O SERTÃO EXPLORADO – CONHECENDO A HISTÓRIA CATARINENSE

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Um histórico sobre como começou a Guerra do Contestado

Museu do Contestado na cidade de Caçador no meio oeste catarinense.

Como frisado no último final de semana, sobre o histórico do estado de Santa Catarina, contaremos hoje um pouco da história que acabou gerando a “Guerra do Contestado”. A Serraria Lumber transformou em madeira milhões de pinheiros (araucárias) da Região do Contestado, mudando as relações sociais e econômicas da região litigiosa.

Já no fim do Império, o menino Teixeira Soares, engenheiro que havia encaminhado e dirigido toda a construção da ferrovia Curitiba/Paranaguá, obteve concessão para implantar uma estrada de ferro entre as cidades de Itararé (SP) e Santa Maria (RS), cortando o Paraná e o Contestado. Ainda de quebra, Soares ganhou terras devolutas numa faixa de 30 quilômetros de cada lado do eixo da referida ferrovia. Mais tarde, a República renovou a concessão, no entanto reduziu a faixa de terras para apenas 15 km de cada lado. Nascia então a “Chemins de Fer Sud Quest Brèsilien”, que mais tarde viria se chamar “Estrada de Ferro São Paulo/Rio Grande”, de capital belga e francês.

Ponte de Marcelino Ramos sob o Rio Uruguai, ligando Santa Catarina ao Rio Grande do Sul – Construída em 1910.

O trecho de 372 km entre União da Vitória (PR) e Marcelino Ramos (RS), cortando todo o Contestado, começou a ser construído em 1907, um ano antes de a empresa passar para o controle do capitalista norte-americano, Percival Farquhar (tema, inclusive, de uma minissérie da TV Globo), sob a denominação de “Brazil Reilway Company”.

Disposta a concluir a ferrovia em dois anos, e autorizada a construir um ramal ferroviário entre União da Vitória (PR) e São Francisco do Sul (SC), a Brazil Reilway contratou perto de 8 (oito) mil trabalhadores, muitos deles fugitivos da justiça, ex-presidiários e aventureiros. Também criou um corpo de segurança composto por 80 homens para manter a ordem entre os operários (ao estilo do faroeste americano). Entregue a estrada dentro do prazo estipulado (1910), os trabalhadores foram largados à própria sorte no sertão ao longo do vale do Rio do Peixe (paralelo à ferrovia), provocando um grande problema social.

Dona da faixa de terras ao lado da ferrovia, a Brazil Reilway Company montou, em 1911, uma subsidiária, a Southern Brazil Lumber and Colonization Company, para explorar 220 mil hectares de matas ao sul do Rio Iguaçu – entre as espécies exploradas: pinheiros, imbuias e cedros.

Foram instaladas para isso, duas serrarias, uma no município de Calmon e outra em Três Barras – esta última a maior da América do Sul – dentro da área disputada por Paraná e Santa Catarina. A Lumber (Serraria em inglês) também montou um corpo de segurança de 200 homens, mas, para expulsar da terra, de forma violenta, os caboclos e posseiros que há muito tempo estavam na região, bem ao estilo do oeste americano – como mostraram vários filmes de faroeste.

Contam os historiadores que os sertanejos foram sumariamente espoliados de suas propriedades, não apenas pela milícia da madeireira americana, mas também pela polícia e pelos vaqueanos (capangas contratados pelos coronéis do Contestado). Com isso houve ainda mais agravamento nas questões sociais.

Muito embora se autodenominasse “colonizadora”, a Lumber nunca se dedicou a essa atividade. Apenas se preocupou em devastar a floresta, explorando de maneira predatória a madeira a e erva-mate. A Lumber transformou a mata em ouro, escoando a madeira pelos trilhos da Brazil Reilway Company até os portos de São Francisco e Paranaguá. Em seus 40 anos de atuação, a companhia derrubou mais de 15 milhões de pinheiros na região.

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Este é um pouco da história do Contestado que, como a Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul, foi um divisor de águas para a configuração da região sul do Brasil.

L. Pimentel – Jornalista

 

 

 

 

Redação
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Portal do notícias Folha do Estado especializado em jornalismo investigativo e de denúncias, há 20 anos, ajudando a escrever a história dos catarinenses.
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