Assim como Bruna Marquezine e Luísa Sonza, Isadora Nogueira também precisou rebater comentários machistas sobre ter um sugar daddy e ser “sustentada” . Afinal, quem não se lembra do passeio em alto-mar que acabou dando um “boom” em sua carreira de atriz e humorista? Mais precisamente da resposta que ela deu ao cara que questionou a identidade do “idoso que estava bancando” o lazer: “Não tenho culpa se alguns homens são tão fracassados a ponto de achar que as mulheres não podem conquistar o próprio império delas. Eu sinto em te dizer que o velho rico da lancha sou eu”.
A partir daí, a carioca de 23 anos “deslanchou”: os números nas redes sociais dispararam, e a frase “velho da lancha” virou bordão. Mais do que isso, Isadora entendeu que poderia ser uma voz importante no empoderamento feminino e, de forma descontraída, vem mostrando que todas podem ser autossuficientes. Com exclusividade ao iG Gente, a “musa da lancha” falou sobre trajetória, mudança para São Paulo, trabalhos na internet e, é claro, o episódio, que só mostrou como certos conceitos e expressões legitimam uma suposta superioridade natural da ala masculina. Confira a entrevista!
1. Quando viralizou com o bordão do velho da lancha, a sua resposta pareceu muito espontânea. Como isso aconteceu?
Foi extremamente natural. Peguei o celular e disse o que me veio à cabeça, sem qualquer tipo de roteiro. Raramente me arrependo de algo que faço, então, mesmo depois de um tempo, faria exatamente a mesma coisa, responderia no mesmo tom.
2. O que mudou desde então em sua relação com os seguidores? Ainda recebe muitos comentários machistas em seus posts?
A galera ficou muito mais próxima. Quem já seguia interagiu mais, e quem chegou curtiu muito. Em relação aos comentários machistas, não recebi mais, ainda bem. Acho que viram como respondi da outra vez.
3. Como isso afetou sua relação com as redes sociais?
Até acontecer comigo, sinceramente, não prestava atenção ao comportamento de algumas pessoas, como mulheres mais independentes. Passei a ver muita gente sofrendo com o preconceito do mesmo modo como sofri. Ainda assim, não paro de ler o que comentam sobre mim, porque isso representa o que pensam. Os comentários negativos são necessários, desde que sejam respeitosos.
4. Sempre teve essa veia criativa?
Desde a infância, tenho uma relação com a arte muito forte. Fazia um trabalho de escola virar um espetáculo. Não é algo que adquiri com o tempo, e sim que nasceu comigo. Esse jeito demonstra que sou real, não um personagem.
5. De onde você tira inspiração para produzir seu conteúdo? Onde habita seu humor?
Você viu?
O meu humor está em qualquer lugar. Agarro tudo em que vejo oportunidade. Mas do que acho mais graça são as coisas do dia a dia, que acontecem com todos, porque já é algo que vivenciam e depois podem rir sobre elas.
6. De onde surgiu a ideia de fazer paródias com sucessos musicais e explicar o sentido delas?
Eu me inspiro no Whindersson Nunes, sempre o achei demais! Ele faz isso com excelência! A letra fica na cabeça, e, às vezes, até esquecemos a versão original. Esse processo exige muito da criatividade e mentalidade, e gosto de ter esse tipo de estímulo. Deu supercerto porque minha primeira paródia registrou dez milhões de views.
Sobre explicar as letras, isso começou porque muita gente não entendia o que diziam nas músicas, sendo que para mim era claro. Aí comecei a informar também no meu canal, imaginei que pudesse ser uma dúvida geral.
7. Você está em São Paulo há pouco tempo, não é? Como foi essa mudança e como era a vida no interior do Rio?
Minha vida inteira foi no interior do Rio de Janeiro, moro em São Paulo há três meses. Quando me mudei para Araruama, algumas pessoas já me conheciam, mas nunca achei que seria fácil. É uma cidade pequena do interior, e a galera acaba sendo um pouco preconceituosa com os talentos locais. No começo foi mais complicado, mas, depois que deslanchei, recebi apoio. As pessoas me paravam para tirar fotos, muitas se sentem representadas por mim. É gratificante levar o nome de Araruama para o mundo.
8. Por que decidiu mudar para São Paulo?
O principal motivo foi a vontade de trabalhar mais, ter novas experiências e agitação. Amo minha cidade, mas só quem mora no interior sabe como é parado. Lá, parece que o dia passa mais devagar, as coisas demoram para acontecer. Eu sou muito pilhada e imperativa, então sempre sofri com isso. Quero crescer!
9. É uma pessoa superaberta sobre sua vida pessoal em seu Instagram. Essa proximidade, mesmo que virtual, é algo espontâneo ou que exige cuidado?
É superespontânea. Às vezes, preciso me policiar porque me envolvo demais nas questões dos meus seguidores, leio coisas de que não gosto muito ou fazem mal, mas sempre tento interagir o máximo.
10. Como é ser uma mulher e humorista no nosso país?
Eu diria que é uma coisa de muito preconceito ainda, infelizmente. Apesar de não parecer, sofremos, e já senti na pele. Por exemplo, quando falo a mesma coisa que um homem disse, algumas pessoas veem de formas completamente diferentes. Isso está melhorando, mas ainda falta muito!