Uma reflexão crítica sobre a narrativa popular do arrebatamento
Durante esta noite, fui acordado com uma inquietação espiritual a respeito de um tema que tem sido amplamente repetido e reforçado em muitos círculos religiosos da atualidade: “o arrebatamento da igreja” – a ideia de que Jesus retornará para buscar uma determinada denominação religiosa ou um grupo específico de crentes. Essa doutrina, muitas vezes apresentada como verdade absoluta, vem sendo proclamada com fervor, alimentando expectativas, medos e exclusivismos. Tocou-me profundamente a necessidade de compreender melhor essa afirmação à luz das Escrituras, da teologia e da espiritualidade verdadeira.
Movido por esse impulso, decidi me dedicar a uma ampla pesquisa. Ouvi especialistas, consultei estudiosos da Bíblia, analisei diversas interpretações teológicas e confrontei textos bíblicos com doutrinas tradicionais e visões contemporâneas. O objetivo foi um só: fundamentar e instrumentalizar o conceito de “buscar a minha igreja” ou de “arrependimento final” – não com base em frases prontas ou doutrinas populares, mas com coerência bíblica, honestidade intelectual e discernimento espiritual.
Durante essa busca, uma verdade tornou-se evidente: a expressão “Jesus virá buscar a sua igreja” simplesmente não aparece na Bíblia. Apesar de muito citada nos púlpitos, ela é o resultado de construções doutrinárias, interpretações escatológicas e visões particularizadas da fé. Textos como Mateus 24:31, onde se diz que o Filho do Homem ajuntará os seus escolhidos “desde os quatro ventos”, e 1 Tessalonicenses 4:16-17, que fala sobre a vinda do Senhor e o arrebatamento, não mencionam a palavra “igreja” nem apontam para uma estrutura religiosa visível.
A partir disso, é necessário perguntar: o que, de fato, Jesus implantou? Não foi uma denominação. Não foi uma religião institucional. O que Jesus instaurou foi o Reino de Deus nos corações humanos. “O Reino de Deus está dentro de vós” (Lucas 17:21), disse Ele. Paulo reforça essa visão ao lembrar: “Sois o templo de Deus, e o Espírito de Deus habita em vós” (1 Coríntios 3:16). E em Atos 7:48, lemos que “o Altíssimo não habita em templos feitos por mãos de homens”.
Jesus exemplificou essa verdade ao afirmar: “Quem me vê, vê o Pai” (João 14:9), revelando que o templo de Deus é a própria vida que reflete a presença divina. Ele também nos alertou, com palavras implícitas, que ao tocar injustamente qualquer ser humano – especialmente os mais simples e desprotegidos – estamos ferindo a menina dos olhos de Deus (Zacarias 2:8). A verdadeira igreja não é um prédio nem uma placa, mas a alma humana regenerada, habitada pela luz do Espírito.
Essa visão é também refletida no Livro de Urântia, obra espiritual-filosófica que apresenta Jesus (Micael de Nébadon) como um instrutor cósmico da verdade viva. Nessa obra, o retorno de Jesus é descrito não como um evento de separação entre salvos e perdidos, mas como parte de um plano evolutivo e espiritual universal, voltado ao aperfeiçoamento moral da humanidade – sem vínculos com igrejas ou religiões específicas.
Portanto, é tempo de voltar à essência. De abandonar narrativas fabricadas e abraçar a fé viva, aquela que não depende de estruturas externas, mas de um coração em comunhão com Deus. A ideia de que Jesus virá buscar uma única igreja institucionalizada é mais fruto de tradição doutrinária do que de texto sagrado. A mensagem do Cristo é libertadora, pessoal, íntima e inclusiva. E só pode ser compreendida por quem ouve a voz de Deus dentro de si – e não apenas nos altares de pedra.
Observação: a conversão espiritual depende fundamentalmente de uma decisão voluntária e íntima do indivíduo. É o desejo genuíno de abrir a porta da própria alma para que o Espírito habite e transforme a vida. Como Jesus disse:
“Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20).
Essa escolha não é fruto de imposição externa, rituais, templos ou orientações humanas, por mais bem intencionadas que sejam. A salvação é uma experiência individual, soberana e inclusiva, que acontece quando a pessoa aceita a comunhão com Deus em seu íntimo. Paulo reforça essa verdade:
“Não sabeis que sois templo de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1 Coríntios 3:16).
Nesse momento, alma e Espírito se unem, formando uma nova pessoa em Deus – o verdadeiro templo vivo que Cristo deseja habitar (2 Coríntios 5:17).
Leu, gostou, curta e compartilhe: sua opinião é importante para todos nós. Caso queira participar com sua opinião ou crítica, pode encaminhar sua manifestação para o nosso canal: @josesantanaitp
———————
Por José Santana – Especial para a Folha do Estado











