Nova tarifa de Trump acirra tensão comercial e exige reação institucional do Brasil
Brasília / Washington – Em uma decisão abrupta e com forte impacto comercial, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos exportados pelo Brasil para o mercado norte-americano. A medida afeta diretamente setores estratégicos como aço, alumínio, carnes e produtos agrícolas, e gerou reação imediata do governo brasileiro, do Congresso Nacional e de entidades representativas da indústria e do comércio exterior.
Brasil e Estados Unidos mantêm relações diplomáticas há mais de 200 anos. Os EUA são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás apenas da China. Em 2024, o comércio bilateral somou mais de US$ 100 bilhões, com um superávit americano de aproximadamente US$ 8 bilhões, segundo dados do Ministério da Economia e da Secretaria de Comércio Exterior (Secex, 2025).
Mesmo com o Brasil mantendo deficit comercial e um histórico de cooperação econômica com os Estados Unidos, a decisão ignora o valor estratégico dessa relação. O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência americana no século XIX e sempre buscou manter canais abertos, respeitosos e produtivos com Washington. A atitude de Trump rompe com esse espírito.
A MOTIVAÇÃO É ELEITORAL – E CONTRADITÓRIA
Analistas internacionais concordam que a medida tem forte motivação política, visando agradar setores industriais norte-americanos. Para o economista e professor da FGV, Lucas Ferraz, “a medida é protecionista e contradiz os princípios do livre comércio que os EUA historicamente defenderam” (Ferraz, 2024, entrevista ao Valor Econômico).
A diplomata aposentada Maria Celina de Azevedo Rodrigues, ex-embaixadora do Brasil em Washington, destaca que “o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência americana” (Rodrigues, 2024, painel do CEBRI). Para ela, a decisão ignora o peso histórico das relações bilaterais e revela uma guinada eleitoreira e instável na diplomacia comercial americana.
Ou seja: o governo norte-americano opta pela conveniência política imediata em detrimento de décadas de construção institucional baseada na confiança mútua.
O BRASIL PRECISA RESPONDER – E HÁ CAMINHOS LEGAIS E LEGÍTIMOS
O Brasil não pode aceitar calado uma ofensiva dessa natureza. A resposta deve ser firme, estratégica e proporcional. Entre as medidas cabíveis e dentro do marco legal internacional, duas se destacam:
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SUSPENSÃO DAS PROTEÇÕES À PROPRIEDADE INTELECTUAL DE EMPRESAS AMERICANAS
É possível e justificável que o Brasil, como membro da Organização Mundial do Comércio (OMC), aplique medidas compensatórias previstas no Acordo TRIPS, suspendendo temporariamente as proteções de patentes e direitos comerciais de empresas dos EUA nos setores farmacêutico, tecnológico e de entretenimento. Trata-se de uma resposta legítima diante de práticas comerciais hostis que prejudicam a economia nacional.
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PROJETO DE SUSPENSÃO DOS JUROS DA DÍVIDA PÚBLICA POR ATÉ TRÊS ANOS
Embora essa medida não afete diretamente os Estados Unidos, sua aprovação permitiria ao Brasil redirecionar recursos internos para fortalecer sua posição no mercado internacional. Além da aplicação de medidas de reciprocidade aprovadas pelo Congresso, trata-se de uma resposta estratégica de soberania econômica.
A proposta consiste no encaminhamento de um projeto de lei ao Congresso Nacional suspendendo, por um ano, o pagamento dos juros da dívida pública federal, com possibilidade de prorrogação por até três anos. Em 2025, estima-se que os juros da dívida ultrapassem R$ 1,997 trilhão, consumindo quase metade do orçamento público nacional (Tesouro Nacional, 2025; PLOA 2025).
A suspensão temporária desses pagamentos abriria espaço fiscal para investimentos em inovação, infraestrutura e políticas públicas emergenciais, sinalizando ao mercado e à comunidade internacional que o Brasil é capaz de priorizar seus interesses estratégicos diante de pressões externas. Com cerca de dois trilhões de reais livres no orçamento, o país poderia remodelar seu parque industrial, ampliar a infraestrutura logística e energética e financiar programas estruturantes, incluindo a construção de milhares de escolas, hospitais, presídios e moradias em todas as regiões.
DIÁLOGO SIM, SUBMISSÃO NUNCA
Não se trata de romper relações com os Estados Unidos, mas de reafirmar a autonomia do Brasil. O país é democrático, com instituições sólidas e capacidade técnica para proteger seus interesses estratégicos. O momento exige unidade entre Executivo, Congresso Nacional, Judiciário e sociedade civil.
CONGRESSO NACIONAL CRITICA AÇÃO DE TRUMP
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), classificou a decisão como um “ataque injustificado à soberania econômica do Brasil”, durante reunião no Palácio do Planalto (Agência Senado, 2025). Já o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou, no mesmo encontro em Brasília, que “o Congresso está unido em defesa dos interesses nacionais” e que o Brasil “não aceitará medidas unilaterais de parceiros históricos” (Agência Câmara, 2025).
Senadores e deputados de diferentes partidos apresentaram requerimentos de convocação do ministro das Relações Exteriores para prestar esclarecimentos e articular uma resposta institucional à altura.
A soberania nacional não pode ser tratada como moeda de troca eleitoral por parte de governos estrangeiros, nem como peça descartável em estratégias protecionistas. O Brasil precisa agir com altivez, equilíbrio e coragem. Porque defender o país não é radicalismo – é responsabilidade.
REFERÊNCIAS
- AGÊNCIA CÂMARA DE NOTÍCIAS. Declarações de Arthur Lira sobre tarifas norte-americanas. Brasília, 2025.
- AGÊNCIA SENADO. Davi Alcolumbre critica tarifas dos EUA e cobra resposta firme do Brasil. Brasília, 2025.
- FERRAZ, Lucas. Entrevista: impactos do protecionismo de Trump nas exportações brasileiras. Valor Econômico, São Paulo, 2024.
- MINISTÉRIO DA ECONOMIA. Balança Comercial 2024: Dados consolidados. Brasília, 2025.
- RODRIGUES, Maria Celina. Painel CEBRI – Relações Brasil-EUA: desafios e oportunidades. CEBRI, Rio de Janeiro, 2024.
- TESOURO NACIONAL. Relatório da Dívida Pública – abril de 2025. Brasília: Ministério da Fazenda, 2025.
- PROJETO DE LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL – PLOA 2025. Anexo I: estimativa da despesa com juros da dívida. Brasília, 2024.
JOSÉ SANTANA:
Jornalista, especialista em Gestão Pública e pós-graduando em Direito Constitucional e Administrativo pela Universidade Uninter. É editor-chefe do portal Folha do Estado SC, com 25 anos de atuação em jornalismo investigativo, análise institucional e cobertura de políticas públicas. Atua também na coordenação de redes de podcast e conteúdos multimídia com foco em educação política e responsabilidade pública.











