Transformação: Pioneira na América Latina, usina de Barueri transformará lixo em energia

Usina Waste-to-Energy em Barueri, região metropolitana de SP, deve começar a operar em 2027 

A primeira usina Waste-to-Energy da América Latina será instalada no Brasil, na cidade de Barueri, região metropolitana de São Paulo, e deve começar a operar no primeiro trimestre de 2027. O modelo gera energia a partir do calor liberado pela queima controlada do lixo, em um processo que trata os gases e sobras gerados, diminuindo em 90% a massa de descarte. Com uma área de aproximadamente 37 mil m2, a planta da URE (Unidade de Recuperação Energética) em Barueri terá foco em solucionar ou amenizar problemas como o esgotamento de aterros sanitários, a necessidade de transporte de resíduos por longas distâncias e a emissão de gases de efeito estufa (GEEs).

PRIMEIRA NO BRASIL E NA AMÉRICA LATINA

Para a Abren (Associação Brasileira de Energia de Resíduos), a implantação da URE de Barueri é um marco. “Esse projeto inaugura um setor até então inexistente no país, demonstrando que é possível superar barreiras regulatórias e financeiras”, afirma Yuri Schmitke, presidente da Abren.

Financiada pelo grupo Orizon, a URE deve processar até 870 mil toneladas de lixo por dia, gerando 20 MW de energia. Além de Barueri, a usina vai receber resíduos dos municípios de Santana de Parnaíba e Carapicuíba.

“É um projeto pioneiro. Todo resíduo que entra em uma unidade como essa é transformado em cinzas inertes, ou seja, não são mais contaminantes. De 100% que entra, só 10% vão para aterros”, aponta Francisco Olivati, diretor de novos negócios da Interunion Santin Projetos e Integrações, empresa responsável pelo EPC (Engenharia, Aquisição e Construção) do projeto.

A iniciativa de instalação da URE partiu do município de Barueri, que hoje descarta RSU (resíduos sólidos urbanos) na cidade de Santana de Parnaíba. A proposta, segundo Rodrigo Assumpção, proprietário e superintendente de Engenharia e Energia da Barueri Energia, contratante da Interunion, tem o intuito de tornar o município autossuficiente na gestão de seus resíduos.

Olivati apresentou a planta da usina em agosto, durante a Fenasucro & Agrocana, maior evento focado exclusivamente na bioenergia do mundo. A tecnologia existe desde a década de 1990 no mundo e é uma fonte energética já consolidada em metrópoles européias e asiáticas e nos Estados Unidos.

Segundo Assumpção, há 1.884 usinas do tipo no mundo, que respondem pelo tratamento de 11% dos resíduos produzidos no planeta.

A energia da URE Barueri será distribuída por meio da construção de uma Linha de Transmissão de aproximadamente 300 m de extensão e será conectada a Linha de Transmissão 138 KV já existente da Enel.

Em nota, Olivatti e Assumpção informaram que foram firmados dois contratos de venda de energia e que o material será comercializado através de leilões com contrato de compra de energia (PPA) de 20 anos. O primeiro leilão, o A-5 2021, vai vender 12 MW, e o segundo, A-5 2022, 1,2MW.

OS DESAFIOS

Para Abren, além de protocolos técnicos e institucionais para estruturar concessões, é preciso quebrar os estigmas sobre as usinas térmicas.

– Há uma resistência cultural de setores que desconhecem as tecnologias modernas de UREs, que são seguras e alinhadas aos padrões internacionais de controle de emissões, mas constantemente são alvos de alegações infundadas – diz Yuri Schmitke, da Abren.

O presidente da entidade lembra que cidades como São Paulo já enfrentam limites crescentes em questões como espaço para o lixo, poluição e recursos energéticos.

– A URE Barueri reduzirá a pressão sobre o sistema de disposição final e produzirá energia confiável e renovável. No aspecto ambiental, terá papel decisivo na redução de emissões de metano, gás de efeito estufa muito mais potente que o CO2, além de melhorar as condições de saneamento e saúde pública – destaca Schmitke.

Outro desafio é a falta de um marco regulatório específico para contratação da energia elétrica gerada pela usina, pois dificulta investimentos.

Assumpção, da Barueri Energia, também critica a burocracia. “O modelo de remuneração é complexo, exigindo contratos de longo prazo para venda de energia e garantia de fornecimento contínuo de resíduos, algo ainda pouco praticado pelos municípios”, ressalta Assumpção.

A PRIMEIRA DE MUITAS

“A URE Barueri abre caminho para dezenas de novos empreendimentos [no Brasil] que já estão em estudo, com potencial para gerar cerca de 200 mil empregos diretos e investimentos de até 180 bilhões”, afirma Schmitke, da Abren.

A Orizon declarou não ter novos planos do tipo em curso, mas a Braskem informou que há projetos de outras empresas no mesmo modelo avançados em Mauá e Campinas (SP), Seropédica (RJ) e Brasília (DF).

Para São Paulo, está previsto ainda a construção de outras duas UREs até 2028, cada uma com 1 mil toneladas/dia de capacidade e 30 MW de potência instalada; além da possibilidade de mais duas UREs até 2035, com o objetivo de desviar até 70% dos resíduos dos aterros sanitários até 2040.

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Texto: Danielle Castro (Uol)

Colaboração para Ecoa de Ribeirão Preto

 

 

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