De um mês para cá, o Bauru foi protagonista nas transferências no basquete masculino nacional. Desde o anúncio da parceria com a Zopone, empresa do ramo de engenharia, em julho, o time anunciou a renovação do ala/pivô Gabriel Jaú e do ala/armador Larry Taylor, o retorno dos alas Alex Garcia e Gui Deodato e as contratações do armador Alexey, do pivô Dikembe e do ala/pivô Tyrone, que é a mais recente. Para comandar o elenco reformulado, um novo técnico: Léo Figueiró.
O treinador carioca, de 45 anos, dirigiu o Botafogo nas últimas duas temporadas. Na edição 2018/2019 levou o Alvinegro, clube onde também foi jogador, à semifinal do Novo Basquete Brasil (NBB). A campanha o fez ser eleito o melhor técnico da competição e classificou o Glorioso à Liga Sul-Americana de 2019, da qual foi campeão de maneira inédita. Porém, o projeto botafoguense foi encerrado em meio à crise financeira do clube, pouco depois da edição 2019/2020 do NBB ser cancelada, devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19).
O agora comandante do Dragão, como é conhecido o time campeão do NBB em 2016/2017 e da Liga das Américas (atual Champions League, a Libertadores do basquete masculino) em 2015, está animado com o elenco montado para a próximo edição, que começa em 14 de novembro. Em entrevista à Agência Brasil, concedida após ser anunciado pelo Bauru, Figueiró abordou, também, as dificuldades da última temporada dele pelo Botafogo e ainda apostou na classificação da seleção brasileira (da qual é um dos auxiliares) aos Jogos Olímpicos de Tóquio (Japão).
Agência Brasil: Após temporadas discretas no mercado, o Bauru tem sido bastante ativo desta vez, trazendo reforços identificados com a torcida e nomes experientes. Como está a expectativa para esse trabalho?
Léo Figueiró: A expectativa é a melhor possível. Estou extremamente motivado. O Bauru é uma equipe de história gigantesca no basquete, foi campeão dos mais importantes torneios. Participando desse momento, em que estão repatriando ídolos e montando uma equipe competitiva, que eu possa contribuir com esse novo momento e que seja um momento muito feliz da cidade de Bauru (SP) em relação ao basquete.
Agência Brasil: Você chega ao Bauru para substituir o Demétrius Ferracciú, que ficou no clube por cinco temporadas e foi campeão do NBB e vice da Liga das Américas no período. Qual o tamanho da missão?
Figueiró: O Demétrius é um baita técnico, fez uma história muito bonita em Bauru. Chegar depois dele é uma responsabilidade grande. Mas estou feliz com essa oportunidade. Participar de grandes projetos, com grandes equipes, com uma perspectiva alta, é um lugar que todo técnico que estar. Sei que vem cobrança, que há uma expectativa grande, mas encaro de maneira positiva. Isso não me serve em nenhum momento como pressão, mas sim como motivação para trabalhar e que as coisas aconteçam do melhor jeito.
Agência Brasil: A temporada 2020/2021 do NBB será cerca de dois meses mais curta e sem público, devido à pandemia. Além disso, há o impacto financeiro do momento, com alguns clubes tendo mais dificuldades que outros. Nesse cenário, como você projeta a temporada como um todo e em que patamar você coloca o Bauru?
Figueiró: Acho que o elenco do Bauru foi montado de uma maneira inteligente, dentro de uma realidade do basquete e do mundo. Todos temos que ter bom senso, entender que é momento de recuperação, onde realmente as equipes tiveram um baque financeiro grande, mas acho que faz parte da vida. A gente tem que saber viver esses momentos. Isso não pode ser nenhum tipo de desculpa para nada. Pelo contrário, temos que entender que estamos fazendo parte desse momento de recuperação do esporte que a gente ama e que é a nossa vida. Então, temos que entregar tudo, para que a recuperação seja a melhor possível e possamos retomar o crescimento [da modalidade] da maneira mais rápida possível.
Agência Brasil: Até pouco tempo atrás, você integrava o projeto de basquete do Botafogo. O time, e isso foi perceptível pelas manifestações nas redes sociais, conquistou os torcedores. Apesar de ter chegado ao fim, você entende que o projeto deu certo? E você esperava, seja antes da pandemia ou durante, que a equipe fosse ser encerrada?
Figueiró: As coisas correram muito bem dentro de quadra, durante a temporada inteira, mas na última temporada, desde o início, tivemos muitos problemas de ordem financeira. Foi uma temporada extremamente conturbada e ainda está sendo, porque ainda não conseguiram finalizar os pagamentos devidos. Então, a expectativa era que tivesse muita dificuldade para manter o projeto, realmente. Esperávamos que pudesse, com o título [da Liga Sul-Americana], alavancar novas situações, novos tipos de receita, alguma coisa nesse sentido, mas acabou não ocorrendo em tempo hábil para o projeto se sustentar e a equipe dar prosseguimento.
Agência Brasil: Antes do Botafogo, você foi auxiliar do Caxias do Sul na temporada 2016/2017 do NBB. Um dos seus atletas foi o ala Cauê Borges, filho do Chuí, que é um dos grandes nomes do basquete nacional. E o Chuí, em Rio Claro (SP), foi justamente uma das pessoas que abriu as portas a você no seu início de trabalho com o basquete adulto masculino, não é?
Figueiró: Com certeza. Minha relação com o Chuí é muito boa. É um grande amigo, uma pessoa que me abriu as portas, ensinou muitas coisas e ajudou muito no início de carreira. O Cauê ter ido para lá [Caxias do Sul] foi uma coincidência da vida, realmente. Mas a afinidade com a família já existia, as coisas foram dando certo e ele pôde ser fundamental tanto no Caxias do Sul como depois no Botafogo. Foi uma peça fundamental, um homem de confiança, um garoto espetacular, um profissional tremendo. Desejo toda sorte do mundo. Lamento a gente não poder continuar junto nessa temporada, vamos ser adversários depois de três anos [Cauê deve defender o Paulistano]. Mas é um cara por quem tenho a maior estima.
Agência Brasil: Você dirigiu a seleção brasileira campeã sul-americano sub-21 e é um dos auxiliares do técnico Aleksandar Petrovic na principal desde as eliminatórias da Copa América. Como é trabalhar com ele? E você tem esse objetivo de chegar, também, ao comando da seleção principal?
Figueiró: Acho que todo técnico quer representar o país, e tenho esse privilégio na seleção de base e como assistente do Petrovic. Ele é um cara fantástico, um grande estrategista. Participar da comissão dele é motivo de orgulho. O aprendizado é diário. A troca de informações com ele gera muitas perspectivas novas. Poder representar a seleção já é fantástico. Onde será, se como técnico ou assistente, depende, é um caminho natural que a gente percorre. Onde a CBB [Confederação Brasileira de Basquete] achar que eu posso ser útil, estarei à disposição.
Agência Brasil: O Brasil disputa, em junho do ano que vem, na Croácia, uma vaga nos Jogos de Tóquio pelo pré-olímpico internacional. De zero a dez, conhecendo o grupo e o trabalho do Petrovic, quais as chances de a seleção se classificar?
Figueiró: Para mim, é dez. Estamos em igualdade de condições com todas as equipes, muito motivados, com uma geração que pode surpreender. Se pudermos contar com todos os jogadores que pretendemos convocar, a ideia é ir lá e surpreender com uma vaga olímpica.
Edição: Fábio Lisboa