ARTIGO: SILAS MALAFAIA, UM PASTOR EVANGÉLICO QUE MISTURA RELIGIÃO COM POLÍTICA

Um pastor pode ter seu lado político, o que não pode é se aproveitar disso para outras finalidades

O pastor Silas Malafaia é, sem dúvida, uma das figuras religiosas mais midiáticas e polêmicas do Brasil. Ao longo dos anos, ele construiu uma trajetória marcada pelo forte posicionamento político e pela utilização da sua visibilidade como líder religioso para intervir diretamente em debates partidários e eleitorais. Embora se apresente como representante da fé evangélica, Malafaia frequentemente extrapola a esfera espiritual, assumindo o papel de ator político que busca influenciar rumos país afora.

O problema central está na confusão deliberada entre religião e política partidária. A fé, em seu sentido genuíno, deveria se dedicar a valores universais como solidariedade, ética, respeito e espiritualidade. No entanto, Malafaia, muitas vezes recorre à autoridade de pastor para justificar opiniões e alinhamentos estritamente políticos, aproximando-se de determinados grupos e candidatos e transformando sua atuação pastoral em instrumento de poder. Essa fusão gera distorções, pois coloca fiéis em uma posição de pressão psicológica. Seguir a religião não pode ser confundido com seguir um projeto político específico.

Outro ponto que chama atenção é o uso de uma linguagem chula. Malafaia é conhecido por declarações ríspidas, ataques pessoais e até mesmo pelo uso de palavrões – comportamento bastante destoante daquilo que se espera de um líder religioso. A Bíblia, que ele próprio cita como fundamento, prega mansidão, amor ao próximo e domínio da língua. O contraste entre discurso e prática revela uma contradição que mina sua autoridade moral e alimenta a crítica de que, em muitos momentos, ele age mais como político inflamado do que como pastor.

É claro que líderes religiosos têm direito à opinião política. Isso faz parte da democracia. Contudo, quando esse direito é usado de forma agressiva, ofensiva e marcada por interesses eleitoreiros, ele deixa de ser um exercício legítimo da cidadania para se tornar um mecanismo de manipulação de massas. Nesse contexto, Malafaia reforça a imagem de que parte do segmento religioso brasileiro não busca apenas a evangelização, mas sim poder político, influência econômica e espaço nos altos escalões da República.

Por isso, Silas Malafaia é alvo de críticas tanto de adversários políticos quanto de religiosos que defendem uma fé mais centrada na espiritualidade do que nas práticas políticas. Sua postura mostra como o Brasil ainda enfrenta o desafio de separar com clareza o que é púlpito e o que é palanque, o que é mensagem de fé e o que é campanha eleitoral.

Neste final de semana foram explanadas dívidas do pastor com o INSS e com o Fisco. Esse é um ponto muito delicado e revelador. Quando um líder religioso como Silas Malafaia, que se apresenta como defensor da moralidade, da família e da honestidade, aparece envolvido em dívidas com o fisco ou em questionamentos de ordem financeira, cria-se uma enorme contradição entre o discurso e a prática.

A situação se torna ainda mais grave porque ele não é apenas um pastor, mas alguém que faz política ativa, que patrocina protestos e se coloca como voz da moralidade pública. Se de um lado ele critica governos, instituições e adversários políticos com veemência, de outro, ao ter pendências financeiras com a União, perde legitimidade para falar em “ética” e “retidão”.

A dívida com o fisco – seja em seu nome pessoal ou ligada a suas instituições religiosas e empresariais, joga luz sobre um problema recorrente: o de líderes que usam o manto da religião para se blindar de cobranças e críticas. Isso mostra que, muitas vezes, a retórica de “defesa da fé” serve como escudo para práticas questionáveis.

O mais preocupante é que, ao mesmo tempo em que Malafaia convoca fiéis para manifestações e cobra honestidade de políticos e do STF, ele próprio deixa de cumprir com o dever básico de qualquer cidadão ou instituição, que é pagar os impostos devidos. O contraste é evidente, pois como exigir moralidade dos outros se não pratica dentro de casa aquilo que prega?

Em resumo, a dívida com o fisco, com o INSS, não é apenas um detalhe administrativo, ela reforça a percepção de que o discurso de Malafaia é seletivo e malicioso, servindo mais a seus próprios interesses políticos e financeiros do que à espiritualidade ou à ética que deveriam nortear sua missão pastoral.

L. Pimentel 

Redação
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