Operação Vigilância Aproximada cumpre 21 mandados de busca e apreensão
A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta quinta-feira (25) a Operação Vigilância Aproximada para investigar organização criminosa que se instalou na Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os investigados, segundo a corporação, monitoravam ilegalmente autoridades públicas e outras pessoas, utilizando-se de ferramentas de geolocalização de dispositivos móveis sem autorização judicial.
Em nota, a PF informou que cumpre 21 mandados de busca e apreensão, além de medidas cautelares que incluem a suspensão imediata do exercício das funções públicas de sete policiais federais. Ao todo, 18 diligências de busca e apreensão estão sendo cumpridas em Brasília, uma em Juiz de Fora (MG), uma em São João Del Rei (MG) e uma no Rio de Janeiro.
A operação é uma continuação das investigações da Operação Última Milha, deflagrada em outubro do ano passado. As provas obtidas pela corporação à época indicam que o grupo criou uma estrutura paralela na Abin e utilizou ferramentas do Estado para produzir informações para uso político e midiático, “para a obtenção de proveitos pessoais e até mesmo para interferir em investigações da Polícia Federal”.
Ainda de acordo com a PF, os investigados podem responder pelos crimes de invasão de dispositivo informático alheio, organização criminosa e interceptação de comunicações telefônicas, de informática ou telemática sem autorização judicial ou com objetivos não autorizados em lei.
Chefe da PF diz que espionagem ilegal da Abin atingiu 30 mil pessoas e dados foram guardados em Israel
“Corporação investiga monitoramento ilegal por parte da Agência Brasileira de Inteligência durante o governo Bolsonaro. Ex-comandante do órgão, deputado federal Alexandre Ramagem – próximo da família do ex-presidente – é alvo de buscas nesta quinta-feira (25). Suspeita é que Abin tenha monitorado aproximadamente 30 mil pessoas”.
A Polícia Federal estima que 30 mil cidadãos brasileiros tenham sido monitorados de forma ilegal pela Agência Brasileira de Informações (Abin) durante o governo Jair Bolsonaro (PL), segundo o diretor-geral da PF, Andrei Passos.
Nesta quinta-feira (25), a PF faz buscas contra o ex-diretor-geral da Abin, deputado federal Alexandre Ramagem (PL) – um amigo próximo da família Bolsonaro – e contra outros servidores da agência suspeitos de envolvimento com a espionagem ilegal. Ramagem não se manifestou até a publicação deste post. Segundo as investigações, o monitoramento era feito com o software israelense FirstMile – e, por conta disso, os dados eram armazenados fora do país.
– A investigação tem apurado que de fato houve durante um período o monitoramento de muitas pessoas, estima-se em torno de 30 mil pessoas, clandestinamente, ou seja, de maneira ilegal – disse o chefe da PF em entrevista ao Estúdio i, da Globonews, em 4 de janeiro. “Esses dados de monitoramento dos cidadãos brasileiros estavam armazenados em nuvens em Israel, porque a empresa responsável por essa ferramenta é israelense.”
Em regra, segundo Passos, os alvos eram pessoas de posição contrária ao governo anterior – juízes, políticos, mas também professores, jornalistas e sindicalistas.
FERRAMENTA PERMITE INVASÃO DE CELULARES
Ramagem (à esq.) ao lado de Bolsonaro em julho de 2019, quando foi nomeado diretor-geral da PF – ele não checou a assumir o posto. — Foto: Adriano Machado/Reuters.
Segundo Andrei, a ferramenta é capaz de monitorar aparelhos usando dados de GPS dos aparelhos, o que permitia não só acompanhar a movimentação das pessoas monitoradas, mas também descobrir quem se encontrava com quem. A obtenção dos dados era feita por meio da invasão de aparelhos celulares – e não apenas via dados de antenas de celular.
– Ela [ferramenta] permite o rastreio mediante a invasão dos aparelhos. não é apenas monitoramento de antena. Ou seja, há monitoramento telefônico de sinais que apontam a localização exata que essas pessoas estão. E aí, a partir de cruzamento de informações […] posso concluir que eles se encontraram em determinado momento e em determinadas circunstâncias. Portanto, isso traz uma série de consequências.
Por Paula Laboissière – Repórter da Agência Brasil – Brasília
Edição: Graça Adjuto