Químico Marcel Fernando Michel foi entrevistado no Podcast da Folha do Estado
Por ocasião da Semana da Água, a Folha do Estado entrevistou várias personalidades relacionadas a esse setor, entre elas o químico e especialista em qualidade da água, Marcel Fernando Michel, um profundo conhecedor do conjunto de fatores relacionados com as questões da água e sua preservação.
Marcel Fernando – paranaense de União da Vitória – foi questionado pelo jornalista Elias Tenório em uma entrevista considerada como das mais importantes por trazer ao conhecimento público questões intrigantes, porém esclarecedoras, como: “a importância da preservação que todos devemos ter para com o Meio Ambiente e seu entorno”.
O químico contou que tem participado de várias palestras sobre o tema, para falar da importância que a água tem para os humanos, para os animais, para a agricultura e outros setores, assim como dos cuidados que devemos ter para com o meio ambiente. No entanto, relatou que entre os presentes nesses eventos, muitos deles ainda não se deram conta ou não tinham nenhum conhecimento sobre essas importantes questões, seus objetivos etc. Marcel fez questão de lembrar que a Semana da Água, assim como o dia D das comemorações (22/3), não é um dia para se festejar, apenas, mas para ser lembrado séria e efetivamente pelo significado que a data impõe.
NA FACULDADE
Num momento de descontração, o químico Marcel Fernando Michel relembrou seus tempos de Universidade. Disse que ao chegar à faculdade informou a um dos professores que desejava fazer um curso relacionado com as questões da água – por ser de União da Vitória, cidade cortada pelo Rio Iguaçu, que constantemente alaga quase toda a cidade, inclusive com pessoas de lá já tendo morrido de leptospirose e outras doenças causadas por águas contaminadas nas enchentes etc. Esta era sua intenção – meio desconfiado, o professor lhe perguntou por que em tempos de grandes avanços em áreas específicas e muito mais rendosas, ele desejava estudar sobre a água? E eu respondi: “quero trabalhar em algo onde eu possa estudar, pesquisar, ajudar pessoas e não apenas pensar nas questões financeiras”.
“E foi assim que tudo começou, fui pra faculdade, me especializei, fiz mestrado e, depois de 20 anos continuo nesse ramo da química como especialista em água, em meio ambiente, fluentes e adjacências, onde atuo até hoje”.
Na universidade, Michel também deu aulas em alguns cursos: Química, Física e Ciência dos Materiais – todos relacionados a essa área específica.
Lá pelas tantas, o entrevistador quis saber sobre o zum zum zum que corre à boca pequena, de que é preciso cuidar mais das águas, porque elas podem acabar e tal… Mas qual é a verdade sobre isso?
Antes de responder, Michel disse que havia participado recentemente de uma palestra para mais de 500 crianças, e que essa pergunta não foi formulada por nenhuma delas. Ele citou coisas corriqueiras como escovar os dentes, limpar calçadas, tomar banho, sempre observando um detalhe importante: “evitar o desperdício”. Para isso basta tomar pequenas medidas como deixar o chuveiro fechado enquanto se ensaboa, quando escovar os dentes também fechar a torneira, e ao lavar as calçadas, fazê-lo de forma que possa aproveitar ao máximo a água economizando-a o quanto for possível. Essas são medidas simples de serem tomadas”.
Michel ainda salientou a importância dos cuidados que devemos ter para não poluirmos o meio ambiente e evitarmos o desperdício. “Desde o início, quando Deus criou o mundo, até hoje, a quantidade de água que há na Terra é a mesma. Se o Planeta tem milhões de anos, a primeira gota que apareceu naquela época, ela tem a mesma idade e existe até hoje”.
Ele explicou que os cuidados que devemos ter com o Meio Ambiente e com o desperdício é para evitar que as águas do Planeta fiquem poluídas a ponto de se ter que trabalhar demasiadamente para purificá-la e deixá-la novamente própria para o consumo.
QUANTA ÁGUA TEM NO MUNDO?
Michel explicou que o número é até complicado de dizer de tão grande, mas para termos uma noção, estima-se que haja no planeta Terra cerca de 1.260.000.000.000.000.000.000 de litros de água – o que corresponde a 14 bilhões de quilômetros cúbicos (70% do Planeta). “E de toda essa água, menos de 3% sobre o total de 1.2 septilhão está disponível para consumo humano. Desse total, 97% estão nos mares e oceanos (água salgada) e apenas 3% é água doce. Dessa pequena porcentagem, pouco mais de 2% estão nas geleiras (em estado sólido), portanto, menos de 1% está disponível para consumo. Mas, esse 1% não é potável. Aí eu respondo a sua pergunta do início, se a água do planeta está acabando. Água Potável, sim! Para consumo das pessoas, para a fabricação de alimentos, para a indústria, para o agronegócio (hoje o agro e a indústria são os setores que mais consomem água no planeta – mais ou menos 70%). Michel lembra que foi por isso que criaram o Dia Mundial da Água, com o intuito de se cuidar desse pouco de água potável que ainda existe. Isso ocorreu através da ONU, quando fazia uma conferência aqui no Brasil, durante a ‘Eco Rio 92’, que foi presidida por um brasileiro, quando estavam reunidos aqui praticamente todos os países do planeta.
