Artigo: A história avisa, mas as cidades se recusam a ouvir

Este artigo envolve o histórico de cidades antigas e atuais

Há cidades que desabam por terremotos, enchentes ou guerras. E há cidades que caem por algo muito mais silencioso: a perda de sua própria alma. Sodoma, Gomorra, Nínive, Tiro, Babilônia e até a sofisticada Pompeia entraram para a história não apenas por sua destruição física, mas pela corrosão moral que as precedeu. Tornaram-se exemplos de sociedades que prosperaram economicamente enquanto apodreciam eticamente. Hoje, vejo sinais semelhantes ressurgindo e não em livros antigos, mas nas manchetes contemporâneas.

Quando a pobreza vira alvo e o imigrante vira bode expiatório

Não é coincidência que, em momentos de tensão social, o primeiro instinto de sociedades adoecidas seja mirar a responsabilidade nos mais pobres, nos estrangeiros, nos vulneráveis. É mais fácil culpar quem está desarmado e totalmente invisível do que enfrentar os verdadeiros problemas estruturais.

Nos Estados Unidos, relatórios e reportagens mostram uma escalada na perseguição a imigrantes latino-americanos. Crianças ainda são separadas de pais em operações oficiais. Cidades criminalizam moradores de rua com leis que soam quase distópicas.

A superpotência que ergue a Estátua da Liberdade hoje precisa explicar ao mundo por que tem medo de barracas de lona.

NO BRASIL, O AVANÇO PERIGOSO DA “LIMPEZA SOCIAL”

No Brasil, o cenário não é mais animador. Uma reportagem recente da Rede Globo expôs práticas de remoções forçadas e apreensão de pertences de pessoas em situação de rua em cidades catarinenses como Balneário Camboriú, Chapecó e Florianópolis.

O método?

Retirar pobres do campo de visão. Esconder a vulnerabilidade para proteger o cartão-postal.

É UMA LÓGICA PERVERSA:

para algumas administrações, a pobreza atrapalha mais a estética que a consciência.

Nas grandes capitais, a tática se repete.

Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre tratam a miséria como risco sanitário nunca como drama humano.

E, quando a cidade começa a remover pessoas como se fossem obstáculos, o colapso moral já é parte da paisagem.

O ERRO CIVILIZATÓRIO QUE VOLTA A SE REPETIR

Toda vez que uma sociedade aceita que pobres e imigrantes sejam tratados como descartáveis, ela repete o mesmo padrão que emudeceu cidades da Antiguidade.

A arrogância precede a queda. A indiferença acelera o colapso.E a desumanização sela o destino.

Quando Pompeia caiu sob a fúria do Vesúvio, sua estrutura física desapareceu em horas. Mas sua decadência moral vinha de muito antes: violência, exploração, desigualdade extrema. O vulcão apenas encerrou o que a sociedade já havia iniciado.

Há lições que não exigem erudição apenas honestidade. Mas honestidade é um recurso escasso quando a política exige votos e as cidades exigem aparência.

Uma cidade não é julgada por seus prédios, mas por suas escolhas éticas.

O que mantêm de pé uma cidade não são apenas seus muros, suas avenidas, seus arranha-céus e sua força econômica. O que mantém uma cidade viva é sua capacidade de enxergar humanidade onde outros enxergam incômodo.

CIDADES COMEÇAM A MORRER QUANDO:

  • tratam a miséria como sujeira a ser removida;
  • veem imigrantes como ameaça;
  • transformam vulnerabilidade em caso de polícia;
  • sacrificam dignidade em nome de turismo e cosmética urbana.

Nenhum império resistiu a isso. Nenhuma cidade moderna resistirá.

O futuro de qualquer sociedade é decidido no presente e pelos últimos

Se existe um ponto inegociável na civilização, é este: o modo como tratamos os últimos define o destino de todos.

Não é retórica religiosa.

Não é discurso moralista.

É o mecanismo histórico que se repete, século após século. E a pergunta que fica, para governantes e cidadãos, é simples e urgente:

Que tipo de cidade queremos construir?

Aquela que expulsa vulneráveis… ou aquela que se recusa a repetir os erros que destruíram civilizações inteiras?

O tempo, como sempre, será o juiz.

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Por José Santana

Jornalista e pós-graduado em Direito Constitucional

 

Redação
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Portal do notícias Folha do Estado especializado em jornalismo investigativo e de denúncias, há 20 anos, ajudando a escrever a história dos catarinenses.
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