Estado é um dos que mais recebeu imigrantes nos últimos anos
Segundo dados de instituições oficiais como o IBGE e o Caged, Santa Catarina se consolidou, entre 2017 e 2025, como um dos principais destinos de imigrantes no Brasil. Mais de 8 mil estrangeiros vindos de países em guerra passaram a residir no estado, com destaque para haitianos, venezuelanos, ucranianos, congoleses e afegãos.
O fenômeno migratório, embora positivo em diversos aspectos, também traz impactos diretos na economia, infraestrutura, meio ambiente e nas políticas públicas dos municípios catarinenses.
Segundo o Censo Demográfico 2022, Santa Catarina possui 72.793 residentes estrangeiros – número seis vezes maior que o registrado em 2010. Entre 2017 e 2022, o estado apresentou o maior saldo migratório do Brasil, com 205 mil pessoas a mais chegando do que saindo.
ECONOMIA EM ALTA COM MÃO DE OBRA IMIGRANTE
Dados do Caged 2024 revelam que Santa Catarina liderou nacionalmente na contratação formal de estrangeiros, com 18.900 admissões, o que representa 26,6% de todos os contratos de trabalho de imigrantes no Brasil. Esses trabalhadores estão inseridos majoritariamente na indústria, construção civil, comércio, turismo e serviços gerais.
A presença imigrante contribui diretamente para o dinamismo econômico estadual. Em 2024, Santa Catarina registrou alta de 14,6% na renda domiciliar média, superando R$ 2.600, contra uma média nacional de 9,2%. Cidades como Chapecó, Joinville, Balneário Camboriú e Florianópolis concentram boa parte dessa força de trabalho.
PRESSÕES SOBRE A INFRAESTRUTURA URBANA
O crescimento populacional acelerado impõe novos desafios aos municípios catarinenses. A expansão urbana desordenada, muitas vezes sem planejamento, resulta em:
- Déficit habitacional e aumento do custo de aluguéis;
- Superlotação em escolas públicas, com necessidade de apoio linguístico para alunos imigrantes;
- Sobrecarga em unidades de saúde;
- Trânsito mais intenso e maior demanda por transporte público.
A ausência de políticas públicas coordenadas de acolhimento e integração tende a agravar essas pressões, principalmente em cidades de médio porte, que não estavam preparadas para essa nova realidade demográfica.
MEIO AMBIENTE E CRESCIMENTO DESORDENADO
O impacto ambiental do adensamento populacional também deve ser considerado com seriedade:
- A ocupação de áreas de risco, como encostas e zonas úmidas, aumenta a vulnerabilidade a deslizamentos e enchentes;
- A expansão de loteamentos informais acelera a supressão de áreas verdes urbanas;
- O aumento da demanda por recursos como água e energia pressiona os sistemas de saneamento e abastecimento.
A sustentabilidade urbana dependerá da capacidade dos municípios de planejar o uso do solo e investir em infraestrutura verde e soluções ambientais inteligentes.
INTEGRAÇÃO CULTURAL E DESAFIOS SOCIAIS
Para além das questões materiais, a imigração traz consigo um conjunto de desafios sociais e culturais:
- Barreiras linguísticas dificultam a inclusão plena dos imigrantes em escolas, serviços públicos e no mercado de trabalho;
- Xenofobia e preconceito ainda são registrados, especialmente contra comunidades negras e refugiados;
- A ausência de uma política estadual consistente de acolhimento limita a inclusão cidadã e aumenta a vulnerabilidade dessas populações.
Embora algumas prefeituras e organizações da sociedade civil tenham desenvolvido ações pontuais, a resposta institucional ainda é insuficiente frente à magnitude do fenômeno migratório.
ENTRE O CRESCIMENTO E O COLAPSO
A imigração representa, para Santa Catarina, uma oportunidade estratégica de renovação demográfica, expansão econômica e enriquecimento cultural. Mas, ao mesmo tempo, impõe desafios urgentes em planejamento urbano, educação, habitação, mobilidade e proteção ambiental.
O estado precisa adotar políticas públicas integradas, humanas e eficazes, sob pena de ver uma vantagem econômica se transformar em crise social.
Santa Catarina está diante de uma escolha histórica: liderar o Brasil na integração sustentável de imigrantes ou sofrer os efeitos de um crescimento desorganizado. O futuro dependerá das decisões tomadas agora.
OPINIÃO
A imigração não é o problema – o problema é a falta de gestão pública estruturada para lidar com ela. A migração é uma força natural da humanidade, e não um erro a ser corrigido. O que pode se tornar crítico é a negligência institucional diante de seus impactos.
Se Santa Catarina tiver visão estratégica, poderá se tornar referência nacional em inclusão, planejamento e sustentabilidade. Caso continue tratando o tema com improviso ou invisibilidade, corre o risco de aprofundar desigualdades e tensões sociais. Em resumo: a imigração não é o desafio – a ausência de planejamento, é!
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