Na Odontologia isso não é diferente
Ângela Catarina Maragno – Especialista em Imaginologia Odontológica – UFSC. Foto Divulgação.
A tecnologia chegou e tem transformado nosso dia a dia. Sim, na odontologia não poderia ser diferente. Novos recursos em equipamentos e técnicasclínicas têm garantido confiabilidade e previsibilidade aos tratamentos odontológicos. E aí muitos podem se perguntar: será que tudo isso é para mim? Ainda que as novas gerações tenham, indiscutivelmente, mais familiaridade com as tecnologias, não se pode negar que esses recursos vão facilitar a vida de toda população, então já respondendo à pergunta, sim, isso tudo é para você.
Um exemplo que revolucionou a odontologia é a Tomografia Computadorizada de Feixe Cônico, que já não é mais tão novidade, ou seja, já faz parte do dia a dia de muitos profissionais e pacientes. Esta modalidade de exame trouxe a possibilidade da avaliação tridimensional de estruturas que são extremamente complexas. Além de permitir mensurações em tamanho real e sem sobreposições.
Quando pensamos em tratamentos que exigem um planejamento minucioso, uma reabilitação por implantes dentários, por exemplo, o exame tomográfico torna-se imprescindível. Nesses casos, sabe-se que em exames convencionais, que são bidimensionais, apenas a altura óssea é determinada e não há percepção da profundidade, que seria a espessura óssea, fundamental para acomodar todo o diâmetro do pino de implante. Portanto, o uso de radiografias panorâmicas e periapicais (A palavra periapical é um termo médico que representa a zona à volta da raiz de um dente) para esse fim, elevando o risco de falha do tratamento. Além disso, a presença de estruturas anatômicas deve ser identificada e localizada de forma precisa no paciente, evitando complicações por injúrias que resultam em dor, parestesia, hemorragias, comunicações buco-sinusais, dentre outras. Portanto, não é difícil entender que a tomografia computadorizada de feixe cônico é considerada o exame padrão ouro para esses procedimentos.
Mas não só as cirurgias para instalação de implantes dentários exigem esse cuidado. A determinação exata da localização de dentes inclusos, patologias, dentes supranumerários ou até corpos estranhos, garantem um transoperatório mais assertivo e comprovadamente reduzem as complicações pós-operatórias. Ademais, conhecer o tamanho exato das lesões e a distância real entre as estruturas são vantagens indiscutíveis para um planejamento completo, isso tudo é mais segurança para pacientes e profissionais.
A tomografia computadorizada de feixe cônico tem ganhado cada vez mais espaço na endodontia também. Situações antes inimagináveis hoje são facilmente diagnosticadas e, portanto, planejamentos mais precisos têm elevado o índice de sucesso terapêutico. Sabemos da grande variabilidade da anatomia interna dos elementos dentais, resultando em inúmeras possíveis tramas de canais radiculares, além da dificuldade em observar mineralizações intrapulpares, trincas, reabsorções e até periapicopatias inflamatórias que acabam mascaradas em imagens bidimensionais devido à sobreposição de outras estruturas. Obstáculos hoje transpostos pelo exame tridimensional. A qualidade de imagem dos equipamentos atuais também influencia nesse arremate.
O exame tomográfico é ainda necessário para confecção de guias, os quais têm sido amplamente usados para melhor planejamento de posição, inclinação e calibre de instrumentos utilizados em cirurgias, tratamentos endodônticos e até procedimentos estéticos periodontais, garantindo ainda mais previsibilidade e, portanto, resultados mais fiéis. Os guias são aparelhos que trazem marcações indicando onde exatamente o profissional deve realizar determinado procedimento, visando o melhor desfecho. Mais um recurso da era tecnológica que veio para ficar.
A dose de radiação utilizada na tomografia computadorizada de feixe cônico está entre as dúvidas mais frequentes dos pacientes, gerando insegurança em relação ao exame. É inegável que toda onda eletromagnética, inclusive as utilizadas em exames radiográficos, possui capacidade de ionização. No entanto, os exames odontológicos são realizados com doses baixas e seguras, com o benefício claramente superando o risco. Além disso, são sempre observados cuidados adicionais, como uso de colete pumblífero, minimizando ainda mais os efeitos deletérios.
O exame tomográfico já foi considerado de alto custo. Se comparado ao valor de uma radiografia panorâmica ou periapical, de fato exige maior investimento. Mas se pensarmos no valor dos equipamentos, custos profissionais que inclui aquisição da imagem, preparo do relatório e laudo, além da importância do exame para a segurança do paciente e do clínico, facilmente percebe-se que o custo do exame não é elevado.
Atualmente, observa-se uma crescente aceitação do exame tomográfico por parte de pacientes e profissionais da odontologia. Diante de tantas vantagens, uma delas se destaca: a previsibilidade dos tratamentos. Quem não quer ou gostaria de saber antecipadamente as possíveis complicações, a fim de preveni-las ou se preparar para situações inevitáveis? Se você é cirurgião-dentista e ainda não está habituado com essa modalidade de exame, ainda há tempo de buscar informações e começar a explorar tudo o que a tomografia pode agregar à sua prática clínica. Certamente é um caminho sem volta e você e seus pacientes não podem ficar de fora.
Ângela Catarina Maragno – Especialista em Imaginologia Odontológica – UFSC. Mestre em Radiologia Odontológica – SL Mandic/Campinas. Radiologista responsável e socia proprietária da Santa Rita Radiologia Odontológica, desde 2006. Docente do curso de odontologia – Departamento de diagnostico oral – UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense.
Por Virgílio Galvão – Colunista