Sobrevivência do partido precisa de ímpeto renovador para formar nova geração.
O petista Ricardo Berzoini disse em entrevista a Jeniffer Gularte, em Brasília, nesta semana, que prevê um resultado tímido nas próximas eleições municipais. Ele diz que o governo Lula atua de maneira ‘analógica’, enquanto o tempo já está correndo há muito na era tecnológica.
Berzoini ressalta também que o PT passa por um processo de envelhecimento e tem uma crise de renovação. E que esse quadro exige uma atenção da direção do partido para fomentar a renovação, tanto no âmbito da militância quanto do ponto de vista da representação no Parlamento e da disputa por prefeituras ainda neste ano, para formar uma nova geração. O ex-ministro das Comunicações destaca que a geração que fundou o PT está com 60 anos ou mais, por isso necessita ter um ímpeto renovador.
No final de 2023, apenas para lembrar, o ex-ministro José Dirceu previu que se continuasse como estava, o PT levaria um tranco da direita já nas eleições municipais. O resultado de 2020 foi muito ruim para o PT, lembra Berzoini. Não ganhou nenhuma capital, e em São Paulo tem só quatro prefeituras. Não há uma expectativa alta no partido em relação às eleições municipais.
Sobre qual seria o melhor nome para substituir Lula no comando do PT, Berzoini riu e tascou: É difícil, mas será aquele que tiver capacidade de entusiasmar o partido e os aliados.
Quanto às perspectivas petistas favoráveis a uma postura mais combativa ao bolsonarismo, o ex-ministro acha que o tom do governo tem sido muito suave. Que é preciso rever essa postura. Tem que dialogar com o conteúdo dos temas. Mas não se pode caracterizar a direita como sendo apenas Jair Bolsonaro. Ele é um personagem. Existe ali um traço em comum que envolve pautas de costumes, algumas questões religiosas, econômicas e que unem um bloco mais à direita. O resultado da última eleição mostrou que nenhum dos pólos venceu. Por isso é preciso trabalhar com tolerância, paciência e discutir com todo mundo quais são as questões que de fato afetam a realidade do país.
Perguntado se está faltando alguém dentro do governo que exerça um antagonismo com o bolsonarismo, disse que o Dino pegou um período em que o antagonismo estava exacerbado, logo após o 8 de Janeiro. Ele desempenhou um papel importante, mas acho que não interessa para o governo apostar nesse cenário de alta temperatura. Interessa chamar atenção para os problemas do país. Disse Berzoini. Tem que fazer o debate político, mas não precisa trabalhar o acirramento. “Eu sei que no PT eu sou minoria, fui presidente do partido em minoria. Se trabalhar olhando mais para os problemas reais do povo, quem perde é quem gosta só de lacrar nas redes sociais”.
Sobre o que o governo Lula teria que fazer para construir uma base mais sólida no Congresso Nacional, para enfrentar os obstáculos, ele disse que como não tem base fixa, o governo precisará ter uma estratégia para ver quais assuntos vai priorizar. Temas de comportamento e identitários serão cada vez mais difíceis de votar.
Outra resposta do ex-ministro foi quanto as pesquisas apontarem queda na aprovação do governo. Ele disse que quem não conseguir ter uma estratégia eficaz em redes sociais, vai ter essa dificuldade na política, sempre. Mas salienta que tem que saber fazer, que não adianta só quantidade. As pesquisas mostram que não está havendo reconhecimento. Então temos que buscá-lo, porque temos convicção de que estamos fazendo certo. A cabeça da maior parte do governo é analógica. O governo precisa esmiuçar cientificamente onde não está bom e testar novas alternativas. Não é um problema só do ministro Paulo Pimenta – que comandava a Secom – mas de todos os componentes do governo.
Sobre as derrotas em série no congresso na semana passada, Berzoini falou que a articulação política é uma tarefa de governo, que precisa mediar o programa e combinar o jogo com os partidos e líderes que têm ministérios. Tem que insistir e tentar construir o compromisso de garantir a governabilidade com a pauta mitigada. “Meus companheiros que são do PT, PCdoB ou do PSOL, e que acham que o governo tem a capacidade de colocar uma pauta de esquerda, têm que se convencer que, para isso, a próxima eleição precisa eleger um Parlamento de esquerda. Em alguns temas do campo de costumes, é preciso reconhecer que não há uma maioria no Congresso. Você não abre mão da opinião, mas sabe que precisa escolher algumas pautas”, ponderou.
Quanto à Reforma Ministerial, disse que ela pode ajudar aqui e ali, se tem dissonância em algum ministério com uma parte da base. Mas trocar por trocar, não quer dizer que isso vai resolver. Não é bom. Agora, é uma circunstância que pode ser superada. “O presidente da Câmara (Arthur Lira) tenta repetir que o que está andando mal é por responsabilidade da articulação política. Ele não está certo. Está tentando criar uma imagem que facilita o diálogo dele direto com o Lula ou com o Rui Costa (Casa Civil). De certa forma, o Eduardo Cunha fez a mesma coisa lá atrás, de não conversar determinados temas com o ministro” lembrou.