CONTO: THOMAS, O CURIÓ QUE PREFERIA O SILÊNCIO

Uma história sobre Curiós…

Num brejo encantado, desses que parecem ter saído de um sonho – com sapinhos que vivem de papo, folhas que flutuam tranquilas na água e nuvens que brincam com o espelho do céu – morava uma alegre comunidade de curiós.

Todos os dias começavam com o sol se espreguiçando no horizonte e os pássaros afinando os bicos:

-Fiu-fiu-trrilííí!
-Triló-triúúú!

Era uma festa de notas e melodias! Cada curió tentava ser o mais afinado, o mais encantador, o mais curió entre todos.

Menos Thomas.

Thomas era diferente. Suas penas tinham um brilho calmo, como manhãs serenas, e seus olhos pareciam ver além do que se mostrava. Mas cantar? Isso nunca fez parte dele.

– Vamos, Thomas, junte-se a nós! – dizia com carinho Dona Prupru, a curió mais velha, que era a regente da bandinha do brejo.

– Não é pra mim… – ele respondia, quase sussurrando, como quem solta um segredo no vento.

Os outros cochichavam:

– Um curió que não canta? Como uma estrela que não brilha!

O que ninguém sabia – nem mesmo Thomas, no começo – era que ele não cantava porque tinha dificuldade de respirar. Seu peito vivia apertado, e o ar parecia fugir sempre que ele tentava algo além do silêncio.

Mas Thomas encontrou outro jeito de pertencer. Ele cuidava dos filhotes. Trazia alimento, aquecia os pequenos com seu corpo, protegia com suas asas, mesmo quando estavam cansadas.

Enquanto o resto cantava para o alto, Thomas cuidava da vida bem de perto, ali no chão.

Com o tempo, passaram a respeitá-lo. Não como cantor, mas como alguém essencial. Um guardião.

Mas os anos passaram, como folhas levadas pelo vento, e Thomas envelheceu. Suas asas já não aqueciam, seus olhos perderam o brilho curioso. E aquele canto que nunca existiu… parecia fazer ainda mais falta.

Ele ficou no ninho, quieto, olhando o nada, como quem vai se despedindo aos poucos.

Foi aí que apareceu a Fada Blue.

Pequenina, cintilante, com asas da cor do céu, ela era a protetora invisível do brejo. Ao ver Thomas tão quieto, pousou perto dele, leve como a brisa.

– Bom dia, Thomas… Por que tanta tristeza nesse olhar?

Com esforço, ele respondeu, o peito arfando como se carregasse o mundo:

– Já não consigo cuidar dos pequenos… nem voar. Parece que tudo que eu era foi ficando pra trás.

Blue sentiu o coração apertar. Sabia o quanto aquele curió silencioso tinha sido importante para todos.

Sem pensar duas vezes, tirou uma pequena semente dourada de sua bolsinha mágica.

– Coma esta semente. Ela é especial. Só funciona em corações que sabem amar, mesmo no silêncio.

Thomas aceitou. Engoliu devagar. Um calor suave tomou conta de seu corpo, e ele adormeceu como se estivesse abraçado pelo tempo.

Na manhã seguinte, quando o primeiro raio de sol tocou o brejo, Thomas abriu os olhos. Sentia-se leve. Forte. Vivo como nunca.

E então… cantou….

Mas não foi qualquer canto. Era cheio de tudo que ele viveu em silêncio: histórias, amor, cuidado. Sua voz fazia as folhas tremerem, os sapos se calarem e as borboletas dançarem no ar.

Todos pararam para ouvir. Nunca se tinha escutado algo tão bonito.

Thomas voltou a voar. Voltou a cuidar dos ninhos. E agora, fazia tudo isso cantando – como se, finalmente, o amor que ele guardou por tanto tempo tivesse achado o caminho da voz.

Desde então, dizem que, nas manhãs em que a névoa dança devagar, dá pra ouvir seu canto bem longe… onde nem os curiós mais ousados costumam ir.

Porque o amor dado em silêncio, um dia canta alto. E quem cuida com o coração… nunca é esquecido.

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Por Dr. Virgílio Galvão

De Brasília

 

Redação
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Portal do notícias Folha do Estado especializado em jornalismo investigativo e de denúncias, há 20 anos, ajudando a escrever a história dos catarinenses.
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