SÃO PAULO: BOULOS APOSTA EM LULA, MARTA E TEMPO DE TV PARA VIRAR CONTRA NUNES

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Psolista planeja nacionalizar o debate

Boulos faz carreata com o presidente Lula pelas ruas de São Paulo — Foto: Edilson Dantas/O Globo.

A campanha de Guilherme Boulos (PSOL) pretende fazer mais atos em bairros pobres de São Paulo e usar ao máximo a propaganda eleitoral e os debates para tentar reverter a vantagem do prefeito Ricardo Nunes (MDB) nas próximas três semanas. Nunes teve só 25 mil votos a mais que o psolista no domingo, mas vai à disputa final com um cenário mais favorável do que o sugerido por esse número. Todas as simulações feitas por institutos de pesquisa antes do primeiro turno indicavam vantagem do candidato à reeleição no confronto direto contra Boulos.

Além de esperar uma presença maior do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Boulos indicou que deve explorar também a imagem de Marta Suplicy, com quem foi votar no domingo.

O deputado federal prepara uma artilharia pesada contra o atual prefeito e convocará vereadores eleitos para tentar avançar em regiões periféricas. Boulos citou, por exemplo, que Alessandro Guedes (PT) ficará responsável pela ação no Itaquera, que votou amplamente em Pablo Marçal (PRTB), enquanto Jair Tatto (PT) estará dedicado ao Grajaú, onde Nunes teve vantagem. Dessa forma, a tática deve seguir com cada vereador eleito dedicado ao seu reduto eleitoral.

Na estratégia para a TV, se de um lado Nunes sugeriu que os veículos de imprensa se organizem para realizar só três debates em vez dos 12 que estão programados, Boulos defende pelo menos nove encontros. A avaliação é que Nunes não tem bom desempenho nesses eventos, e que o psolista pode ganhar terreno explorando essa fragilidade do adversário.

O plano não é novo. Era o que a campanha pretendia fazer no primeiro turno, antes de o empresário Pablo Marçal bagunçar o tabuleiro. Sem o ex-coach, Boulos vai focar no que se preparou para fazer desde 2022, quando foi definido que ele seria o representante da “frente ampla” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na corrida eleitoral paulistana.

Nas propagandas, que devem ser definidas nos próximos dias, além dos problemas da cidade, para os quais será construída uma narrativa de “continuidade” versus “mudança”, a campanha de Boulos pretende colar o prefeito na imagem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

— Não sei se meu adversário vai ostentar orgulhosamente o seu padrinho — disse Boulos na segunda-feira, após reunião com vereadores eleitos.

O deputado diz que agora, no segundo turno, há uma “paridade de armas”, tendo em vista que o tempo de rádio e TV será dividido de forma igual, ao contrário do que ocorreu no primeiro turno, quando o atual prefeito tinha sozinho 65% do tempo de TV.

A campanha reconhece, porém, que não é tarefa simples levar o presidente à capital paulista. As tratativas para tentar conciliar a agenda de Lula como padrinho político e como presidente da República, está em andamento.

— O presidente não é como algumas figuras que sequer elegíveis são e saem por aí fazendo politicagem — disse Boulos ao comparar Lula com Bolsonaro, que se colocou à disposição para atuar na campanha de Nunes.

A expectativa de ter o petista constantemente ao lado de Boulos existia no primeiro turno, mas não se concretizou diante das viagens e demais compromissos do presidente. Lula participou de apenas dois comícios e de uma caminhada com o candidato, esta já na véspera do primeiro turno.

BUSCA POR APOIOS

Aliados minimizam a ausência. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, diz que o cargo ocupado por Lula não o permite se dedicar tanto aos aliados. A insatisfação, porém, é comum a outros apadrinhados do presidente que tinham a expectativa de ganhar votos a partir da atuação do petista. Um exemplo é o candidato do PT em São Bernardo do Campo, Luiz Fernando, que acabou fora do segundo turno.