“Em 1992, o maior cartão-postal brasileiro, a cidade do Rio de Janeiro sediou a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que ficou conhecida como Eco-92 ou Rio-92. Deu-se ali, a largada para que uma conscientização ambiental e ecológica entrasse definitivamente na agenda dos cinco continentes”.
Decorria o dia 22 de março de 1992 quando o brasileiro levantou essa pauta sobre a água. Eles estavam falando sobre problemas ambientais e suas nuances e ele abordou a tese da água. Foi a partir disse que foi criado o “Dia Mundial da Água”
PAÍSES MAIS RICOS
Mas Michel foi além, ele disse que em Dubai e outras importantes cidades do mundo árabe, localizadas em países tidos como os mais ricos do mundo, não tem água. E o que eles fazem para tê-la? Tiram-na do mar, fazem a dessalinização tornando-a própria para o consumo. “Enquanto aqui pagamos R$ 5 por uma garrafa d’água, lá em Dubai ou Doha custa R$ 50”.
2024 FOCA NA ÁGUA
A ONU lançou neste ano de 2024 uma mensagem especial sobre o tema, intitulado: “Água para a Paz”.
Michel destacou que se alguém desejar saber mais sobre isso pode entrar no site da ONU e tomará conhecimento do porque dessa mensagem alusiva à água. O técnico fez também uma previsão: “Caso ocorra uma nova guerra, de grandes proporções, o foco principal vai ser a ÁGUA”. São 10 os itens da declaração a saber:
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DA ÁGUA
A ONU redigiu um documento em 22 de março de 1992 – intitulado “Declaração Universal dos Direitos da Água”. O texto merece profunda reflexão e divulgação por todos os amigos e defensores do Planeta Terra, em todos os dias.
OS 10 TÓPICOS DA DECLARAÇÃO
- A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.
- A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.
- Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.
- O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.
- A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.
- A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.
- A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.
- A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.
- A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.
- O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.
ÁGUA É PARA TODOS
Michel enfatizou a importância de se observar o conteúdo da declaração, e aplicá-la sempre que necessário. Num dos tópicos está escrito que a água deve chegar para todas as gerações, em todos os lugares, não importando a classe nem as condições econômicas ou financeiras das pessoas. “Se não houver ações regulares nesse sentido, a situação da humanidade vai se deteriorar muito antes do que se pensa”, destaca. Por isso, Michel acredita que a água que temos no planeta, se bem aproveitada, poderá melhorar não apenas o plantio, mas também a colheita terá maior produtividade e rentabilidade, assim como os demais setores funcionarão melhor onde tiver água em abundância. “No caso de um país ter mais água que outro, o direito contido na declaração faz com que quem tem mais repasse a quem não tem, simplesmente pela sobrevivência pacífica entre os povos”.
Mas a água não é um produto gratuito que você faz o que quiser. A água não é algo que você possa utilizá-la de qualquer maneira, por ela vir da natureza. Ao contrário, a água é uma cessão de nossos antepassados que vai passando de geração a geração, por isso devemos cuidar muito bem para deixá-la aos nossos sucessores. A água é um empréstimo de nossos antecessores que será devolvido aos que virão depois de nós.
RESUMO
A entrevista com Marcel Fernando Michel foi das mais interessantes, por tocar em assuntos que raramente pensamos ou falamos. Foram respostas esclarecedoras, algumas explicadas nos mínimos detalhes (como os banhos de chuveiro) etc.
A resposta mais contundente, no entanto, foi a de que a água não é um produto “finito”. A água potável, sim! Esta sim, está cada vez mais escassa, especialmente em alguns pontos do planeta onde os cuidados com a poluição, o desleixo com os mananciais, os desmatamentos desnecessários, o lixo jogado a céu aberto, a falta de cuidados com os defensivos agrícolas e outros, fazem com que a cada dia nossas águas fiquem mais contaminadas.
Mas você poderá entender melhor e conhecer mais sobre a importância da água acessando este link: https://youtube.com/live/Y5mi-3WYeN8?feature=share











