Uma sinfonia que precisamos tocar juntos
Por L. Pimentel
Não sou músico. O que entendo desse assunto se resume às músicas que ouço diariamente no rádio, quando estou dirigindo ou nos meus momentos de lazer através do youtube. Porém, tenho consciência de que devemos dar mais atenção à música, principalmente porque, em especial a música brasileira, ela é por excelência democrática. Ou seja, significa dizer que há música para todos os gostos e para todas as identidades. Música não tem cor partidária.
Sendo assim, quero propor inicialmente um exercício. Que tal pensarmos a nossa cidade como uma grande partitura musical? Parece absurdo? Pois não é! Veja só, imagine as nossas ruas, nossas avenidas, as alamedas da cidade (onde elas houverem) formando uma longa pauta musical. Visualize os prédios, as casas, as igrejas, as fábricas, os shoppings, as favelas e os parques em representação às notas, arranjados neste grande pentagrama, formando uma delirante partitura musical. Cada uma dando os tons e os semitons, numa escala frenética que se sucede cotidianamente. Imaginou?
A melodia e o timbre são dados pelos habitantes. O ritmo será ditado pelo abrir e fechar dos semáforos de cada esquina. Ouça a música polifônica do amarelo piscante do semáforo, ecoando na madrugada, cantando para a cidade que aparentemente dorme.
Nós moramos numa grande orquestra! E, por mais incrível que pareça, ela reúne um conjunto de sons harmoniosos entre si. A cidade é polifônica. E essa polifonia, resultado da multiplicidade de seus músicos e da diversidade dos timbres culturais, assim como do ir e vir das ondas do mar, produz diariamente uma linda e triste, movimentada e estática, segura e perigosa sinfonia. E o mais extraordinário: todos nós somos os regentes dessa grande orquestra. Como se fosse uma escola de samba, “Somos os Mestres dessa Harmonia”. E, se isto é verdade, cabe a nós cidadãos o dever de estimular na sociedade uma combinação democrática e agradável de sons que possam comover a alma dos habitantes para ações positivas, integrativas, de respeito às diferenças. Salve as diferenças. Sempre tão democráticas!
A cidade é múltipla, reiterativa e está em constante transformação. “Itapema é povo em movimento”, mas todas as cidades brasileiras são assim, lembrando a forte expressão da década de 80 para simbolizar a riqueza da participação comunitária dos movimentos sociais na nossa capital – Florianópolis. As iniciativas coletivas e individuais que despontam cotidianamente, visando à melhoria de cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Florianópolis, além das nossas da Costa Esmeralda e Costa Verde & Mar, certamente todas elas são exemplos vibrantes de como os moradores desejam reger os tons dessas metrópoles. E decerto em diversos outros territórios e cidades espalhados por este imenso Brasil.
Então cabe a cada cidadão indiscutivelmente participar da construção de uma sinfonia que possibilite a recuperação e manutenção de lugares de convívio social em nossa sociedade, que estimulem o respeito à diversidade e multiplicidade de culturas aqui presentes. E, sobretudo, trabalharmos para que a educação do cidadão e o espírito de democracia participativa – floresça e amadureça. Que sejam elas as linhas do pentagrama nas quais estarão grafadas as notas que entoarão o aumento da qualidade de nossas vidas e o respeito ao próximo.
Afinal, todos nós queremos e precisamos participar democraticamente dessa sinfonia, compondo músicas alegres e harmoniosas, simples e fáceis de serem tocadas, cantadas, e que tragam não só o deleite para nossas almas, mas uma cultura política que estimule a participação popular visando o amadurecimento de nossa democracia.
A Democracia está presente em todas as coisas que tocamos, até mesmo nas ruas e avenidas de nossas cidades!