de São Paulo.
PROPRIEDADES DA ERVA
Existe uma errônea afirmação de que a erva-mate possui um efeito negativo no desempenho sexual masculino: todavia, na verdade a Ilex paraguariensis possui um forte poder afrodisíaco, sendo ingerido para combater a infertilidade e a impotência.

“Sapeco (queima) da erva-mate”: pintura do século XIX de Alfredo Andersen.
Análises e estudos sobre a erva-mate têm revelado uma composição que identifica diversas propriedades benéficas ao ser humano, pois estão contidos nas folhas da erva-mate, alcalóides como (cafeína, teofilina, teobromina etc.), ácidos fólicos e cafeico (taninos), vitaminas (A, B1, B2, C, e E), sais minerais (alumínio, ferro, fósforo, cálcio, magnésio, manganês e potássio), proteínas (aminoácidos essenciais), glicídeos (frutose, glucose, sacarose etc.), lipídios (óleos essenciais e substâncias ceráceas), além de celulose, dextrina, sacarina e gomas. Portanto, ela é muito rica.
O consumo da erva-mate está relacionado também ao poder que ela tem de estimular a atividade física e mental, atuando beneficamente sobre os nervos e os músculos, combatendo a fadiga, proporcionando a sensação de saciedade, sem provocar efeitos colaterais como insônia e irritabilidade (apenas pessoas sensíveis aos estimulantes contidos na erva-mate podem sofrer algum efeito colateral). A erva também atua sobre a circulação, acelerando o ritmo cardíaco e harmonizando o funcionamento do bulbo medular. Age sobre o tubo digestivo, facilitando a digestão, sendo diurética e laxativa. É considerada, ainda, um ótimo remédio para a pele e reguladora das funções cardíacas e respiratórias, além de exercer importante papel na regeneração celular.
CARACTERÍSTICAS

Sacos e barricas, antigos recipientes para o transporte da erva-mate.
É um moderador diurético.
Estimulante das atividades físicas e mentais.
Auxiliar na regeneração celular.
Contém vitaminas – A, B1, B2, C e E.
É rica em sais minerais como cálcio, ferro, fósforo, potássio, manganês.
É vasodilatador, atua sobre a circulação acelerando o ritmo cardíaco.
Auxiliar no combate ao colesterol ruim, graças a sua ação antioxidante.
Por ser estimulante, possui poderes afrodisíacos, graças à vitamina E presente na erva-mate.
É rica em flavonóides (antioxidantes vegetais) que protegem as células e previnem o envelhecimento precoce, tendo um efeito mais duradouro pela forma especial como se toma o mate.
Previne a osteoporose, fortalecendo a estrutura óssea graças ao Cálcio e as vitaminas contidas na erva-mate.
Contribui na estabilidade dos sintomas da gota (excesso de ácido úrico no organismo).
É rico em fibras que contribuem para o bom funcionamento do intestino.
Auxiliar em dietas de emagrecimento.
Atua beneficamente sobre os nervos e músculos.
Regulador das funções cardíacas e respiratórias.
TIPOS DE ERVAS

Apesar de a erva-mate ser uma única planta, os processos de colheita, secagem e peneiramento para a obtenção do mate para consumo, diferem:
Erva-mate chimarrão: erva-mate fresca com granulometria mais fina e presença de outras partes do ramo. O padrão brasileiro define a erva-mate de chimarrão de maior qualidade como PN-1, que contém no mínimo 70% de folhas e 30% de outras partes do ramo. Esta erva é consumida principalmente no sul do Brasil, sendo rara ou nula sua presença em outros países do Cone Sul. Pode conter açúcar, apesar de que essa adição seja condenada por tradicionalistas gaúchos.
Erva-mate moída grossa: erva-mate fresca com granulometria, mais grosseira comparado a erva-mate de chimarrão tradicional. Difere levemente no sabor do chimarrão tradicional e é propensa a entupir menos o mate.
Erva-mate cancheada: erva-mate que passa por um processo grosseiro de processamento, sendo apenas seca e triturada.
Pura folha: erva-mate que é utilizada apenas a folha, fresca ou envelhecida. É amplamente consumida no Uruguai, sendo este padrão conhecido como: Mate Gaucho ou Tipo Uruguaio.
Padrão argentino: erva-mate envelhecida, com granulometria mais grosseira, contendo também partes do ramo. Notabilizada por apresentar um sabor mais forte que o chimarrão.
Erva-mate para tererê: erva-mate com granulometria mais grosseira, varia em seu envelhecimento conforme o local da produção. Também pode ser ‘jujada’ (adição de chás ou sabores de frutas) no processo de fabricação.
ERVA-MATE: LENDA CAÁ-YARÍI

Yerba Mate.
Uma tribo indígena nômade se deteve nas ladeiras das serras onde nasce o Rio Tabay. Quando retomou seu caminho, um dos membros da tribo, um índio velho e cansado pelos anos, ficou refugiado na selva, na companhia de sua filha Yaríi, que era muito bonita. Um dia, chegou ao esconderijo do velho, um homem que possuía uma pele de cor estranha e que se vestia com roupas esquisitas, a quem receberam com generosidade.
O velho ofereceu ao visitante uma carne assada de acuti, um roedor da região e um prato de tambu, que é preparado com uma larva de carne branca e abundante que os Guaranis criam nos troncos de pindó.
Conta a lenda que o visitante era um enviado do deus do bem, que quis recompensar tanta generosidade proporcionando-lhes algo que pudessem oferecer sempre aos seus visitantes e que poderia encurtar as horas de solidão às margens dos riachos onde descansavam. Para eles, fez brotar uma nova planta no meio da selva, que chamou de Yaríi, deusa que a protegia, e confiou seus cuidados a seu pai, Cáa Yaráa, ensinando-lhe a secar seus ramos ao fogo e a preparar uma iguaria que poderiam oferecer a todos os que os visitassem. Desde então, a nova planta cresce, oferecendo folhas e galhos para preparar o mate.
ENTÃO, GOSTARAM DO HISTÓRICO?
Nas nossas próximas edições dominicais vamos trazer novas histórias interessantes…
Bom dia e até lá!