Gilberto Braga morreu na última terça-feira (26) aos 75 anos . Apesar de ter uma carreira de sucesso, tendo assinado novelas com “Vale Tudo” e “Paraíso Tropical”, o último trabalho dele não contou com esse prestígio. “Babilônia”, exibida em 2015, teve baixos índices de audiência e não agradou ao público. Em seus últimos anos, o autor teria se empenhado para superar esse fracasso, mas não conseguiu emplacar nenhuma nova obra na televisão.
João Ximenes Braga, coautor de “Babilônia”, conta que Gilberto Braga não gostaria que esse fosse seu último trabalho na televisão. Em entrevista à colunista Cristina Padiglione, da Folha de S. Paulo, ele conta que o autor apresentou ao menos três novos projetos à emissora e culpa as intervenções do canal de televisão na trama da novela pelo fracasso no último trabalho de Gilberto.
Em 2015, após voltar de férias, João conta que foi convocado a ir à casa do autor. “Fui recebido no quarto, numa cama reclinável, tipo de hospital. Ele não estava bem de saúde, mas lúcido e muito deprimido com o fracasso de ‘Babilônia’, que até hoje é o pior ibope do horário”, relembra.
“Naquele dia me disse textualmente que não queria encerrar sua carreira com um fracasso e queria voltar a trabalhar logo para recuperar seu prestígio. Pode parecer irrelevante lembrar de um fracasso neste momento em que todos os homenageiam pelos sucessos. Mas superar esse fracasso era importante para ele”, conta.
O coautor da novela culpa as intervenções feitas pela Globo pelo fiasco do folhetim, mas diz que não espera que alguém assuma a culpa pela trama não ter dado certo. Ele prefere não dar detalhes sobre o que ocorreu, pois diz ter relatado toda a situação para Mauricio Stycer, que escreve uma biografia sobre Gilberto Braga.
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“O fracasso artístico e de audiência de “Babilônia” não pode ser atribuído a Gilberto e sim à intervenção mal intencionada que destruiu completamente a espinha dorsal da novela. Não entrarei em detalhes sobre essa destruição neste texto, pois o fiz há poucas semanas num depoimento por escrito para a biografia de Gilberto que está sendo escrita por Mauricio Stycer. Naquele depoimento conto com detalhes tudo que ocorreu e espero, assim, fazer justiça para a memória dele”, diz.
João Ximenes conta que Gilberto o convocou para trabalhar em mais dois projetos, que não foram para frente. Um era uma minissérie sobre Elis Regina, que não teve andamento porque a cinebiografia da cantora estreou primeiro. O segundo foi uma novela para a faixa das 23h, que segundo ele foi adiada e cancelada “pelas mesmas forças que destruíram ‘Babilônia'”.
Gilberto Braga também teria apresentado a proposta para produzir um remake de “Feira das Vaidades” para as 18h, cancelada por conta da pandemia da Covid-19, pois a Globo teria recusado novelas de época. Após isso, a emissora teria encomendado uma trama para o horário nobre, mas o autor faleceu antes de atender o pedido.
João Ximenes Braga, que colaborou com o autor em diversos trabalhos, faz um último pedido em relação a Gilberto Braga. Ele pede que a Globo disponibilize os últimos roteiros do autor ou os capítulos originais de “Babilônia”, sem as intervenções, para o público conhecer o trabalho dele nos últimos anos. “Ele não queria, de forma alguma, encerrar sua carreira com o fracasso de ‘Babilônia’. Um fracasso que, repito e reforço, não pertencia a ele, mas ao interventor”, conclui.