Sobre a busca por apoios, Boulos agradeceu ao rápido posicionamento de Tabata Amaral (PSB), que declarou voto no psolista, e disse ser natural que ele ganhe o reforço do vice-presidente Geraldo Alckmin, também do PSB. O candidato destacou que mantém boa relação com José Luiz Datena (PSDB), mas que respeita a posição neutra do neotucano — cuja legenda declarou apoio a Nunes.

Mesmo com o discurso nacionalizado, Boulos reforçou que pretende dialogar com todo o eleitorado em uma tentativa de atrair parte dos votos de Marçal e de Nunes. Segundo ele, mesmo com as pesquisas, a política não é uma “matemática simples”.

NUNES DESCARTA MARÇAL E DOBRA AS FICHAS EM TARCÍSIO 

Ricardo Nunes fez caminhada com o governador Tarcísio de Freitas na Zona Leste — Foto: Divulgação.

Para os 20 dias de campanha até o segundo turno, Ricardo Nunes (MDB) aposta em um reforço do discurso conservador nos costumes e liberal na economia, no público evangélico e na ajuda de vereadores em todos os cantos da cidade para vencer Guilherme Boulos (PSOL). Nesse quadro de estratégias, o emedebista terá ao seu lado o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que foi considerado fundamental para o bom resultado nas urnas e se cacifou como cabo eleitoral de sucesso na primeira eleição em que atua.

A estratégia de Nunes para o segundo turno começou nas primeiras horas após o resultados das urnas e demonstrou também uma guinada em relação a um possível apoio de Pablo Marçal (PRTB), que terminou em terceiro na corrida eleitoral da capital por uma diferença de menos de 100 mil votos. Se no sábado, o prefeito foi enfático ao dizer que não faria “acordo com criminoso” ao se referir indiretamente a Marçal, na noite do domingo uma aliança não foi descartada, e em discursos e entrevistas o prefeito buscou se dirigir diretamente ao eleitor do ex-coach, falando que ele defende “valores cristãos” e o “enxugamento do Estado e parcerias com a iniciativa privada”.

Na manhã de segunda-feira, Nunes havia dito que ainda estava analisando o apoio. No fim da tarde, foi mais enfático: vai buscar o eleitor de Marçal, mas não o ex-coach. A jornalistas, garantiu que o empresário não terá espaço em seu palanque:

— Não vou procurar. Se eu for procurado, vou dizer que espero que ele tenha aprendido com os erros e que possa fazer uma boa reflexão de tudo aquilo que cometeu de erros, que ele siga o caminho dele e eu sigo o meu. No meu palanque, não — afirmou após um evento com mulheres no Centro.

FORÇA DE TARCÍSIO

Na segunda-feira, Tarcísio participou de um almoço com a campanha de Nunes para definir os próximos passos. Ele é considerado peça fundamental no avanço do prefeito para o segundo turno. Já a participação de Jair Bolsonaro (PL) ainda não está definida. O ex-presidente conversou por telefone com Nunes, o parabenizou e, segundo fontes, teria se colocado à disposição para contribuir. Coordenadores da campanha afirmam que é o ex-chefe do Planalto quem vai decidir o tamanho de sua participação.

Quando o Datafolha projetou o resultado do segundo turno, Nunes ligou emocionado para o governador Tarcísio, que acompanhava a apuração na ala residencial do Palácio dos Bandeirantes. Agradeceu. Não havia, para o prefeito, outra pessoa mais merecedora da primeira ligação. No discurso após o resultado, Nunes agradeceu a Deus, a sua família e ao governador; nesta ordem. Na plateia, ouviu-se o grito: “Tarcísio, Tarcísio!”. O governador tirou um “peso das costas”, segundo um aliado, e comemorou como se fosse a própria vitória.

O Republicanos, o partido do engenheiro que entrou na política pela primeira vez em 2022 e saiu vitorioso logo na primeira eleição, passou de 20 prefeitos eleitos em 2020 para 80 neste pleito, número que pode aumentar com o segundo turno em importantes cidades, como Santos, Barueri e Taubaté. Na capital e no interior paulista, o resultado mostrou a força do governador, que é uma das principais apostas para suceder Bolsonaro em uma possível tentativa ao Palácio do Planalto no próximo pleito geral. Ele tem dito, entretanto, que não almeja voos mais altos e se diz interessado em tentar a reeleição ao governo estadual.

