Quando pensar se torna um ato de rebeldia
Gandhi venceu um império com empatia e silêncio. No Brasil polarizado de hoje, será que aprendemos algo? Vivemos uma era em que pensar virou resistência. E não porque o mundo esteja mais complexo – mas porque muitos preferem a segurança de uma mentira confortável à inquietação de uma verdade incômoda. O fanatismo, de qualquer natureza, é isso: a renúncia voluntária ao pensamento crítico em troca de uma identidade pronta, de um inimigo comum e de uma certeza sem dúvidas.
Na edição anterior, com ironia e uma pitada de desespero cívico, comparamos o nível de consciência de extremistas ao de uma azeitona. A metáfora não era gratuita. A azeitona, ainda que pequena, vem de uma árvore que nutre. Já o extremismo não nutre: envenena. Ele não transforma: fossiliza. Tira do indivíduo a dúvida, o debate, a empatia – e o entrega, de bandeja, ao delírio da certeza absoluta.
O fanático não ouve, apenas aguarda a vez de falar. Não pensa, repete. Não questiona, obedece. Está sempre em guerra – mesmo quando não há batalha alguma além da que trava contra a própria capacidade de escutar o outro. E o mais alarmante: o fanatismo tem se infiltrado não apenas em templos e palanques, mas também em universidades, redações e algoritmos.
A grande tragédia do fanatismo é que ele transforma cidadãos em militantes de ideias vazias. Reduz a política a torcidas, a moral a rótulos, e a convivência social a trincheiras digitais. Já não se debatem ideias – atacam-se pessoas. Já não se exige justiça – exige-se vingança.
Enquanto isso, os que tentam dialogar são tachados de isentos, frouxos ou traidores. A moderação virou ofensa. A dúvida virou fraqueza. E pensar, hoje, é quase um ato subversivo.
Mas resistir é necessário. O pensamento ainda é nossa última linha de defesa contra a barbárie. E, por mais que o fanatismo grite, a verdade não precisa gritar de volta. Ela apenas resiste – como uma raiz silenciosa que um dia voltará a florescer.
Se a democracia deve sobreviver, será nas mãos de quem ainda tem coragem de duvidar, de perguntar, de ouvir. Porque, diante de uma mente de pedra, pensar ainda é o golpe mais radical.
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Por José Santana











