ROMA: PAPA FAZ ALERTA PARA O RISCO DO SER HUMANO SE TORNAR ALGORITMO COM INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

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Vaticano não esconde temor de como novas tecnologias podem escantear o homem

Papa Francisco segura um Novo Testamento que pertencia a um soldado morto na Ucrânia durante sua audiência geral semanal na Praça de São Pedro, no Vaticano — Foto: Alberto Pizzoli / AFP.

Pela primeira vez desde a criação do G7, grupo formado por sete das maiores economias do mundo – Alemanha, Canadá, EUA, França,Itália, Japão e Reino Unido  -, em 1975, um Papa está presente em sua cúpula anual, que este ano é realizada na região da Apúlia, no sul da Italia. Francisco foi especialmente convidado pela primeira ministra Giorgia Meloni, uma das principais lideranças da extrema direita europeia, com a qual mantém, segundo comentam jornalistas que cobrem diariamente o Vaticano, uma relação não apenas cordial, mas de simpatia mútua. O discurso do Papa é um dos mais aguardados e trará recados sobre um dos temas centrais da cúpula: os desafios da Inteligência Artificial. 

Francisco fará um bate e volta à Apúlia nesta sexta-feira, onde, além de falar para grandes lideranças globais — entre elas o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o francês, Emmanuel Macron — terá encontros bilaterais. Uma das conversas já confirmadas será com o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, com quem, afirmou o embaixador brasileiro na Santa Sé, Everton Vieira Vargas, “existe uma enorme convergência de visões”.

— Ambos compartilham uma grande preocupação com questões como pobreza, combate à fome e proteção do meio ambiente. Outro assunto que preocupa o Papa é a reforma do multilateralismo, que hoje, para ele, não responde às necessidades das sociedades — explica o embaixador, lembrando que todos esses temas fazem parte da agenda da presidência brasileira do G20, o grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, cuja presidência este ano é do Brasil.

Além de colocar sobre a mesa os desafios que a IA representa para o mundo, como já tem feito em outros foros, o Papa também deve aproveitar seu encontro com os líderes do G7 para falar sobre temas como a guerra entre Rússia e Ucrânia, o conflito entre Israel e Palestina, e as dívidas de países em desenvolvimento, comenta o jornalista Iacopo Scaramuzzi, que cobre Vaticano no jornal La Repubblica.

— Para a primeira-ministra é um sucesso ter o Papa em seu G7, e para o Papa, é uma oportunidade de falar diretamente com os líderes que tomam decisões no mundo — aponta Scaramuzzi.

CONSENSOS DISTANTES

O jornalista italiano acha difícil que Francisco consiga obter consensos no debate sobre IA, já que existem diferenças expressivas entre os países do grupo. Em maio, o Conselho da União Europeia (UE) aprovou uma lei sobre IA considerada uma das mais abrangentes iniciativas de regulação da nova tecnologia. Com uma abordagem baseada nos riscos — quanto maior o risco de que uma atividade cause danos à sociedade, mais duras são as regras — a legislação europeia poderá estabelecer um padrão de regulação da IA. Já nos EUA o debate é ainda muito embrionário.

— O Papa Francisco vê na IA um potencial de desenvolvimento para a Humanidade, mas também uma ameaça do ponto de vista ético. Como uma voz global da moralidade, ele é a pessoa que pode criar consciência entre os líderes globais sobre os riscos que a IA representa, por exemplo, em matéria de fake news, ou quando é usada por lideranças de extrema direita em campanhas eleitorais — explica o jornalista do La Repubblica.

No belíssimo resort Borgo Egnazia, a cerca de 60 km da cidade de Bari, o Papa e os líderes do G7 terão uma discussão inédita sobre o avanço de uma nova tecnologia sobre a qual o Vaticano não esconde seus temores. Francisco será o orador principal da sessão dedicada à IA, e para os que conhecem o pensamento do Papa sobre o tema, não são esperadas surpresas.

MAIS SOBRE PAPA FRANCISCO 

— O Papa vem falando sobre essa preocupação de que o homem não se torne um algoritmo, essa é a questão principal. É uma grande revolução tecnológica e comportamental, e o Papa quer mais uma vez colocar o homem no centro dessa revolução. Que o homem seja sujeito e não objeto dessa revolução. Como se faz isso? Com ética, com valores do homem, da Humanidade — afirma Silvoney Protz, responsável pela edição em português da Radio do Vaticano.

E ACRESCENTA:

— A partir do momento em que o homem deixa espaço para a máquina, e a máquina toma o espaço do homem, perdemos uma visão de futuro enorme. A tecnologia dever servir ao homem, e não o homem à tecnologia — diz.

Segundo Protz, o Pontífice “fala em regulamentação não para proibir, mas para que as novas tecnologias sejam bem utilizadas”.

Em sua mensagem intitulada “Inteligência Artificial e Paz”, para celebrar o Dia Mundial da Paz, em 1º de janeiro deste ano, o Papa afirma que “a Inteligência Artificial deve ser entendida como uma galáxia de realidades diversas, e não podemos presumir a priori que o seu desenvolvimento traga um contributo benéfico para o futuro da Humanidade e para a paz entre os povos. O resultado positivo só será possível se nos demonstrarmos capazes de agir de maneira responsável e respeitar valores humanos fundamentais como ‘a inclusão, a transparência, a segurança, a equidade, a privacidade e a fiabilidade’”.

‘ÉTICA E RESPONSABILIDADE’

Líderes do G7 reunidos para cúpula na Itália — Foto: Mandel Ngan/AFP.

Na mesma mensagem, o Pontífice afirma que “não é suficiente presumir, por parte de quem projeta algoritmos e tecnologias digitais, um empenho por agir de modo ético e responsável. É preciso reforçar ou, se necessário, instituir organismos encarregados de examinar as questões éticas emergentes, e tutelar os direitos de quantos utilizam formas de Inteligência Artificial ou são influenciados por ela. Assim, a imensa expansão da tecnologia deve ser acompanhada por uma adequada formação da responsabilidade pelo seu desenvolvimento… A Inteligência Artificial se tornará cada vez mais importante. Os desafios que coloca não são apenas de ordem técnica, mas também antropológica, educacional, social e política”.

Os mesmos tom e conteúdo são esperados no discurso de Francisco no G7, onde também estarão, além dos líderes dos países que integram o grupo e convidados, o secretário-geral da ONU, António Guterres; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; representantes do FMI, do Banco Mundial e do G20. Entre os principais temas, além da IA, estarão questões da agenda econômica global, como a concorrência com a China, o desafio da segurança alimentar e da imigração.

Por Janaína Figueiredo – Roma

Redação
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