Após 19 dias de negociações em Viena, na Áustria, o Irã e um grupo de potências liderado pelos Estados Unidos chegaram a um histórico acordo sobre o programa nuclear iraniano nesta terça-feira 14. O acerto segue a linha do texto preliminar anunciado em abril: as sanções econômicas impostas ao Irã serão retiradas em troca de uma série de medidas que impedem o regime iraniano de construir um arsenal nuclear. O acordo anunciado não deve ser entendido como o ponto final na disputa envolvendo os EUA e o Irã. Ele é, na realidade, o primeiro passo de uma nova era no Oriente Médio, marcada por uma concessão dos EUA, o reconhecimento do Irã como potência regional, expresso na própria importância dada às negociações, mas também pela tentativa de Washington de garantir sua posição hegemônica no Oriente Médio, algo que só pode ser assegurado pela manutenção da região como uma zona livre, ou quase livre por conta de Israel, de armas nucleares. O principal desafio desta empreitada, iniciada por Obama, mas que ficará como legado a seus sucessores na Casa Branca, é a aceitação da nova realidade pelos aliados regionais dos EUA no Oriente Médio, nomeadamente Israel e a Arábia Saudita. A preocupação ficou patente nos discursos de Obama e de seu secretário de Estado, John Kerry. Obama enfatizou o fato de o acordo ter imposto parâmetros aferíveis ao Irã a respeito de temas como o tamanho dos estoques de combustível nuclear e o número de centrífugas do país, entre outros aspectos. O temor de israelenses e sauditas é que o Irã, com uma economia pujante, amplie ainda mais sua atuação na disputa por poder no Oriente Médio. Na Faixa de Gaza, no Líbano, no Iêmen, no Bahrein, na Síria e no Iraque o Irã se opõe a Israel ou à Arábia Saudita, e, às vezes, aos dois ao mesmo tempo. Com mais dinheiro, o regime dos aiatolás terá ainda mais condição de marcar sua presença.