Como isso pode estar sendo interpretado pelos próprios direitistas nacionais?
Vejamos, primeiramente vamos citar o reforço da imagem de subordinação e dependência: Eduardo Bolsonaro se ajoelhar – literal ou simbolicamente – para Trump, alimenta a crítica de que a direita brasileira – especialmente o bolsonarismo – é excessivamente alinhada aos interesses dos EUA, e particularmente à ala trumpista. Isso pode ser malvisto até por setores da própria direita mais nacionalista. Em segundo plano vem a repercussão negativa no centro político, onde a imagem de servilismo ou idolatria a um político estrangeiro – ainda mais alguém tão polarizador como Trump – pode afastar o eleitorado de centro e os moderados de direita. Isso dificulta a ampliação da base de apoio do bolsonarismo e o torna mais restrito a uma bolha ideológica.
Quanto ao fortalecimento simbólico da extrema-direita, a base mais radical pode ver o gesto como uma demonstração de lealdade à chamada “agenda anti-globalista” e à aliança conservadora internacional. Isso pode agradar a nichos ideológicos específicos – como os evangélicos ultraconservadores e grupos armamentistas.
Mas isso também pode criar material para a oposição. A esquerda e os críticos do bolsonarismo ganham munição para explorar o episódio como prova de submissão, antipatriotismo ou ridicularização do Brasil no cenário internacional. Isso pode impactar negativamente a imagem do grupo no debate público e nas redes sociais.
Também tem o lado mais cabuloso e sinistro, aquele que pode dificultar uma renovação da própria direita. Esse tipo de atitude contribui para a personificação e estagnação da direita em torno do bolsonarismo e suas figuras tradicionais, dificultando o surgimento de novas lideranças ou projetos de direita, mais pragmáticos e menos ideológicos.
Quanto aos riscos eleitorais, dependendo da cobertura da imprensa e da reação do eleitorado, esse gesto pode se tornar um símbolo negativo em campanhas futuras, especialmente se a oposição usar isso em propagandas para questionar a seriedade, o patriotismo ou a independência dos Bolsonaro. É só comparar com alguns episódios semelhantes na política internacional e brasileira, para que possamos entender melhor os possíveis impactos do gesto de Eduardo Bolsonaro ao se ajoelhar para Donald Trump. Como semelhança na política internacional, temos alguns casos como o de Boris Johnson (do Reino Unido) e o de Donald Trump (EUA). Durante o 1º governo Trump, o premiê britânico Boris Johnson foi criticado por parecer excessivamente alinhado ao norte-americano, inclusive usando termos semelhantes, ao estilo “America First”. Com a queda de Trump e a chegada de Joe Biden, Johnson teve que recalibrar sua retórica para não parecer submisso ou descolado dos novos ventos diplomáticos que surgiam. Isso nos mostra, hoje, o risco de apostarmos todas as nossas fichas num líder estrangeiro. Fazendo um paralelo temos Eduardo Bolsonaro, que arrisca a imagem internacional da direita brasileira ao se alinhar incondicionalmente a um presidente estrangeiro que pode ou não ajudar o seu grupo.
Mas além do inglês Boris Johnson, também podemos citar Viktor Orbán da Hungria e o russo Vladimir Putin. Orbán manteve uma relação próxima com Putin mesmo após a invasão da Ucrânia, o que lhe rendeu isolamento na União Europeia e críticas internas. Ainda que sua base o apoie, sua política externa ficou comprometida. Em outro paralelo temos o alinhamento de Eduardo com Trump, o que, num prazo um pouco mais elástico pode isolar o bolsonarismo em um contexto internacional mais amplo, especialmente se Trump não recuar e continuar fazendo das suas, inclusive contra o Brasil.
Vamos adiante, pois também temos casos semelhantes na política brasileira que vale lembrar como: Jânio Quadros e suas “medalhas” para líderes estrangeiros. Lembram? Jânio chocou a política nacional ao condecorar Che Guevara em 1961 – fato que pode ter resultado na sua renúncia dias mais adiante -, o que gerou reações negativas entre os conservadores brasileiros. O gesto foi visto como excessivo e incoerente com o discurso de independência e moralidade que ele pregava. Hoje, o gesto de Eduardo igualmente pode ser interpretado como incongruente com o discurso de soberania e de nacionalismo que a direita costuma defender.
Mas temos mais. Michel Temer e a sua “falta de carisma” internacional. Temer foi criticado por manter uma política externa apagada, e quando buscou se aproximar de líderes estrangeiros, era visto como pouco respeitado ou no mínimo desinteressante, o que contribuiu para sua baixa popularidade interna. Paralelamente, a imagem de Eduardo “se humilhando” pode vir a causar uma percepção de fraqueza ou irrelevância internacional, o que pode reverberar negativamente dentro do Brasil.
Resumo de todo esse aprendizado: A aparente submissão a líderes estrangeiros enfraquece a imagem de soberania nacional. O alinhamento cego a figuras controversas é arriscado, sobretudo em cenários voláteis. A direita moderna precisa construir lideranças com autonomia, e não apenas imitadores de Donald Trump. Ou, no que é pior, seguidores das idéias vãs desse líder maior direitista, que bem lá no fundo acha que as Américas do Sul e Central são o “terreiro” dos Estados Unidos, que ele pode dispor sempre que quiser. Só que aqui o buraco é bem mais embaixo…
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Por: L. Pimentel – Jornalista