Para isso, eleger aliados em grandes municípios do estado, sobretudo na capital, é estratégico e foi o que motivou sua entrada de cabeça na campanha de Nunes. A avaliação do governador sempre foi a de que a cidade de São Paulo não teria perfil para eleger Marçal (PRTB), que se tornou queridinho por parte de bolsonaristas e da extrema direita, por isso deixá-lo ir ao segundo turno seria facilitar o caminho para a eleição de Boulos. Houve ainda fatores relacionados à própria administração do estado.

Para, além disso, seja lá qual for o caminho escolhido em 2026, se Presidência ou governo estadual, a principal preocupação de Tarcísio é chegar até lá com o governo bem avaliado. Ele calcula que uma gestão ruim na capital poderia respingar negativamente nele, já que a população nem sempre sabe diferenciar com clareza as atribuições municipais e estaduais, e uma boa gestão na capital seria uma vitrine positiva também para o estado.

Passado o primeiro turno, o governador respirou aliviado e espera ser reconhecido por expoentes da direita como uma liderança a ser seguida com mais afinco. A vitória de Tarcísio nas urnas no domingo também mostrou sua força diante de uma avalanche de críticas que vem recebendo por ter como aliado Gilberto Kassab, presidente do PSD e seu secretário de Governo. Kassab afirma que não importa o que Tarcísio escolher, os dois estarão juntos.

Para o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV, Tarcísio sai fortalecido dessa eleição e isso pode dar a ele mais “independência” em relação a Bolsonaro daqui para frente.

— O Tarcísio não apenas esteve junto com o prefeito, como tentou trazer o Bolsonaro de volta. Não dá para negar a importância da presença dele e que ele saiu fortalecido do resultado. O governador mostrou independência em relação a Bolsonaro e poderá contar com o apoio do prefeito de São Paulo num futuro projeto político — aponta. — Sem dúvida alguma, Tarcísio é candidato natural para concorrer à Presidência com o Bolsonaro inelegível, e talvez ele tenha mais autonomia para decidir isso daqui para frente depois desse trunfo.

A campanha deve se calcar em um reforço nas redes sociais, na aproximação com religiosos e contar com auxílio de vereadores. Na segunda-feira, Nunes e Tarcísio foram à Assembleia de Deus Ministério Belém. Encontros com empresários e com o mercado financeiro também estão sendo estudados para os próximos dias, costurados pelo governador.

CONTRA-ATAQUE

A campanha espera uma artilharia pesada vinda de Boulos, especialmente a exploração de casos como o boletim de ocorrência registrado pela esposa de Nunes, o caso da máfia das creches na qual o prefeito é investigado e as suspeitas que pairam sobre as obras emergenciais da prefeitura. Como resposta, o prefeito decidiu se colocar como vítima de um “discurso de ódio” do “extremista” Boulos, para que possa fazer colar no psolista a pecha de agressivo, usando a seu favor a alta rejeição que o deputado tem. Na segunda-feira, o prefeito reclamou da fala de Boulos após o resultado da eleição, que o atrelou ao tráfico de drogas.

Na segunda-feira, a candidata Marina Helena (Novo), que terminou em sexto lugar na disputa pela prefeitura, declarou voto em Nunes. A candidata oficializou a posição durante encontro com mulheres realizado pelo prefeito. Ao lado do emedebista e da vereadora Cris Monteiro (Novo), Marina afirmou que agora “são todos contra Boulos”.

Por Matheus de Souza  — São Paulo

Por Hyndara Freitas— São Paulo

Colaborou Victoria Abel

 

Redação
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Portal do notícias Folha do Estado especializado em jornalismo investigativo e de denúncias, há 20 anos, ajudando a escrever a história dos catarinenses.
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