Depois das considerações feitas por Trump sobre Lula após encontro entre ambos na ante-sala do prédio da ONU, o que se espera é que haja uma conversa franca e leal
É difícil prever com precisão o que vai sair desse encontro entre Lula e Trump – especialmente porque há muitos atritos acumulados – mas com base no contexto atual e no histórico dos dois, é possível esboçar alguns cenários plausíveis e expectativas razoáveis. Veja alguns temas concretos que separei e que eles poderão tocar:
CONTEXTO PRÉVIO: JANELA DIPLOMÁTICA
Antes de tudo, é importante considerar que a relação entre Brasil e EUA está bastante tensionada no momento. Recentemente, mesmo com superávit, os EUA impuseram tarifas de até 50 % sobre produtos brasileiros, justificando com críticas ao processo judicial contra o ex-presidente Bolsonaro. O Brasil se programou para reagir com retaliações possíveis, como o uso da lei de reciprocidade e protestos diplomáticos.
Lula já declarou que não se deixará “humilhar” em negociações diretas com Trump, e que não aceitará interferência externa no sistema judicial brasileiro. Esses dois fatores criam um cenário de desconfiança mútua, o que limita o quanto o encontro pode gerar em avanços simbólicos ou práticos.
Por outro lado, há sinais de que Trump deseja usar esse encontro como um “reset” simbólico. Ele mencionou que teve “excelente química” com Lula num breve encontro na ONU e anunciou que vai se reunir com ele na semana que vem. Parece que há avaliações de que os EUA querem “sinalizar” uma reaproximação com países-chave da América Latina, dado o clima geopolítico global. Portando, esse encontro pode servir mais como gesto diplomático do que para resolver grandes divergências já existentes.
TEMAS PROVÁVEIS
Mas, quais os temas que provavelmente vão aparecer na conversa? Até onde eu acho que haverá espaço para entendimento? Pode haver um potencial de consenso como, limites de Comércio e tarifas. É possível ainda que Brasil e EUA retomem negociações para mitigar os efeitos das tarifas, rever isenções, prazos ou termos de reciprocidade etc. Os 50% de tarifa imposta são extremos, mas retirá-las totalmente exigiria concessões fortes dos EUA. É pouco provável que Trump “retroceda” completamente.
Investimentos e cooperação econômica
Podem surgir acordos ou incentivos de cooperação em setores estratégicos como energia, infraestrutura, tecnologia, estilo “ganha-ganha”. A confiança mútua está baixa. O Brasil exigirá garantias antes de aceitar condições americanas que pareçam desfavoráveis.
Meio ambiente Amazônia e clima
Esse é um terreno com potencial para cooperação: o Brasil pode querer apresentar compromissos de preservação florestal, enquanto os EUA querem credibilidade ambiental. A veracidade dos compromissos será cobrada de perto. Lula precisará mostrar ações concretas. Trump, por outro lado, tem histórico de reversão em políticas ambientais, o que gera desconfiança.
Nas questões jurídicas e na soberania, Lula vai insistir que o judiciário brasileiro é independente e que o caso Bolsonaro é interno – ele também irá rejeitar interferência externa. Trump já apontou o processo contra Bolsonaro como “caça ás bruxas”. Esse será um ponto de conflito difícil de “apaziguar”. Mas vai que…
Segurança, migração e cooperação internacional
Podem negociar cooperações em fronteiras, combate ao crime organizado, tráfico etc., temas geralmente mais pragmáticos e menos ideológicos. Mesmo aqui, discordâncias nos métodos, nos interesses estratégicos e na linguagem política podem limitar acordos profundos.
Minha avaliação é que eles podem se “entender” em alguns pontos mais pragmáticos, como criar uma agenda de trabalho, anunciar grupos de diálogo, “suspender” escaladas de retórica forte, mas dificilmente sairão com um grande pacto onde ambos cedem muito. Mais provável é que cada lado faça “gestos simbólicos” e marque posição, sem compromissos dramáticos.
E aqui um último palpite: Se eu tivesse que apostar eu diria que o encontro será relativamente breve e mais simbólico do que substantivo. Eles provavelmente anunciarão a formação de comitês bilaterais nas áreas do comércio, meio ambiente, tecnologia, para resolver discordâncias no médio prazo. Pode haver concessões menores, como revisar tarifas específicas ou isentar certos produtos, mas nada que acabe com as fontes de tensão existentes no momento – especialmente no tema dos processos judiciais internos do Brasil e na interferência externa percebida. And Game Over!
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Por L. Pimentel