Segundo Lula: ‘Em poucos dias teremos uma solução definitiva entre EUA e Brasil’

Presidente do Brasil dá entrevista coletiva durante a 47ª Cúpula da Associação das Nações do Sudeste Asiático em Kuala Lumpur

O presidente Lula afirmou estar “convencido” de que “em poucos dias” haverá um acordo definitivo entre Estados Unidos e Brasil sobre a taxação imposta pelo governo americano às exportações brasileiras. Lula falou em tom otimista após encontro com o presidente dos EUA, Donald Trump. O presidente disse que teve uma “boa impressão de que logo, logo não haverá problema entre os EUA e Brasil”.

– Se depender do Trump e de mim, vai ter acordo – afirmou. Presidente disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fará parte das negociações com os Estados Unidos, ao lado do chanceler Mauro Vieira e do vice-presidente e ministro do do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Segundo Lula, Trump se comprometeu a fazer um acordo de qualidade com o Brasil. O petista disse ter feito questão de não deixar dúvidas a Trump sobre quem ele é, de onde veio e o que pensa. “Somente quando a gente se conhece é que a gente pode passar a respeitar ou não as pessoas”, acrescentou.

Embora ele [Trump] não tenha feito promessa, ele garantiu que nós vamos ter acordo. Acho que vai mais rápido do que muita gente pensa. E vai depender do Brasil também. Nós não somos um bebê que tem que ficar esperando nos chamarem. Nós temos interesse e temos que ir atrás dos EUA.

“Ninguém gosta de lambe-botas. Ninguém gosta de puxa saco, de vassalo, aquele lambe-lambe. A gente tem que ser o que a gente é de verdade. Eu acho que é isso que pintou entre eu e o presidente Trump. Espero que essa química dê frutos ao povo brasileiro e ao povo americano”.

                        Lula

Expectativa é que o petista participe de reunião na semana que vem em Washington. “Ele [Trump] me disse que está com vontade de vir para o Brasil. Eu disse para ele que estou à disposição para ir a Nova York e Washington”, acrescentou Lula.

Ainda durante encontro na Malásia, brasileiro disse ter entregado a Trump documento com temas que pretende abordar nas negociações. Entre eles, a aplicação da Lei Magnitsky ao ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, e o acirramento das tensões entre os EUA e a Venezuela.

Lula também falou que o Brasil não tem preferência por países, mas não quer um conflito entre EUA e China. Ele destacou que a China é o maior parceiro comercial do Brasil e que deseja manter uma “belíssima” relação com ambos os países.


EUA X VENEZUELA

Petista disse ter mencionado a questão da Venezuela com Trump. Segundo o brasileiro, ele propôs uma mesa de negociação entre os dois países e se colocou à disposição para contribuir com eventuais conversas. O embate tem escalado, principalmente após o governo Trump confirmar ter autorizado a CIA, agência de inteligência dos EUA, a conduzir operações secretas na Venezuela.

Lula declarou conhecer a situação da Venezuela. Por isso, sugeriu ao republicano participar das negociações.

“Eu acho que é possível encontrar uma solução na Venezuela se houver disposição de negociação e também porque o Brasil tem interesse que não haja uma guerra na América do Sul. A nossa guerra é contra a pobreza, contra a fome. (…) Vamos colocar uma mesa de negociação, o Brasil tem disposição de ajudar nisso. O que não dá é achar que tudo é resolvido na base da bala, o que não é”.

Lula

– Queremos manter a América do Sul como zona de paz – declarou o presidente. “Disse para ele [Trump] que é extremamente importante levar em conta a experiência que o Brasil tem como maior país da América do Sul e tem como vizinho quase toda a América do Sul”, ressaltou.

ACORDO DEVE SAIR NAS PRÓXIMAS SEMANAS

Trump orientou suas equipes a fechar um acordo comercial com o Brasil sobre o tarifaço nas “próximas semanas”. A informação foi divulgada hoje por Márcio Rosa, secretário-executivo do MDIC.

Secretário afirmou ter reiterado ontem aos norte-americanos que a taxação ao Brasil precisa ser revertida. Ele argumentou que as medidas são baseadas em motivos improcedentes e inadequados. Rosa afirmou que o presidente Lula também repetiu os argumentos contra a taxação a Trump durante a reunião bilateral.

