Como os municípios estão se comportando no 5º mês de administração
Nos primeiros 100 dias de uma nova gestão, o entusiasmo da mudança costuma dividir espaço com a dura realidade da máquina pública. Esse é um cenário recorrente em centenas de municípios brasileiros – e Balneário Camboriú, sob o comando da prefeita Juliana Pavan, não é exceção.
Apesar do simbolismo político, os 100 dias representam pouco tempo em termos administrativos. No entanto, eles revelam muito: capacidade de planejamento, domínio técnico, articulação política e, principalmente, a coerência entre o discurso de campanha e as ações efetivas no poder.
Juliana Pavan acerta ao propor uma reforma administrativa e sinalizar economia com a estrutura do Executivo. Esses movimentos não são inéditos, mas ainda são raros. Muitos prefeitos chegam ao cargo ampliando o número de secretarias e cargos comissionados, transformando a máquina pública em cabide de empregos – algo que, felizmente, não se verificou nesta gestão inicial.
Outro ponto positivo é a criação de um grupo de trabalho para revisar normas municipais. Esse tipo de ação é urgente em diversas cidades do país, onde há leis redundantes, inconstitucionais ou completamente desconectadas da realidade social atual. Governos que se dedicam à limpeza normativa demonstram maturidade institucional.
Mas nem tudo são acertos. A precipitação ao divulgar suposta melhora na balneabilidade da Praia Central, sem respaldo técnico, repete um erro comum na política: usar a comunicação como ferramenta de propaganda e não como instrumento de informação. Esse tipo de estratégia, presente em muitas administrações, cobra um preço alto em credibilidade e confiança pública.
Outro episódio que acendeu o sinal de alerta foi a tentativa de licitação de R$ 9 milhões em publicidade institucional. Mesmo suspensa por determinação judicial – após questionamentos sobre a imparcialidade da comissão avaliadora e falhas no processo -, o caso revelou como os vícios da velha política ainda rondam os corredores do poder. A moralidade, como princípio constitucional previsto no artigo 37 da Constituição Federal, exige mais do que legalidade formal: requer coerência ética, razoabilidade e compromisso com o bem público.
Cidades como Joinville, Blumenau e Itajaí têm se destacado nos últimos anos ao aprimorar modelos de gestão baseados em planejamento, controle interno e avaliação de políticas públicas. Nesses contextos, administrações que resistem à tentação de governar com base em narrativas e preferem dados, resultados e transparência colhem frutos mais sólidos e duradouros.
Em última análise, o que se espera de Juliana Pavan – e de qualquer prefeito – não é perfeição, mas disposição para corrigir rumos, rever estratégias e ouvir a sociedade. A legitimidade de um governo se consolida com trabalho contínuo, prestação de contas e, principalmente, respeito à Constituição.
Porque, como ensina o artigo 37 da Carta Magna, administrar é servir. E servir exige humildade, competência e compromisso com todos – não apenas com aliados, cargos de confiança ou os amigos da rainha ou do rei.
Esta análise está investida do interesse público, do apreço à legislação e do dever constitucional de informar com isenção, probidade e equilíbrio. Ao apresentar os avanços administrativos e os problemas com o mesmo rigor, com esta análise viemos reforçar o papel da imprensa como instrumento de vigilância, reflexão e participação cidadã.

Por José Santana:
Jornalista, bacharel em Gestão Pública, especialista em Direito Administrativo e Constitucional.











