Por José Santana – Especial para o Portal de Notícias Folha do Estado
Entre os dias 13 e 25 de junho, o governo de Santa Catarina realizou uma missão estratégica na Ásia, percorrendo cidades importantes da China em busca de oportunidades reais para o desenvolvimento do estado. Mais do que um gesto diplomático, a missão oficial reafirmou um princípio fundamental: Santa Catarina não é colônia de nenhuma nação do mundo. E por isso, dialoga com respeito, autonomia e visão estratégica com parceiros globais.
Com uma comitiva técnica, o governador Jorginho Mello esteve em Pequim, Harbin e outras cidades chinesas, reforçando relações comerciais e prospectando investimentos diretos em áreas vitais como logística, aviação regional, tecnologia, defesa sanitária e infraestrutura ferroviária. Ao contrário do que muitos possam imaginar, não se tratou de uma viagem protocolar — houve entrega, negociação e avanço concreto.
Santa Catarina ocupa lugar de destaque na economia brasileira. É o quarto maior PIB industrial do país, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI), representando cerca de 6% da produção industrial nacional. O estado lidera rankings de produtividade, inovação e geração de empregos formais. Sua indústria manufatureira é diversificada, com polos de excelência em motores elétricos, eletrodomésticos, máquinas, plásticos, têxteis, metalmecânica e tecnologia da informação. Joinville, Blumenau, Brusque e Jaraguá do Sul formam um corredor industrial que alia tradição e inovação. Na agroindústria, SC é referência global na produção e exportação de carne suína e de frango, com o selo de estado livre de febre aftosa sem vacinação — conforme dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) — o que garante acesso a mercados exigentes como a União Europeia, Japão e China.
Em meio a uma nova polarização global — marcada pela disputa entre as hegemonias americana e chinesa, entre modelos de capitalismo liberal e regimes socialistas de comando centralizado — a coragem do governador catarinense em dialogar diretamente com a China mostra maturidade política, pragmatismo e um compromisso firme com os interesses do estado. Em vez de ideologia, optou-se por estratégia. Em vez de se alinhar cegamente a blocos, escolheu-se defender a economia catarinense com autonomia e responsabilidade.
Frango, Ferrovia e Futuro
Entre os principais movimentos do governo catarinense na China, destaca-se o esforço para reabrir o mercado chinês à carne de frango produzida no estado. Em encontro com Zhao Zenglian, vice-ministro da Administração Geral das Alfândegas da China (GACC), Santa Catarina apresentou suas credenciais sanitárias e garantiu que não há casos de gripe aviária em território catarinense. O pedido para que uma missão técnica chinesa visite o estado foi bem recebido — e poderá destravar bilhões em exportações.
Além disso, o governo catarinense buscou atrair investimentos para a malha ferroviária e rodoviária, com reuniões técnicas com gigantes como CRRC e CCCC, empresas reconhecidas por operar obras de infraestrutura em larga escala em diversos continentes. O plano de Santa Catarina é claro: menos burocracia, mais resultado.
Indústria e Inovação: Parcerias em Construção
Outro destaque da missão foi a visita à fábrica da Nidec Global Appliance, antiga Embraco, em Pequim. O objetivo? Estimular a instalação de novos fornecedores da cadeia industrial em Joinville, fortalecendo o ecossistema produtivo catarinense com tecnologia de ponta.
Em Harbin, avançou-se no diálogo sobre uma possível linha de montagem de aviões regionais em solo catarinense, como alternativa estratégica para o transporte entre pequenas cidades e polos econômicos do Brasil.
Também houve abertura para discutir um data center com foco em inteligência artificial no município de Lages — projeto que poderá colocar Santa Catarina como referência em tecnologia de dados e automação na América Latina.
A missão catarinense à Ásia resultou em parcerias concretas com potencial transformador para a economia estadual. Foram iniciadas tratativas com a fabricante chinesa CRRC para a modernização da malha ferroviária, além de negociações com a Power China para a instalação de um data center de inteligência artificial em Lages. Na área industrial, a Nidec Global Appliance sinalizou apoio à vinda de fornecedores para Joinville, fortalecendo a cadeia de componentes. Um dos compromissos mais estratégicos foi o avanço para a criação de uma linha de montagem de aviões regionais em Santa Catarina, por meio de acordo com uma empresa chinesa em Harbin. No campo agroexportador, o estado formalizou pedido para retomar as exportações de carne de frango à China e firmou carta de intenções com o Japão para ampliação da logística portuária e escoamento de grãos. Esses movimentos demonstram que Santa Catarina se posiciona como protagonista em inovação, indústria e comércio global.
Santa Catarina no Século XXI
A visita oficial à China mostrou que Santa Catarina quer e pode ocupar um lugar de protagonismo nas cadeias globais de valor, sem abdicar da sua identidade, da sua soberania e do seu compromisso com o bem-estar da população.
Negociar com o mundo é necessário. Submeter-se, jamais. A missão asiática foi um passo firme em direção a um futuro mais próspero, mais competitivo e mais inteligente para o nosso estado.
Enquanto muitos discursos se perdem na retórica, o governo catarinense foi à Ásia com planejamento e voltou com resultados em construção.
As críticas ao fato de um governador de perfil conservador dialogar com a China, uma nação sob regime comunista, revelam uma visão reducionista e ideológica que pouco contribui para o desenvolvimento do estado. Santa Catarina não pode se dar ao luxo de recusar parcerias estratégicas com a segunda maior economia do planeta por conta de divergências políticas ou modelos de governo. O que está em jogo é o bem-estar da população, o fortalecimento da indústria, da agroexportação e da infraestrutura. Governar exige coragem para romper bolhas ideológicas e maturidade para entender que negociar com o mundo não é submissão — é inteligência geopolítica. Enquanto muitos se apegam a discursos de palanque, o governo catarinense escolheu o caminho do pragmatismo responsável.
Os Estados Unidos, ícone do liberalismo ocidental, mantêm relações comerciais amplas e bilionárias com a China. Alemanha, Japão e Coreia do Sul — todos mantêm laços estratégicos com Pequim. Por que Santa Catarina deveria agir diferente? Isolar-se por ideologia seria punir nossa economia, nossos produtores e nossos trabalhadores, entregando mercados promissores a concorrentes mais pragmáticos.
Ao viajar à China, o governador Jorginho Mello demonstrou coragem política e responsabilidade institucional. Rejeitou o conforto da bolha ideológica para fazer o que um chefe de Estado deve fazer: colocar o interesse público acima do discurso de ocasião. Governar exige maturidade, não bravatas. E amadurecer como sociedade também significa entender que negociar com o mundo não é se submeter — é se posicionar.
Fontes consultadas:
•Confederação Nacional da Indústria (CNI), 2024
•Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), 2025
•Administração Geral das Alfândegas da China (GACC), comunicado oficial, junho/2025
•Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (FIESC), boletins econômicos 2025
José Santana
Jornalista (MTB 3982) e editor do Portal Folha do Estado SC – Bacharel em Gestão Pública, pós-graduando em Direito Administrativo e Direito Constitucional (Uninter) – Especialista em Políticas Públicas e Análise Institucional