Nas próximas semanas, uma equipe brasileira deve ir a Washington para continuar as conversas com o governo Trump.

O Brasil solicita que haja reversão da decisão política tomada [para a taxação]. Os aspectos políticos que poderiam existir não estão mais na mesa, aquilo que nunca poderia ter estado mesmo, como o senhor [Lula] sempre colocou. Graças a essa posição, hoje nós fazemos a discussão de um acordo comercial.

MÁRCIO ROSA, SECRETÁRIO-EXECUTIVO DO MDIC

Rosa disse que discussões com os EUA estão “avançando espetacularmente bem”. Ele comparou o avanço dos diálogos em comparação com os últimos dias e afirmou que isso se deve ao compromisso assumido pelos norte-americanos, inclusive publicamente.

LULA E TRUMP CONVERSARAM POR 50 MINUTOS

Lula e Trump se encontraram em Kuala Lumpur, na Malásia, no domingo (26). Os dois participam da cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático). Para jornalistas, Lula afirmou não querer “qualquer desavença com os EUA” e que “não há motivo para qualquer conflito entre Brasil e EUA”.

Trump deixou aberta a possibilidade de “trabalhar em acordos” – se referindo às tarifas impostas ao Brasil. “Em relação às tarifas impostas ao Brasil, acho que tudo é justo. Tenho muito respeito pelo seu presidente, tenho muito respeito pelo Brasil. Vamos trabalhar em acordos”.

Além disso, Trump disse ser uma “grande honra” estar com Lula. “Acho que eles estão indo muito bem até onde sei. Podemos fazer bons acordos para ambos os países. Acho que nós faremos acordos. Conversamos e acho que teremos um bom relacionamento”.

Pauta a ser discutida com os Estados Unidos será “longa”, disse Lula após o encontro. “Na hora que dois presidentes sentam em uma mesa e colocam seu ponto de vista, a tendência natural é se chegar a um acordo. Estava muito otimista na manutenção mais civilizada possível entre Brasil e Estados Unidos. Tenho uma longa pauta para discutir com os Estados Unidos”.

– Reunião parecia impossível – disse Lula. “O presidente Trump teve que viajar 22h dos Estados Unidos para a Malásia, e eu tive que viajar 22 horas do Brasil para a Malásia. E nós conseguimos fazer uma reunião que parecia impossível do Brasil com os Estados Unidos aqui na Malásia – comemorou o presidente, ao se dizer “feliz” com o encontro, na abertura de uma reunião empresarial entre Malásia e Brasil.

ENCONTROS SÃO ESTRATÉGICOS PARA RELAÇÃO ENTRE OS PAÍSES

Relação entre os países ficou estremecida após sanções e tarifas impostas pelos EUA. Com articulação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), o país anunciou sanções contra autoridades e aumentou as taxas sobre produtos importados do Brasil.

Inicialmente Brasil havia sido submetido a uma taxação de 10%. Quando anunciou a nova política de tarifas sobre produtos importados, em abril deste ano, este valor foi o mínimo imposto por Trump a outros países.

Avanço do julgamento da trama golpista no Brasil motivou aumento na taxa. Em julho, taxação sobre produtos brasileiros passou a 50%. A justificativa foi que ações do governo brasileiro prejudicavam “empresas americanas e os direitos de liberdade de expressão de cidadãos americanos”.

No mesmo mês, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes foi sancionado com a Lei Magnitsky. Antes, Moraes, sete outros ministros e o procurador-geral da República, Paulo Gonet, já tinham tido seus vistos americanos cancelados.

Condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro também motivou sanção. Desta vez, a lei Magnitsky foi aplicada à esposa de Alexandre de Moraes, a advogada Viviane Barci de Moraes, e ao instituto Lex, ligado à família.

Governo brasileiro disse que não aceitaria interferência. Mauro Vieira afirmou que soberania brasileira “não é moeda de troca diante de exigências inaceitáveis”.

Lula chegou a autorizar reciprocidade. Aplicação de tarifas recíprocas pelo Brasil foi comunicada aos Estados Unidos, mas não chegou a entrar em vigor.

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Texto: Nelson de SáColunista do UOL, em Kuala Lumpur (Malásia)

Foto: ARIF KARTONO/AFP

 

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