A pediatra Bruna de Paula tira dúvidas dos pais sobre o momento de iniciar a vida escolar das crianças
O período de matrículas escolares está chegando e, para muitas famílias, surge a dúvida: será que já devo colocar meu filho na escola? O questionamento é feito por pais de crianças menores, já que a legislação brasileira determina que a obrigatoriedade para o ingresso nas instituições de ensino é a partir dos quatro anos de idade.
As preocupações em deixar o filho na escola antes da idade estabelecida pela lei são diversas, como: medo da criança adoecer com mais frequência, dificuldade na comunicação para aquelas que ainda não falam, o estresse emocional daquelas que ainda não estão prontas para ficar longe dos pais e o medo de riscos que o filho pode correr sem a supervisão dos responsáveis. Por outro lado, existe a preocupação com o desenvolvimento da criança. Muitas famílias questionam se, ficando em casa, o filho vai aprender a socializar com facilidade e se vai acompanhar o aprendizado dos demais que estão na escola há mais tempo, por exemplo. Além disso, ainda há a necessidade, principalmente das mães, de trabalhar para ajudar nas despesas da casa.
Preocupada com a saúde do filho Henry, de três anos, a enfermeira Ariany Christina Pires e Silva, ajustou a rotina da família para que ele pudesse ficar em casa até completar a idade determinada pela lei para frequentar a escola. “Eu e meu esposo optamos em adequar a nossa rotina e a escala de trabalho para que ele não fosse para creche ou escola antes dos quatro anos. Sou enfermeira de UTI neonatal e pediátrica e vejo que a exposição às creches e às escolas é uma das principais causas que levam as crianças a ficarem mais doentes, principalmente com doenças virais”, disse.
Já a engenheira de produção Dandara Santos da Silva Freitas, mãe da Rafaela de oito anos e do Matteo, de apenas um ano de idade, optou por colocar os filhos na escola mais cedo para voltar a trabalhar. “Com os dois filhos precisei retornar ao trabalho após a licença maternidade de 120 dias. Com Rafaela, optamos por remunerar a avó para cuidar dela em casa. Após um ano de idade a matriculamos por meio período em uma escolinha. Com três anos decidimos colocá-la na creche em período integral, devido à distância de onde morávamos. Com Matteo, por causa da nossa rotina, foi preciso colocá-lo na creche com um ano e um mês de vida, no período de oito horas por dia. Acredito que a creche, bem selecionada, é uma excelente opção para que a família consiga reorganizar a vida após a chegada de uma criança”, conclui.
Em meio a tantos questionamentos e opiniões diversas, a pediatra Bruna de Paula, esclarece que não há uma idade ideal para a criança começar a frequentar a escola e que a decisão de deixar os pequenos em casa ou não vai de acordo com a necessidade de cada família. “A decisão depende de fatores individuais, culturais e familiares, mas algumas informações podem ser determinantes para a decisão, como: avaliar se a criança está pronta emocionalmente para a escola, se consegue se adaptar facilmente a novos ambientes e tolera ficar longe dos pais. E ainda, se já interage com outras crianças, se tem capacidade de seguir regras e de se comunicar verbalmente”, explica a médica.
Sobre a socialização e o desenvolvimento da criança, a pediatra explica que “não há uma resposta única para essa questão, pois o impacto de começar na escola mais tarde varia de acordo com o desenvolvimento individual da criança, o ambiente familiar e as oportunidades que ela tem de socializar e aprender fora da escola. Se a criança tem acesso a estímulos cognitivos em casa (brincadeiras educativas, leitura, conversas, atividades criativas), ou oportunidade de socializar em outros ambientes como pracinhas, casas de parentes e vizinhos, ir pra escola mais tarde pode não prejudicar seu desenvolvimento social”, esclarece Bruna.
Ainda de acordo com a médica, “crianças que convivem regularmente com outras crianças ou adultos em ambientes saudáveis podem desenvolver habilidades sociais e cognitivas de maneira adequada. Cada criança tem seu ritmo de desenvolvimento e nem todas estão emocionalmente ou cognitivamente prontas para entrar na escola muito cedo. Forçar uma entrada precoce pode, em alguns casos, ser mais prejudicial do que benéfico, causando estresse desnecessário”, ressalta.
Prós e contras de frequentar a escola antes dos quatro anos
Para te ajudar a decidir quando matricular seu filho em uma instituição de ensino, a pediatra Bruna de Paula fez uma lista de prós e contras da criança começar a frequentar a escola antes dos quatro anos de idade.
Prós:
• Desenvolvimento social devido a interação com outras crianças, estimulando habilidades como compartilhar, esperar a vez, resolver conflitos e brincar em grupo;
* Desenvolvimento cognitivo ao expor a criança a novos conhecimentos, experiências e brincadeiras educativas;
* Aprendizado de como criar e tolerar rotinas, como horários de alimentação, brincadeiras e descanso;
* Desenvolvimento da autonomia / independência, pois fora de casa realizam pequenas tarefas sozinhas, como guardar brinquedos ou se alimentar com menos ajuda;
* Desenvolvimento da fala, pois necessitam se comunicar para interagir e expressar suas necessidades e sentimentos.
Contras:
• Maior risco de doenças, principalmente respiratórias e gastrointestinais, devido à exposição mais frequente a germes em uma idade quando o sistema imunológico está em desenvolvimento;
* Estresse emocional em crianças que não estão prontas para ficarem separadas tanto tempo dos pais;
* Redução do tempo de contato familiar, o que é essencial para a segurança emocional nos primeiros anos;
* Sobrecarga em um ambiente escolar com muitas atividades, barulhos e interações sociais, o que pode afetar o comportamento e o bem-estar emocional, gerando cansaço ou irritabilidade;
* Atraso de desenvolvimento da criança se o ambiente escolar não for bem estruturado ou a equipe não for bem treinada.
Por Caliman Comunicação
Coluna Klug em Foco