Por L. Pimentel
A confusão começou pouco antes do meio-dia de quarta-feira, quando o Conselho de Ética, que deveria zelar pelo decoro na Câmara, virou palco de insultos e agressões entre deputados. “Você quer testosterona? Vamos lá fora para eu te dar”, desafiou o lulista André Janones. “Bate aqui em mim”, devolveu o bolsonarista Nikolas Ferreira.
Os dois ensaiaram um confronto físico, mas se deixaram separar por seus assessores e pelos seguranças. A Polícia Legislativa escoltou Janones para fora da sala, o que arrastou o tumulto para o corredor. “Ladrão! Vagabundo!”, berrava o deputado Zé Trovão, chapéu de boiadeiro na cabeça e celular na mão. Preso há três anos por incitar a violência contra o Supremo, depois fugiu para o México, ele agora dispõe de gabinete e imunidade para radicalizar. É mais um catarinense daqueles Sem Noção!
Como atores de telecatch, os deputados encenavam fúria e indignação para as câmeras. São atores de uma nova forma de política, que semeia a baixaria para obter curtidas, joínhas e compartilhamentos nas redes. No meio da tarde, a Câmara foi tomada por um rebuliço mais discreto. Os governistas foram surpreendidos por uma nova “jogada” de Arthur Lira que desenterrou um antigo PL na tentativa de salvar a pele de Jair Bolsonaro. Um Projeto de 2016, apresentado pelo petista Wadih Damous, que à época da apresentação não foi em frente justamente por contrariar os direitistas que foram contrários à sua tramitação.
Numa armação de bastidor, o chefão da Câmara ressuscitou esse projeto, apresentado por um ex-deputado para invalidar delações feitas na cadeia. Ao redigir o texto, no auge da Operação Lava-Jato, Wadih Damous tinha a intenção de proteger o à época ex-presidente Lula. Oito anos depois, a proposta se revela útil para a defesa do capitão. E Lira não teve dúvidas, pressionado por políticos alagoanos – que explicarei em outra oportunidade – ele desenterra o morto e se coloca ao lado dos extremistas, sem se preocupar com as consequências.
Aliados de Lira subscreveram um requerimento de urgência para votar o projeto em velocidade relâmpago, com urgência urgentíssima, na vã tentativa de tentar salvar o inelegível. O plano é anular a delação do tenente-coronel Mauro Cid, que entregou a participação de Bolsonaro na tentativa de golpe e no desvio das jóias sauditas.
À noite, as duas tramas se cruzaram. Hostilizada pela tropa bolsonarista na Comissão de Direitos Humanos, a deputada Luiza Erundina, de 89 anos, passa mal e é internada. A comoção e os protestos contra a violência política forçaram a suspensão dos trabalhos na Casa. Esse incidente impediu que a manobra bolada por Lira virasse fato consumado. E vejam que ironia: “Do leito do hospital, Erundina fez mais pela imagem da Câmara que os líderes e agitadores em plenário”.
Este é o nosso Brasil Varonil, que dá dois passos pra frente, três pra trás… Já vimos esse filme quando Eduardo Cunha possibilitou que a Câmara discutisse o impeachment de Dilma Rousseff, ejetando-a do poder. Enquanto existirem esses políticos bipolares nosso país arcará com as conseqüências!
God save to Brazil!