Por José Santana – Especial para o portal Folha do Estado SC
Passei parte da madrugada refletindo sobre a guerra comercial e os movimentos políticos das potências globais. Nesta contextualização, aponto os sinais claros de uma mudança de regime global sem precedentes. O multilateralismo de cooperação entre as nações ganha força, unidade e rompe a bolha das redes sociais.
Durante essa reflexão, recebo um link sobre o posicionamento de um alto comissário da ONU ao convidar os BRICS para integrar um movimento chancelado pela instituição. Este gesto, somado à presença de António Guterres na Cúpula do Rio, sinaliza com clareza: a ONU está aberta ao diálogo com o bloco e reconhece sua relevância na reconfiguração da governança global.
Criaturas humanas divinamente inspiradoras, vamos ao que interessa. Quando a ordem muda, o poder se redistribui.
A expressão “Nova Ordem Mundial” já foi usada para descrever alianças militares, tratados econômicos, reorganizações geopolíticas e até distopias de ficção científica. Mas hoje, mais do que nunca, ela ocupa um novo espaço no debate global: o clamor por um sistema internacional baseado na cooperação, no diálogo multilateral e na inclusão dos países historicamente marginalizados. E é justamente aí que mora o desconforto dos autocratas e das potências que se veem ameaçadas em seus privilégios.
Historicamente, momentos de grande transformação – como o pós-Segunda Guerra ou o fim da Guerra Fria – geraram novas formas de organizar o mundo. Agora, no século XXI, essa reorganização é exigida não por uma guerra declarada, mas por uma série de crises interconectadas: climática, tecnológica, econômica e institucional.
Diante disso, líderes como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vêm reforçando em fóruns internacionais a urgência de se reestruturar o sistema global, inclusive por meio de cartas diplomáticas que ecoem a defesa de um mundo multipolar, onde as nações não sejam subalternas, mas protagonistas em suas decisões e caminhos de desenvolvimento.
Uma ordem baseada na cooperação, não na dominação
Ao contrário do que temem os conservadores da velha ordem, a proposta de uma Nova Ordem Mundial não busca eliminar a soberania dos povos, mas sim ampliá-la por meio da cooperação. A governança global do futuro não se constrói com impérios, mas com pontes.
Trata-se de pavimentar as condições para a implementação do autogoverno das nações, ou seja, garantir que cada povo tenha voz ativa e respeitada no cenário internacional, sem imposições externas ou submissão econômica.
Imperialismo moderno: tarifas, bloqueios e sanções. Um novo mundo não se impõe, se constrói.
A Nova Ordem Mundial que está em jogo não é um governo global totalitário, como alardeiam certas teorias da conspiração, mas um esforço contínuo para tornar o mundo mais justo, cooperativo e democrático nas suas relações externas. Porém, o mundo ainda é profundamente marcado por práticas imperialistas, que agora se manifestam por meio de tarifas, sanções econômicas e chantagens diplomáticas. Exemplo disso é a taxação imposta pelos Estados Unidos a países capitalistas e aliados históricos como Brasil, México, Canadá e Europa.
A mensagem é clara: “Ou o seu sistema de justiça e comércio atende às nossas exigências, ou vocês serão sancionados com tarifas, bloqueios e exclusões”.
Esse tipo de postura revela que até as nações amigas se tornam descartáveis quando a lógica imperial não é satisfeita. É o que se vê com sanções unilaterais aplicadas a países como China e Rússia, e de forma injustificável, com a ameaça de taxação de 50% sobre o Brasil, que sequer possui superávit comercial frente aos EUA.
Não há justificativa técnica ou moral para impor sanções dessa natureza a um país deficitário. Trata-se de uma tentativa de coação política e econômica – um imperialismo disfarçado de política comercial.
Os sinais do colapso da hegemonia
Estes sinais são visíveis e se acumulam em ritmo acelerado. A atual ordem mundial dá sinais de esgotamento diante de uma série de eventos que abalam suas estruturas políticas, econômicas e diplomáticas:
- A crise imobiliária nos Estados Unidos, com grandes fundos em colapso e risco de uma nova bolha financeira.
- Os atritos entre nações vizinhas, como EUA e México, Índia e China, Coréia do Norte e Coréia do Sul.
- A “guerra sanitária” da COVID-19, que escancarou a fragilidade da cooperação internacional e a competição por vacinas e insumos.
- A guerra entre Rússia e Ucrânia, que ultrapassa três anos e reativa lógicas de Guerra Fria no coração da Europa.
- O conflito generalizado no Oriente Médio, envolvendo Israel, Palestina, Irã, Líbano e outros países em escalada militar com potencial regional e global.
Tudo isso evidencia que o modelo atual de governança global não consegue mais garantir equilíbrio, segurança e prosperidade para o conjunto das nações. Ele serve a poucos e cobra um preço alto dos muitos que ficaram à margem.
A urgência de uma nova ordem baseada na cooperação
A resistência a esse modelo cresce. A derrocada do imperialismo não tem uma data marcada, mas seus pilares já começam a ruir. Em seu lugar, emerge uma demanda por um sistema multilateral justo, transparente e comprometido com a paz e o desenvolvimento sustentável.
Como bem lembrou o presidente Lula:
“O mundo precisa de mais mesas redondas e menos trincheiras”. É hora de deixar de lado o modelo de dominação e dar lugar à cooperação verdadeira, à soberania real e à justiça entre as nações. A Nova Ordem Mundial não será construída à força – ela será fruto de consciência global, resistência política e reconstrução institucional.
No próximo artigo, vamos destacar alguns exemplos práticos do multilateralismo, com ênfase nos seus impactos políticos, econômicos e sociais, especialmente na redistribuição da renda e na representatividade cooperativa.












