Bolsonaro desdenha de prisão após denúncia da PGR e solicita prazo estendido para defesa
Investigações recentes apontam que o general da reserva Walter Braga Netto desempenhou um papel central na organização e financiamento de acampamentos em frente a quartéis militares, onde manifestantes questionavam a legitimidade das urnas eletrônicas e clamavam por intervenção militar. Segundo delação do tenente-coronel Mauro Cid, Braga Netto manteve contato direto com empresários do agronegócio para estruturar, fomentar e financiar a infraestrutura desses movimentos.
Em depoimento ao ministro Alexandre de Moraes, Cid revelou que participou de uma reunião na residência de Braga Netto em novembro de 2022, na qual foram discutidas estratégias para gerar instabilidade social que justificasse medidas excepcionais por parte do então presidente Jair Bolsonaro. O general teria concordado com a necessidade de ações que provocassem grande instabilidade no país.
Além disso, a Polícia Federal apreendeu arquivos que indicam a participação de Braga Netto na arrecadação de recursos para os acampamentos. Os documentos contêm códigos e senhas relacionados à captação de fundos destinados a sustentar as manifestações. As investigações apontam que o general atuava como um dos principais articuladores entre o governo Bolsonaro e os manifestantes, coordenando e mobilizando apoiadores, inclusive com o direcionamento de recursos financeiros.
BOLSONARO PRESSIONOU POR RELATÓRIO DE FRAUDE NAS URNAS, MAS AS FORÇAS ARMADAS NÃO ENCONTRARAM IRREGULARIDADES
Ainda segundo a delação de Mauro Cid, Bolsonaro pressionou o Ministério da Defesa a produzir um relatório que apontasse supostas fraudes nas urnas eletrônicas. No entanto, após uma investigação detalhada, as Forças Armadas não encontraram nenhuma irregularidade no sistema de votação.
Cid afirmou que Bolsonaro insistia para que o relatório final do Exército apontasse falhas que justificassem suspeitas sobre o processo eleitoral. Porém, mesmo após uma busca intensa por indícios de fraude, os militares não conseguiram encontrar qualquer irregularidade.
– Mesmo após uma busca intensa por indícios de fraude, não encontramos qualquer irregularidade no sistema eleitoral – afirmou um oficial das Forças Armadas.
Diante da pressão política, o documento produzido pelo Ministério da Defesa teria sido um “meio-termo” entre as exigências do ex-presidente e os resultados técnicos da investigação conduzida pela equipe do então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira.
A declaração de Mauro Cid reforça as conclusões de outras instituições, como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o próprio Exército, que não identificaram qualquer evidência de manipulação das urnas eletrônicas. As eleições de 2022 foram amplamente monitoradas e auditadas, com participação de especialistas e observadores independentes.
BOLSONARO DESDENHA DE POSSÍVEL PRISÃO APÓS DENÚNCIA DA PGR
Em sua primeira manifestação pública após a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR), o ex-presidente Jair Bolsonaro minimizou a possibilidade de ser preso. Durante o Primeiro Seminário de Comunicação do Partido Liberal (PL), realizado em Brasília, Bolsonaro declarou: “O tempo todo [é] vamos prender o Bolsonaro. Caguei para a prisão”.
A DECLARAÇÃO FOI RECEBIDA COM APLAUSOS PELOS PRESENTES
A denúncia da PGR acusa Bolsonaro de liderar uma trama golpista em 2022, incluindo crimes como liderança de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. As penas somadas podem chegar a 50 anos de prisão.
Bolsonaro afirmou estar com a “consciência tranquila” e alegou que as acusações são baseadas em “narrativas”. Ele ironizou a denúncia, dizendo: “Investiram pesadamente agora nessa última: golpe”.
O ex-presidente também enfatizou não ter “obsessão pelo poder”, mas sim “paixão pelo Brasil”.
DEFESA DE BOLSONARO SOLICITA PRAZO ESTENDIDO PARA APRESENTAR RESPOSTA À DENÚNCIA
Após a denúncia da PGR, a defesa de Bolsonaro solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um prazo de 83 dias para apresentar sua resposta. Os advogados argumentam que o tempo é necessário devido à complexidade do caso e ao volume de provas envolvidas. Alegação: “A complexidade do caso requer uma análise aprofundada de cada evidência”, justificaram os advogados ao pedir o prazo estendido.
Além disso, destacaram que a PGR levou o mesmo período para analisar os autos e formular a denúncia. No entanto, o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no STF, negou o pedido e manteve o prazo legal de 15 dias para a apresentação da defesa. Moraes ressaltou que os advogados devem organizar-se para cumprir o prazo estabelecido, garantindo o andamento célere do processo. (Ontem mesmo o pedido foi negado pelo ministro Alexandre Moraes).
PRISÃO DE BRAGA NETTO E INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO
Diante das evidências, Braga Netto foi preso em dezembro de 2024, acusado de obstruir investigações relacionadas à tentativa de golpe de Estado. A ordem de prisão, emitida pelo ministro Alexandre de Moraes, destacou que o general tentou impedir o avanço das investigações da Polícia Federal. Os agentes identificaram que Braga Netto liderava dois núcleos investigados: um responsável por incitar militares a aderirem ao golpe e outro formado por oficiais de alta patente que estimulavam ações para consumar o golpe.
As revelações feitas por Mauro Cid são parte de um amplo inquérito que apura tentativas de descredibilização do sistema eleitoral e o planejamento de medidas golpistas por parte do governo anterior. A investigação segue em andamento, podendo resultar em novos desdobramentos nas próximas semanas.
Estamos acompanhando os desdobramentos do caso e o processo e qualquer nova informação será atualizada para nossos leitores e colaboradores.
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Por L. Pimentel – Jornalista











