ARTIGO: RECORDAR É VIVER
Por L. Pimentel
Os mais antigos se lembram, ou pelo menos ouviram falar: Conta a história que Getúlio Vargas, quando era presidente, por várias vezes flertou com os nazistas, mas acabou se unindo aos aliados. Que ele comemorou a tomada de Paris por Adolf Hitler, mas acabou cedendo bases militares no norte do País aos americanos. Conta-se que certa vez ele recebeu um político que se queixou de um adversário, no que Getúlio lhe disse que tinha razão. Outro dia, veio o adversário, e falou mal do primeiro. Getúlio também lhe deu razão. Alzira, sua filha e secretária, não entendeu a atitude do pai e reclamou: “Pai, um falou contra o outro e você deu razão a ambos!” Resposta de Getúlio: “Você tem razão”.
Cada um com seu cada um…
É possível administrar assim – mas, Getúlio, uma figura histórica, sempre se mostrou ser um verdadeiro mago da política brasileira, o que Lula vem alcançando, mas Bolsonaro não conseguiu, aliás, não chegou nem perto. O incessante tiroteio entre seus aliados atrapalhou sua atrapalhada gestão. Seu filho Carlos, o number two, brigou com Bebianno, lembram? (que faleceu logo depois, dizem que de desgosto – sei não!), com o vice Mourão (chegando a insinuar que pessoas próximas ao presidente queriam sua morte), o number two pôs no YouTube do pai um vídeo em que o escritor Olavo de Carvalho – lembram dele? – insultava militares com palavras chulas. Dizem que Bolsonaro mandou retirar o vídeo à época, mas o número 02 compartilhou. Bolsonaro fez leve advertência a Carvalho, dizendo que ele era um patriota, mas suas palavras não estariam contribuindo para ajudar o Governo. Mas o mito nada falou sobre o uso de seu YouTube pelo filho. Os militares pediam algo bem leve, mas não conseguiram: algo como “o filho tem direito à opinião, que nem sempre reflete a do pai”. Bolsonaro, mais que nunca, estava convencido de que a militância virtual do filho 02 foi essencial para elegê-lo. E game over. Só mais tarde se viu que o jogo ainda não havia acabado…
REAÇÃO OU SUBMISSÃO?
Para os que gostam de fofoca política, as divergências entre os homens da caserna e Olavo de Carvalho – este com apoio de Carlos 02 – foi um ótimo divertimento. Antes de sua morte, Carvalho garantia que desde Euclides da Cunha, autor de Os Sertões, os militares se limitavam a impostar a voz, pintar os cabelos e usar próteses penianas. Em contrapartida, o vice Hamilton Mourão (inclusive) sugeriu que Carvalho voltasse a confeccionar seus horóscopos, no que, ressaltou, o escritor era competente. Esse Carvalho (que não era a árvore) já havia sugerido a Bolsonaro que nomeasse seus três filhos políticos como ministros de seu governo. Carlos considerava Carvalho o único responsável pela série de vitórias conservadoras em eleições latino-americanas. E Carvalho responsabilizava os militares por entregar o país aos comunistas. No entanto, sobre quando houve a derrocada do liberal Macri, na Argentina, nenhum comentário seu se ouviu! Era ou não era um governo do “faz de conta”?
POR AQUI, FALA-SE POR FALAR
E por falar em comunistas, alguém aí já imaginou um diálogo entre o ex-presidente Médici e seu ministro comunista Delfim Netto (sim, Delfim aparece na lista de comunistas dos mais radicais), a respeito da entrega do país aos comunistas de carteirinha, como Tancredo Neves, José Sarney e outros líderes vermelhos? Aqui no Brasil as pessoas falavam por falar, poucos eram os que pesquisavam. Chutavam, concordavam ou discordavam sem saber com quem estaria a verdade. Mas, àquela época éramos verdadeiras “Marias que íamos com as outras”! Não estávamos nem aí…
A sorte do governo de então e de governos anteriores é que a oposição (que sempre se dizia atuante) também não conseguia se unir, ficando sempre amarrada à palavra de ordem: “Lula livre”, quando este ainda estava preso em Curitiba. Até poderiam atingir esse objetivo, mas, esquecendo o principal que era opor-se ao Governo capenga que chafurdava aqui e ali. Isso em todos os partidos. Quando a oposição se manifestava, era de maneira estranha. Lembremos o caso de Tarso Genro, petista no último, ministro de Lula por três vezes, ex-governador gaúcho, professor universitário etc. Tarso disse certa vez que o ex-presidente peruano Alan García, ao suicidar-se no momento em que era preso sob a suspeita de corrupção, “deu exemplo de dignidade”. Motivo: “Recusou submeter-se às execuções sumárias pelos juízes treinados pela CIA para fulminar o Estado de Direito na América Latina”. Estaria Tarso achando que Lula, ao manter-se vivo até então, não teria dignidade? Por aqui, fala-se apenas por falar. Hoje, os que acreditaram que Lula voltaria estão rindo à toa! Quem não acreditava… bem, esses estão cada dia vendo a vaca ir pro brejo!
INFLAÇÃO PODERIA DESCAMBAR
Em certa época, após contatos diretos com membros do governo, segundo comentavam dirigentes de várias facções políticas e de caminhoneiros, estaria afastada a hipótese de greve da categoria. Óbvio: se conseguiram tudo o que pediram, sem precisar da greve, por que a fariam? Mas o problema viria. Mesmo porque, como as autoridades iriam fiscalizar o preço mínimo do frete, se o assunto era tratado sempre entre contratador e contratado, sem testemunhas? E, se a alta do petróleo fosse mantida, como evitar isso? E se a inflação desse as caras de novo? Ah! Essa o povo absorveria… pensavam os membros do antigo governo. Que o digam o arroz, o feijão, o leite e a carne…! Tudo estava pela hora da morte! Mas lá em Brasília, era um verdadeiro festival. Aliás, festival não…Bacanal! Depois vieram os colares, os rolex, as pedras preciosas, o ouro do garimpo ilegal, o nióbio… O nióbio? Mas este não era o “mote” do então presidente? Ele não dizia que o Brasil ficaria rico com a extração do minério? Acho que esqueceu ou, viu que não daria resultado… pra ele! Claro!
Felizmente os anos das vacas magras já passaram. Agora, estamos acreditando que as vacas gordas nos ajudarão a sair do atoleiro… como ocorreu no Antigo Egito depois das profecias de José! Mas não esqueçamos, as pedras continuam por aí, elas ainda não saíram definitivamente do nosso caminho!
